Foto: Jan Richtr
Por Luciana Frazão
A Amazônia abriga uma das maiores diversidades biológicas do planeta, com espécies que desafiam nosso olhar sobre o que é comum ou previsível na natureza. Entre elas, há animais com adaptações tão peculiares em forma, cor e comportamento que se assemelham a criaturas de ficção científica.
Esses organismos são frutos de milhões de anos de evolução em ambientes complexos e variados, o que resulta em estratégias surpreendentes para sobreviver, se alimentar e se reproduzir. Neste texto, vamos conhecer cinco espécies amazônicas que, de tão extraordinárias, poderiam facilmente habitar outros mundos — mas, sorte nossa, são animais reais da nossa rica floresta.
Acari-zebra (Hypancistrus zebra): o stormtrooper dos rios
Com o corpo coberto por listras pretas e brancas em alto contraste, esse pequeno peixe de até 10 centímetros, também conhecido como zebrinha, é um verdadeiro stormtrooper dos rios amazônicos — e ainda tem aquela carinha simpática de quem jamais acertaria um tiro.
Endêmico do rio Xingu, o acari-zebra vive escondido entre as rochas em águas rasas, bem oxigenadas e de correnteza moderada a forte. É mais ativo durante a noite, quando sai para se alimentar de pequenos invertebrados e restos orgânicos.
Sua beleza e raridade fizeram dele um dos peixes ornamentais mais cobiçados do mundo, o que, somado à construção de barragens em seu habitat, o colocou entre as espécies ameaçadas de extinção.

Matamatá (Chelus fimbriata): o mestre Yoda dos igarapés
Se os Jedi tivessem um representante nos rios da floresta, seria com certeza a matamatá. Esse quelônio de aparência pré-histórica chega a medir 50 centímetros e pesar até 15 quilos, com uma carapaça irregular e uma cabeça triangular coberta por franjinhas que a ajudam a se camuflar entre folhas e galhos submersos.
Vive nos igarapés e áreas de águas calmas da Amazônia e do Orinoco, sendo ativa principalmente ao entardecer e à noite. Alimenta-se de peixes, que captura com um “golpe de sucção” surpreendentemente rápido, engolindo a presa inteira em um movimento só — quase como um truque da Força!
Apesar da aparência excêntrica, ela é inofensiva e extremamente bem adaptada ao ambiente aquático onde habita.

Papa-vento-narigudo (Anolis phyllorhinus): um alienígena infiltrado
Esse pequeno lagarto amazônico, que nem chega a ultrapassar 10 centímetros (sem contar a cauda), parece ter sido escalado como figurante especial em algum episódio de Star Wars. Com um “nariz” alongado que mais parece uma antena sensorial alienígena, o papa-vento-narigudo habita o alto das árvores em florestas de terra firme no norte do Brasil.
É ativo durante o dia, quando sai em busca de pequenos insetos, e usa sua protuberância nasal em disputas territoriais ou como parte do ritual de acasalamento. Seu corpo esguio, olhos atentos e movimentos ágeis o tornam um verdadeiro espião camuflado no meio da floresta — um alienígena infiltrado que poucos têm a sorte de observar.

Arraia-de-fogo (Potamotrygon motoro): a Millennium Falcon dos rios amazônicos
Com seu corpo em forma de disco e padrões circulares alaranjados distribuídos como luzes em uma nave espacial, a arraia-de-fogo parece uma versão subaquática da Millennium Falcon, cruzando as águas da floresta com discrição e elegância.
Habitando os fundos arenosos dos rios amazônicos, essa arraia passa boa parte do dia enterrada, ficando quase invisível, e ganha vida à noite, quando sai para caçar pequenos peixes, moluscos e crustáceos. Pode atingir um tamanho máximo de até 1 metro de diâmetro e possui um ferrão venenoso na cauda, usado apenas em situações de defesa.
Além do visual hipnotizante, que a torna uma verdadeira nave alienígena da natureza, ela é extremamente bem adaptada ao seu habitat e exerce papel fundamental no equilíbrio ecológico dos rios que percorre.

Preguiça-real (Choloepus didactylus): a prima amazônica do Chewbacca
Com pelos longos, movimentos lentos e um olhar calmo que transmite sabedoria ancestral, a preguiça-real é a nossa versão amazônica do Chewbacca — e parece mesmo um primo distante do wookie mais querido da galáxia!
Vivendo nas copas das árvores das florestas úmidas da Amazônia, esse mamífero pode medir de 85 cm a 1 metro e pesar de 6 a 9 quilos. É principalmente noturno e passa a maior parte do tempo pendurado nos galhos, alimentando-se de folhas, brotos e frutos. Seus pelos grossos abrigam algas e pequenos invertebrados, formando um verdadeiro ecossistema ambulante.
Apesar da lentidão, é extremamente bem adaptada à vida nas alturas e quase invisível aos olhos dos predadores, mas não se deixe enganar, quando ameaçada a preguiça real usa todo o seu poder jedi para se defender com garras afiadas e muito fortes!

O fantástico, o estranho e o extraordinário
A Amazônia, com toda sua diversidade, é um lembrete de que o fantástico, o estranho e o extraordinário não estão só nas galáxias distantes. Eles vivem aqui, entre nós, em cada canto da floresta. Que a Força (da natureza) esteja com você até o próximo encontro com os seres incríveis da nossa galáxia amazônica! Abraços de sucuri pra vocês e feliz Star Wars Day!
Sobre a autora
Luciana Frazão é pesquisadora na Universidade de Coimbra (Portugal), onde atua em estudos relacionados as Reservas da Biosfera da UNESCO, doutora em Biodiversidade e Conservação (Universidade Federal do Amazonas) e mestre em zoologia (Universidade Federal do Pará).
*O conteúdo é de responsabilidade da colunista