Conheça como diferentes formas de comunicação são utilizadas por alguns grupos de animais amazônicos

No reino animal, comunicação eficiente pode ser a diferença entre a vida e a morte na natureza.

Na natureza os animais se comunicam para diferentes propósitos, seja para conseguir uma parceira, mostrar-se incomodado com a presença de um competidor e mesmo para se livrar de um possível predador. A comunicação nos animais pode acontecer de muitas formas e vou falar um pouco mais sobre como algumas espécies amazônicas se comunicam.

Vocalização

A vocalização nos animais talvez seja a forma de comunicação que nos é mais conhecida. São muitos os grupos que usam a vocalização para se comunicarem e talvez as aves sejam os primeiros animais que a gente lembre quando pensamos em vocalização. De fato, o canto das aves é muito apreciado pelos humanos, e é a mais característica manifestação sonora desses animais podendo ter várias mensagens. Diferente do que que muitas pessoas pensam, as aves não cantam porque estão felizes, ou porque gorjeiam por estar tristes.

As aves cantam para, por exemplo, fazer o reconhecimento de um parceiro da mesma espécie. Isso porque a vocalização nos animais é espécie-específica, ou seja, cada espécie terá uma vocalização única. O uirapuru (espécie Cyphorhinus arada) por exemplo, é uma ave bastante emblemática na Amazônia e seu canto está relacionado com muitas lendas. 

Pode até ser realmente que o canto do uirapuru tenha toda uma mística envolvida, porém o que eu de fato sei, é que o canto demonstra o interesse do macho em atrair a fêmea e está diretamente ligado à sua necessidade de procriação e perpetuação de seu material genético (o mesmo motivo que leva a fêmea a escolher o macho que melhor manifeste o seu canto pois copulando com ele a sua ninhada terá maiores chances de sobrevivência).

O uirapuru (Cyphorhinus arada) que utiliza o seu canto, bastante emblemático na Amazônia, para por exemplo, se comunicar com as fêmeas da espécie. Foto: Claudio Dias Timm.

Por isso não adianta só cantar, é preciso cantar bem se quiser ser bem-sucedido com a fêmea. Além disso, o canto pode também ser um grito de alarme e um fator de demonstração de perigo do indivíduo para ele mesmo, contudo, a “compreensão” que os demais indivíduos têm dessa vocalização faz com que esses também se coloquem em estado de alerta. 

A vocalização em animais é variada e bastante complexa, e está presente em diferentes grupos de animais, como por exemplo nos sapos e nos macacos, sendo que estes últimos são capazes até mesmo de adotar sotaque para se comunicar com outras espécies de macacos, como é o caso dos animais da espécie sagui-da-mão-dourada (Saguinus midas) que mudam seus chamados quando estão no mesmo território que o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor).

Movimentos

Alguns animais podem adotar além da vocalização, ou então quando a vocalização não está presente, movimentos corporais e diferentes posturas para se comunicar. Um sinal visual é um evento comportamental que atua como uma sinalização visual durante uma interação intra ou interespecífica e provoca uma resposta imediata de quem recebe a mensagem. Um exemplo de comunicação visual, é o comportamento que os jacarés-açus machos (espécie Melanosuchus niger) adotam para mostrar que eles são o dono do pedaço.

Os jacarés, como o jacaré-açu (Melanosuchus niger) ergue a cauda e a cabeça para demonstrar territorialidade. Foto: Danita Delimont/Getty Images

Os machos dessa espécie são extremamente territorialistas, não admitindo qualquer que seja a invasão, anunciando sua onipotência com um rico repertório de movimentos, podendo arquear a cauda ou fazer bolhas, submergindo o focinho, alertando com esses movimentos os desafiantes. 

Alguns animais também utilizam sinais visuais para alertar os predadores de como eles podem ser perigosos (apesar de muitas vezes não serem) e de que é melhor não se meter com eles. É o caso por exemplo das anfisbenas (também conhecidas como cobra-de-duas-cabeças, ou cobras-cegas, dependendo da região) da espécie Amphisbaena alba.

A anfisbena (Amphisbaena alba) utiliza movimentos corporais e postura defensiva para se comunicar com os predadores. Foto: Michel de Aguiar Passos.

Esses répteis adotam uma postura defensiva para afastar os predadores em que o animal levanta a cabeça e mostra a boca bem aberta ao mesmo tempo que mostra a cauda e faz movimentos com ela de modo a atrair o predador a atacar cauda, caso isso aconteça. Acaba sendo vantajoso, uma vez que a cauda não é uma parte vital dos animais. E como falar de sinais visuais sem citar também as aves, não é mesmo? 

Quando se trata de se amostrar, principalmente para atrair parceiros reprodutivos, as aves dão um show (literalmente) a parte. Enquanto muitos de nós enche as redes sociais de likes à espera de ser retribuído ou vai para a balada e procura alguém no fervo da pista de dança, no reino animal, muitas espécies apelam para passos coreografados na tentativa de encontrar sua cara-metade e realizam elaboradas danças de acasalamento.

É o caso por exemplo do galo-da-serra, um dos pássaros mais exuberantes da América do Sul. Os machos da espécie (Rupicola rupicola) possuem uma coloração laranja vibrante (mas vamos falar de cores no próximo tópico) e atrai admiradores também pela forma com que o acasalamento ocorre na espécie. Os machos formam os leques (locais formados para exposições para as fêmeas) e se juntam na espera de encontrar uma parceira. 

Este local em que é feito a exposição é formado por rochas para que os machos se reúnem para a exibição individual para as fêmeas (cada qual em um “palco” isolado). A exibição possui saltos e abertura de asas e após o término da apresentação, a ave volta para o galho. Depois do show, cada fêmea escolhe seu parceiro para a reprodução.

O galo-da-serra macho além da sua cor exuberante, utiliza de uma dança coreografada para conquistar a fêmea. Foto: Almir Cândido de Almeida.

Cores

O mundo animal é repleto de cores vibrantes que são, na maioria das vezes, utilizadas para produção de sinais visuais que atuam na comunicação entre a mesma espécie e entre diferentes espécies. Esses sinais visuais permitem que animais não só encontrem melhores parceiros reprodutivos, mas também auxiliam na detecção de presas, no forrageamento e na fuga de predadores.

Dentre os animais que usam as cores aposemáticas para se comunicar e deixar claro para os predadores que eles são perigosos e que é melhor não mexer com eles, estão alguns sapos como os dendrobatídeos, ou sapos-ponta-de-flecha, e algumas serpentes, como as cobras-corais.

A espécie Ameerega trivittata, apresenta coloração verde ou amarela, sobre um fundo preto, o que acaba servindo de alerta para o predador devido o vibrante de suas cores. Já as corais-verdadeiras, como é o caso da espécie Micrurus spixii, por exemplo, apresenta anéis vermelhos, amarelos e pretos ao longo de todo o corpo e que dão um indicativo (mas não é uma regra) de que a espécie apresenta veneno e é melhor se manter distante dela!

Alguns animais utilizam as cores para comunicar os predadores de que é melhor não mexer com eles. É o caso dos sapos-ponta-de-flecha, como o Ameerega trivittata, que possui uma coloração aposemática. Foto: Luciana Frazão

É isso pessoal! Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre como a comunicação é feita por alguns animais amazônicos. Que nesse ano que se inicia possamos, assim como os animais, nos comunicar de forma mais eficiente. Abraços de sucuri para vocês e até ao próximo texto com informações sobre a nossa exuberante fauna da amazônica!


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