Projeto fotográfico destaca a participação dos amazônidas no equilíbrio da natureza

‘A Margem do Rio’ é um projeto idealizado pelo fotógrafo amazonense Beto Oliveira com intuito de resgatar a herança dos povos ancestrais que habitaram na Amazônia.

Os povos indígenas e quilombolas são responsáveis por diversas contribuições que possibilitam o equilíbrio ambiental, como a conservação, cultivo de plantas medicinais, artesanato, cerâmicas, gravuras, entre outros. Essas contribuições foram heranças dos povos ancestrais que habitaram a Amazônia.

‘A Margem do Rio’ é um projeto idealizado por um fotógrafo amazonense que, por meio dos seus registros, torna-se um dos responsáveis por resgatar a herança e protagonismo dos povos amazônicos. 

Portal Amazônia conversou com Beto Oliveira, fotógrafo documentarista, idealizador do projeto, para saber como essa herança o inspirou.

Diversos estudos arqueológicos ressaltam a importância dos povos indígenas ancestrais na modificação da floresta, especialmente no cultivo de plantas e frutos locais. Além disso, a Amazônia sempre se revelou um abrigo para os sítios arqueológicos considerados patrimônios da humanidade.

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Em 2021, foi publicado um artigo na revista científica britânica Nature Communications, que revelou sobre a fertilidade encontrada nas terras amazônicas. O artigo revelou que durante período pré-colonial, os indígenas aplicaram métodos de compostagem, que resultaram na formação das terras pretas. Essa descoberta contribuiu para a quebra do paradigma de que o solo amazônico era considerado um local pobre e impossibilitado de gerar alimentos.

Para quebrar esses estereótipos e resgatar a contribuição dos povos indígenas e quilombolas originários, o projeto ‘A Margem do Rio’ foi idealizado com o intuito de destacar o cuidado dos povos amazônicos no cultivo e equilíbrio ecológico da Amazônia nos dias atuais.

O projeto ainda está em andamento, mas boa parte tem sido desenvolvida na região do Baixo Tapajós, no Pará. 

“Eu comecei fotografando minha família, que vive em uma comunidade no interior do Pará. Ouvindo as histórias e percebendo os modos de vida lá, comecei a questionar o que mantinha a floresta em pé. Eu aproveito sempre o momento do final do ano, quando eu e minha família vamos pra Santarém, de lá pegamos uma balsa, depois estrada e chegamos na passagem. Essa viagem eu faço desde que nasci. Esse último final de ano consegui fotografar o processo de fazer farinha na região. A minha família infelizmente é uma das últimas da comunidade que continuam fazendo farinha”,

revelou Beto ao Portal Amazônia.

Foto: Cedida/ Beto Oliveira

O principal intuito do projeto é catalogar e documentar as atividades que fazem parte do cotidiano dos povos amazônicos. O fotógrafo também explicou que existiam diversos estudos arqueológicos contando a história dos povos na região, mas poucos registros fotográficos valorizando o manejo do solo ou as técnicas de cultivo do plantio dessas comunidades.

Assim, no projeto, surgiu a frase “a Amazônia foi plantada” como ponto de partida para todos os registros feitos por Beto. “No meu ponto de vista a afirmação pode ser resumida na importância dos povos amazônicos na construção do bioma da Amazônia. Existem diversos estudos, artigos das ciências sociais, arqueológicos que mostram vestígios de cerâmicas e utensílios criados há muitos anos atrás. Também existem pesquisas sobre a terra preta que é uma terra que foi misturada com vários compostos orgânicos feitos pelas mãos de povos antigos e essa manipulação das terras fez com que acontecessem muitos plantios ao longo da Amazônia”, esclareceu o fotógrafo.

Foto: Cedida/ Beto Oliveira

Recentemente o Instituto Socioambiental (ISA) divulgou um estudo que reafirmou a importância das terras indígenas na proteção da biodiversidade da floresta amazônica, revelando locais com potencial para maior diversidade de fauna e flora.


“O meu projeto traz isso, gosto de trazer atividades cotidianas da minha família e também dos lugares por onde eu passo pela Região Norte, trazendo esses movimentos que marcam o cotidiano. Eu acredito muito que foram essas atividades que mantiveram a floresta até hoje. Essas atividades da produção de farinhas, pesca, atividades culturais como o carimbó, dança, tudo levando a conexão ancestral e com a floresta, que com certeza ajuda ela a ficar de pé”, concluiu Beto. 
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O projeto contou com 44 alunos, que aprenderam desde a concepção de ideias e roteiros até a produção, captação e edição de vídeos, utilizando apenas celulares.

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