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Sexta, 26 Abril 2024

Maternidade selvagem: de sapos a onças, conheça algumas mães amazônicas que fazem de tudo pelos seus filhotes

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É de conhecimento popular que uma mãe é capaz de qualquer coisa para proteger seus filhos. No mundo animal isso não é muito diferente, com algumas espécies utilizando, literalmente, unhas e dentes para proteger os filhotes de possíveis predadores.

De sapos a onças, conheça algumas mães amazônicas que fazem de tudo pelos seus filhotes: 

Sapo-pipa

Essa é uma espécie de sapo aquático que ocorre na Amazônia e que muita gente sequer sabe da sua existência, apesar de serem amplamente distribuídos no bioma. Quando se trata de maternidade, as fêmeas desses anfíbios (espécie Pipa pipa) apresentam um comportamento, como podemos dizer, um pouco extremo. Isso porque os ovos desse animal são mantidos sob a pele das costas (dorso) da fêmea até que os filhotes completem seu desenvolvimento e deixem o corpo da mãe já como pequenos sapinhos completamente formados. Essa é uma ótima forma de manter seus filhotes protegidos de predadores e garantir que eles se desenvolvam em segurança. 

Uma fêmea de sapo-pipa com os ovos nas costas, onde ficam até completar seu desenvolvimento. Foto: Matthieu Berroneau

Cobra pico-de-jaca 

As cobras no geral não apresentam um comportamento parental, ou seja, as espécies não costumam cuidar dos filhotes, que já são independentes a partir do momento que nascem, porém às vezes algumas espécies fogem a regra. É o caso da espécie Lachesis muta, ou cobra pico-de-jaca ou surucucu, como são conhecidas popularmente dependendo da região. Essa é uma cobra que pode ter até mais de três metros de comprimento, sendo considerada a maior cobra peçonhenta das Américas. É uma espécie ovípara e pode colocar até 20 ovos, sendo que a fêmea se enrola junto aos ovos, e dentre as hipóteses para este cuidado estão a proteção dos ovos contra pisoteio de outros animais e a regulação da umidade.

A surucucu é uma cobra ovípara que apresenta cuidado parental, sendo que a fêmea se mantém enrolada aos ovos. Foto: Sérgio Marques Souza

Jacaré-açu 

Açu é um sufixo nominal de origem tupi que significa grande, e, portanto, vocês já imaginam que não se deve mexer com uma mamãe jacaré que tenha açu no seu nome, certo? O jacaré-açu (espécie Melanosuchus niger) é considerado a maior espécie do território brasileiro, sendo que seu comprimento pode chegar a até seis metros, e seu peso pode variar em torno dos 300 kg. Quando se trata de cuidado com a prole, a mamãe está sempre por perto. Ela fica vigiando o ninho por até 90 dias, período que os ovos levam para eclodir e coloca para correr qualquer predador que ameace o ninho. Cada ninho tem em média entre 30 e 40 ovos, e mesmo após a eclosão dos filhotes, a mãe se mantém por perto e fica pronta para proteger os filhotes e mantém os ouvidos atentos aos chamados dos jacarezinhos. 

Jacaré-açu fêmea protegendo o seu ninho. Foto: Igor J. Roberto/Instituto Mamirauá

Mucura 

A mucura, espécie Didelphis marsupialis, é um animal de comportamento solitário e de hábito noturnos, deixando a segurança do abrigo apenas para caçar e procurar alimentos. As mamães dessa espécie apresentam um tempo de gestação curto, cerca de duas semanas apenas. Após o nascimento, os filhotes ainda não estão completamente desenvolvidos (são embriões), sendo que completam seu desenvolvimento durante o período de amamentação que é muito mais longo, 70 dias. Nesse período, os filhotes ficam protegidos dentro de uma bolsa localizada na barriga da fêmea, o marsúpio (assim como os cangurus) onde o calor corporal da mãe que os mantém aquecido. Em média, a mucura tem entre dois e 20 filhotes, mas em média são seis. A mucura é uma mãe preocupada e cuidadora, quando os filhotes estão nascidos, ela constantemente lambe os pequenos para deixá-los limpos e quando crescidos, a mãe transporta os filhotes nas costas até que eles sejam capazes de viver sozinhos.

Uma fêmea de mucura (espécie Didelphis marsupialis) carregando os seus filhotes. Foto: Noanprojet.org

Onça-pintada

Não tem como falar de mães selvagens sem falar no símbolo da região amazônica. A onça-pintada (Panthera onca) faz qualquer pessoa tremer nas bases com o olhar e toda sua imponência. É o maior carnívoro da fauna brasileira e a onça fêmea alcança a maturidade sexual aos dois anos e pode ter de um a quatro filhotes, sendo que o bebê pesa em média 1kg. O tempo de gestação varia de 90 a 111 dias e os filhotes ficam próximos a mãe de um ano a um ano e meio, nesse período, além de mamar, o filhote também aprende com a mãe como a caçar e se tornar independente. O pai não apresenta nenhum cuidado parental, já que as onças são consideradas animais solitários, elas se encontram apenas para a reprodução.

Uma mamãe onça com melanismo, carregando seu filhote sem, com a coloração padrão da espécie. Foto: nix6658/Creative Commons

É isso pessoal! Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre algumas espécies de mamães que ocorrem na Amazônia. Abraços de sucuri para vocês e até ao próximo texto com informações sobre a nossa exuberante fauna da amazônica!

Sobre a autora

Luciana Frazão é pesquisadora na Universidade de Coimbra (Portugal), onde atua em estudos relacionados as Reservas da Biosfera da UNESCO, doutora em Biodiversidade e Conservação (Universidade Federal do Amazonas) e mestre em zoologia (Universidade Federal do Pará).

*O conteúdo é de responsabilidade da colunista 

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