A Amazônia é vasta e cada pessoa a vê de forma diferente. O Portal Amazônia convidou três fotógrafos para mostrar a diversidade de perspectivas sobre o maior Estado da região.
Quando a Amazônia é retratada, logo imaginamos registros das paisagens do ecossistema e da vasta singularidade das espécies que habitam a fauna e a flora do bioma. Rios, lagos, árvores, animais, plantas, frutos, situações cotidianas e aquelas paisagens “de tirar o fôlego” estão presentes cada vez que fazemos uma busca pela internet sobre o assunto.
Assim, como a Amazônia é vasta, cada pessoa a vê de forma diferente. O Portal Amazônia convidou três fotógrafos para mostrar a diversidade de perspectivas sobre o maior Estado da região, o Amazonas. Confira:
Chico Batata
Um dos principais nomes da fotografia na região amazônica, o fotógrafo Chico Batata está sempre registrando momentos do cotidiano amazonense, seja ele urbano ou na natureza. Realiza seus cliques na área do fotojornalismo e documental. Seu interesse pela fotografia começou quando viu uma máquina fotográfica de um amigo.
“Meu interesse pela fotografia começou por volta dos meus 25 anos. Veio por meio da obsessão com uma máquina fotográfica, que inclusive era de um amigo Jornalista. Quando tive oportunidade, tomei essa máquina “emprestada” e nunca mais devolvi”, revela o fotógrafo.
Seu primeiro registro, conta, foi um soldado bêbado que estava dentro de um ônibus, e que gerou bastante notoriedade, transformando o registro em capa de revistas e jornais por toda a cidade de Manaus (AM).
Com o passar do tempo, Chico Batata foi se aprimorando nas técnicas e uso das tecnologias, sendo o primeiro fotógrafo a adquirir e usar a primeira máquina digital do Amazonas.
Entre 2009 e 2010, começou a trabalhar para o Governo amazonense, onde teve a oportunidade de conhecer de fato a Amazônia. Ganhou prêmios como o Prêmio MPT de Jornalismo, em 2017, com a reportagem especial ‘Do verde às cinzas’, em parceria com a jornalista Mônica Prestes e o jornal A Crítica, na categoria regional. Além de ter conseguido expor alguns trabalhos em âmbito internacional, como em Nova York, nos Estados Unidos da América.
“Foi com esse trabalho que eu pude conhecer a fundo a Amazônia. Comecei a fazer diversas viagens para cidades e municípios do Amazonas e conhecer diversas realidades sociais, ambientais e econômicas. Essa minha inquietação fez com que eu pudesse reconhecer que existem muitas “Amazônias”. A maior biodiversidade está na nossa Floresta Amazônica. O Rio Negro, que percorre o nosso Estado, é o maior do mundo em extensão e volume de água, por exemplo. Foram essas características que fizeram com que eu almejasse dar visibilidade ao contexto amazônico, a partir dos meus registros fotográficos. Muitas vezes, conseguir chamar a atenção da sociedade e melhorar muitas realidades que me pareciam desconcertantes, como o desmatamento, o garimpo ilegal, biopirataria e as múltiplas desigualdades existentes em nosso ambiente”.
Chico Batata
Francisco Barboza
O fotógrafo Francisco Barboza faz sucesso nas redes sociais ao mostrar as paisagens urbanas que se formam no cotidiano da capital amazonense, Manaus. Utilizando recursos como drones, o fotógrafo captura imagens que mesclam as belezas naturais com o desenvolvimento urbano da cidade.
Servidor público e publicitário, Francisco é roraimense, mas mudou-se para Manaus em 2004. Depois de se formar em Publicidade e Propaganda, em 2014, entrou no ramo da fotografia de paisagens.
“Em 2018 comecei a trabalhar com captação em eventos, mas em 2020, com a pandemia, e tendo acabado de comprar um drone para trabalhar no ramo, me vi sem oportunidade de mostrar serviço nesse sentido. Daí comecei a fotografar a cidade com o intuito de ter material para apresentar no aniversário de Manaus em 2020. Comecei por volta de março, abril, daquele ano, mas à medida que eu ia postando o conteúdo, cada vez mais pessoas se interessavam, então comecei a criar pequenos vídeos e postar, e postar as fotos também”, conta.
De acordo com Francisco, ele começou a perceber que a cidade precisava, de alguma forma, quebrar o estereótipo, onde se imagina que as pessoas que moram em Manaus “andam com onças pelas ruas” ou que não existe uma cidade urbanizada e moderna na região amazônica.
