O desmatamento intensivo causado pelo plantio dessas culturas ameaça a Amazônia, quando feito de forma irregular.
O café e o cacau têm muito em comum. Ambos são descendentes de árvores de sub-bosque adaptadas às condições de baixa luminosidade no solo da floresta. Cada um tem diversas variedades cultivadas que diferem em relação à qualidade, definida pelos aromas e outros fitoquímicos que atuam como intensificadores de sabor e estimulantes. Ambas são culturas comerciais perenes que exigem mão de obra não qualificada na colheita e certo grau de proficiência técnica para o processamento pós-colheita. A commodity básica do comércio é a semente, chamada de grão, enquanto os frutos são submetidos à fermentação para facilitar a coleta dos grãos, que são lavados, secos e ensacados para transporte e venda.
Tanto o cacau quanto o café têm sido implicados na perda de habitat de florestas naturais, a maioria associada a sistemas de produção de pequenos produtores. A principal causa desse desmatamento é o desejo de expandir a produção ou a necessidade de substituir as plantações existentes que se tornaram infestadas por pragas ou perderam o vigor devido à idade. Essas são culturas comuns na fronteira agrícola, onde o modus operandi dos agricultores é ocupar e desmatar a floresta para estabelecer novas plantações.
Muitas das variedades mais populares de café e cacau são adaptadas à luz solar plena; nesses casos, o terreno é completamente desmatado antes do plantio. Algumas variedades de ambas as culturas crescem melhor sob a sombra, o que motiva os proprietários de terras a expandir a produção para o habitat da floresta para aproveitar o dossel das árvores. Embora isso seja menos prejudicial do que desmatar toda a biomassa da floresta, ainda é uma forma de desmatamento críptico e contribui para a perda da biodiversidade e dos serviços do ecossistema. À medida que as árvores amadurecem e a produção diminui, os agricultores tendem a remover as árvores que dão sombra para manter a produtividade no curto prazo; por fim, a terra é convertida em outro uso, geralmente pasto para a criação de gado e gado leiteiro.
O cacau é uma cultura de mão de obra intensiva que requer um processo de fermentação artesanal pós-colheita, o que o torna uma boa opção para os pequenos agricultores. Tanto o café quanto o cacau são frequentemente promovidos como alternativas ao cultivo da coca ilícita, em parte porque têm um preço decente, mas também porque seu sistema de produção de pequenos agricultores é semelhante ao da folha de coca. Várias iniciativas buscaram promover o café e o cacau como opções de desenvolvimento em paisagens conflituosas, e a maioria dessas iniciativas também buscou evitar novos desmatamentos oferecendo assistência técnica. Infelizmente, esses esforços não foram particularmente bem-sucedidos, seja na erradicação da coca ilícita ou na prevenção do desmatamento.
O cultivo de cacau e café expandiu-se em algumas, mas não em todas, as suas paisagens tradicionais na Amazônia; em alguns casos, a produção diminuiu. As mudanças na área de cultivo ocorrem, em grande parte, em resposta à demanda do mercado, que é determinada pelas condições em outras partes do mundo, seja por eventos climáticos ou desafios estruturais que estão motivando os comerciantes de commodities a diversificar suas cadeias de suprimentos.
No caso do declínio da produção de café no Equador, a concorrência externa fez com que os produtores abandonassem um sistema de cultivo há muito estabelecido em favor de outras culturas. O aumento dos suprimentos da América do Sul foi acompanhado por tentativas renovadas de desvincular a expansão do café e do cacau de novos desmatamentos; essas iniciativas estão tirando proveito de novos subsídios vinculados a programas de mudança climática ou de melhores mecanismos de preços vinculados a sistemas de certificação que apoiam os agricultores que adotam os conceitos de sustentabilidade.
Narrando os esforços de nove países amazônicos para conter o desmatamento, esta edição oferece uma visão geral dos temas mais relevantes para a conservação da biodiversidade da região, serviços ecossistêmicos e culturas indígenas, bem como uma descrição dos modelos de desenvolvimento convencional e sustentável que estão competindo por espaço na economia regional.
As informações foram retirados do livro ‘Uma tempestade perfeita na Amazônia‘, de Timothy Killeen, que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, com análise feita por Timothy J. Killeen, traduzida por Lisete Correa