Urutau, rasga-mortalha e acauã: agourentos ou habilidosos caçadores?
A relação entre o homem e a natureza é perpassada pelo estranhamento, medo, curiosidade e percepção estética. A mata é fonte inesgotável de aprendizado, descoberta que reflete na preservação de crenças e costumes. Há uma mata repleta de paisagem sonora descrita por meio dos cantos dos pássaros, das narrativas contadas com efeitos especiais a beira dos rios amazônicos, sendo um espaço de grande repertório cultural.
O temo mata é carregado de afetividade, imaginário, encantamento e respeito. Diante de uma mata, o caboclo experimenta a sensibilidade estética, o deslumbramento diante do que consegue perceber e sentir. A vivência na mata faz parte da transmissão cultural dos ribeirinhos e os diálogos expressam a abundância, a dinâmica das paisagens encontradas e a relação profunda do convívio com a natureza.
Em meio a esse espaço geográfico, surgem os pássaros com seus inesquecíveis cantos e habilidades para a caça, povoando o universo das crendices e encantarias amazônicas. Aqui se traz alguns desses pássaros que, no viver ribeirinho, seus cantos são associados à má sorte, azar ou prenúncio de morte.
O urutau, conhecido como mãe da lua, é um pássaro de grande beleza, possui olhos grandes e um bico marcante. Sua plumagem se confunde com um tronco de árvore, tendo uma grande habilidade na arte da camuflagem e à noite costuma ser um habilidoso caçador de insetos. O seu canto melancólico não é apreciado entre os ribeirinhos por ser associado a prenúncio de notícias ruins.
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Apesar de ser tido como um pássaro agourento no dizer popular, o urutau tem uma grande importância na mata, pois ajuda no controle da população de insetos e como tem na beirada dos rios amazônicos. Deveria ser mais conhecido como o habilidoso caçador do que agourento.
Outra ave de intensa beleza é a rasga-mortalha, espécie de coruja cujo canto arrepia quem ouve e sempre tem uma história ligada a esse pássaro. O som da rasga-mortalha é como se rasgasse algum tecido. Tanto o urutau quanto a rasga-mortalha possuem hábitos noturnos, seus cantos são tidos como melancólicos e associados aos prenúncios de notícias tristes e sinais de azar. Como dizem os ribeirinhos "Se a coruja passar em cima de casa à noite e se tiver alguém doente anuncia a morte. O canto da rasga-mortalha anuncia a morte de alguém".
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No imaginário amazônico, a rasga-mortalha é melancólica, mas apesar disso tem uma grande importância na mata, pois ajuda no controle de roedores, um de seus alimentos preferidos. Depois da enchente de 2014 no rio Madeira, a população de roedores aumentou muito, o que significa valorizar ainda mais o papel da rasga- mortalha no combate aos roedores. Além disso, sua habilidade auditiva favorece excelentes caçadas!
Participa dessa geografia selvagem o acauã, um falcão que tem uma vocalização alta e marcante. Seu canto também é associado aos agouros. Para os ribeirinhos se o acauã cantar em galho verde irá chover, se cantar em galho seco anuncia o verão; se passar em local que tem alguma mulher e canta "kuá, kuá, kuá" anuncia a gravidez ou a morte de alguém, quando está doente.
O acauã possui grande habilidade para caça, mantém em seu hábito alimentar o gosto por serpentes, inclusive pelas espécies venenosas como a jararaca e a coral, ajudando no controle da população de serpente no espaço ribeirinho.
É importante a valorização do urutau, da rasga-mortalha e acauã, os quais ajudam no controle populacional entre as espécies que fazem parte de seus hábitos alimentares. Que essas aves deixem de ser vistas como agourentas e passem ser reconhecidas como importantes no equilíbrio da cadeia alimentar.
Que esta experiência de olhar amazônia possa ser multiplicada para a definição de campos possíveis de ação nas políticas públicas destinadas às populações ribeirinhas. Continue nos acompanhando e envie suas sugestões no e-mail: .
Sobre a autora
Lucileyde Feitosa é professora, Pós-Doutora em Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho/Portugal), Doutora em Geografia/UFPR, Integrante do Movimento Jornalismo e Ciência na Amazônia e colunista da Rádio CBN Amazônia Porto Velho e do Portal Amazônia.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista
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Nota sobre as 3 aves místicas da Amazônia
Olá, bom dia, me chamo Antonio Emanuel, sou mestre em História e Espaços pelo programa de pós graduação em História da UFRN, adorei seu artigo sobre as 3 aves místicas da Amazônia, no portal amazônia.
Sou pesquisador na área de História das Religiões e especialidades, o quanto as relações religiosas determinam também dinâmicas espaciais e tenho particular interesses sobre espiritualidades e crendices populares.
Minha ave preferida é o Urutau, é mística, linda, simbólica e também me toca uma profunda memória afetiva da infância.
Que essas aves sejam preservadas, são mais que seres biológicos pertencentes a uma cadeia natural, como também são seres culturais, que tornam mais rica e complexa o recorte de mundo de nosso povo, em especial os ribeirinhos amazônicos e os sertanejos, que nem a mim
Forte abraço, continue escrevendo artigos sobre essas aves místicas e cultura popular amazônica!
Atenciosamente,
Antonio Emanuel!
A MINHA TAMBEM
Legal
Legal
MUITO LEGAL GOSTEI DAORA,,
Legal a matéria. Porém vocês deveriam dar os créditos aos autores das fotos. Essa do Urutau-grande por exemplo é minha como pode ser comprovado no link: https://www.wikiaves.com.br/2234216&t=s&s=10536