“Comecei a perceber que a cidade precisava disso. Então me voltei para quebrar estereótipos mesmo. Eu já apreciava o trabalho de vários artistas locais que retratavam a vida ribeirinha, o rio, comunidades, a vida mais simples. Mas eu precisava, no meu projeto, mostrar que Manaus é mais do que isso. Porque quem vê de fora, principalmente, tem uma ideia errada do que somos. Tem gente que pensa que aqui vemos onça passando pelas ruas, que não temos prédios, que não temos uma zona franca que exporta produtos, inclusive, pro Sudeste e Sul”.
Francisco Barboza
A partir disso, surgiu a primeira exposição do fotógrafo, em um shopping na Zona Oeste de Manaus, que mostrava a visão urbana de Francisco sobre a cidade. Seu primeiro registro foi do Complexo viário do Coroado, com um drone, que conquistou o público.
Ele também participou de uma outra exposição, no final do ano passado, realizada por Selma Carvalho, intitulada ‘Descubra Manaus’. O fotógrafo participou com uma foto cuja ideia era mostrar um detalhe para que o público identificasse de qual lugar foi feita, enquanto que no canto da fotografia, tinha um QR Code para acesso à foto do local.
Outra exposição acontece atualmente na Casa das Artes, localizado no Largo de São Sebastião, Centro, onde Francisco e mais 19 artistas retratam sob várias perspectivas a cheia histórica do Rio Negro em Manaus, de 2021. As obras se encontram na primeira sala com material audiovisual apresentado na TV.
Tadeu Rocha
O fotógrafo amazonense Tadeu Rocha iniciou sua carreira apenas como hobbie, mas deixou de ser funcionário público em 2017 para se dedicar integralmente à carreira na fotografia. Formado em administração, atualmente trabalha como fotógrafo freelancer.
Suas fotos também fazem sucesso nas redes sociais, mostrando uma perspectiva mais geométrica das imagens cotidianas. Em 2018 colaborou para a ONG Litro de luz, para registrar a realidade de comunidades ribeirinhas que não possuíam acesso à energia elétrica. Já em 2019, Tadeu fotografou a 54ª edição do Festival Folclórico de Parintins, além da 16ª edição do Festival Mocambo do Arari e o lançamento do filme ‘O Rio Negro São as Pessoas’.
“Eu gosto de fotografar não apenas sobre a Amazônia, mas o cotidiano. Na verdade gosto de fotografar o cotidiano do interior amazônico, mas, por viver na capital, não é tão frequente, então sempre que tenho algum trabalho para o interior, é quando me realizo mais ainda, pois é quando consigo pegar de fato, o cotidiano amazônico e tentar registrar isso”, comenta.
A sua visão da Amazônia é voltada para apreciar as belezas e riquezas da região, que, por muitas vezes, passam despercebidas.
“Vivemos no meio de uma riqueza bem grande e acredito que por a gente ter esse contato diário de muita mata, muita água, acabamos não valorizando tanto e, com isso, eu tento registrar não apenas para atrair olhares de fora, mas para mostrar até para a gente, as pessoas que moram na região amazônica, para a gente analisar, porque buscamos tantas belezas em outras cidades, outros Estados, outros países, mas a gente tem tanto aqui perto, né? Mas, sempre que posso, eu tento divulgar algum ponto de passeio turístico, para incentivar amigos, conhecidos, para que possamos ‘turistar’ mais, para o nosso Estado. A gente tem um potencial turístico muito grande e acaba se perdendo isso e eu gostaria que o mundo pudesse enxergar isso”.
Tadeu Rocha
Recentemente, em dezembro de 2021, o fotógrafo produziu uma exposição chamada ‘Contrastes’, onde mostrava a vivência e descobertas de contrastes sociais.
“‘Contrastes’ foi uma exposição fotográfica que fiz sobre as inúmeras camadas que existem entre um momento e uma foto, especificamente na cidade de Manaus. Uma cidade que funciona como uma grande capital, possui arquitetura vasta e diversificada, gente que trabalha arduamente debaixo desse sol, ou que madruga na feira, e que também é uma cidade que abriga um dos Polos Industriais do País. É tentar mostrar que somos feitos do verde, mas não somente disto. A exposição tenta mostrar a vivência e a descoberta de contrastes sociais, como áreas da cidade divididas pelas diferenças socioeconômicas, assim como pessoas em situação de risco e vulnerabilidades que se tornaram “invisíveis” no cotidiano. É tentar captar algo a mais na realidade visível, identificando o que passa despercebido em virtude do automatismo criado pelos hábitos corriqueiros, é tentar dar visibilidade para as diferenças que a gente não percebe no dia a dia”, explica.