Apesar do cenário não ser exatamente como o que acontece nos filmes de ficção, podemos dizer que os zumbis existem sim, só que em vez de humanos, são formigas, e no lugar dos vírus, temos fungos.
Todo mundo algum dia já assistiu um filme de zumbi na televisão ou no cinema e já deve ter se perguntado sobre se seria possível algo do tipo acontecer na vida real. Bom, pelo menos na natureza, essa situação não só ocorre, como é bastante frequente!
Um desses casos de “zumbificação” na natureza é o que ocorre com alguns grupos de formigas distribuídas na Amazônia, que são transformadas em zumbis por diferentes tipos de fungos (Olha aí, fãs do jogo The last of us), como os do gênero Ophiocordyceps.
Os fungos, para quem não se lembra das aulas de biologia, são seres macroscópicos ou microscópicos, que desempenham papel fundamental na natureza, especialmente por participarem da decomposição da matéria orgânica. Alguns fungos são especialistas em parasitar plantas ou animais, através do contato com corpo desses animais.
No caso dos fungos do gênero Ophiocordyceps, algumas espécies se especializaram em parasitar as formigas, que são animais bastantes abundantes na Amazônia, com a finalidade de autopropagação e dispersão. Afinal, é dessa forma que esses fungos conseguem se reproduzir, e nada melhor do que contar com a ajuda de formigas, que podem se locomover grandes distâncias, até mesmo subir em árvores, aumentando assim o alcance reprodutivo desses fungos.
Três grupos de fungos Ophiocordyceps foram recentemente estudados na Amazônia (Ophiocordycepsunilateraliss.l., Ophiocordycepskiniphofioidess.l. e Ophiocordycepsaustraliss.l.), e a forma como as formigas são transformadas em zumbis e o comportamento que elas apresentam depois disso, varia de fungo pra fungo, e depende também de fatores externos, como a umidade do lugar.
Os fungos do grupo O. unilateraliss.l., por exemplo, só infectam formigas específicas, do gênero Camponotus, que são formigas terrestres.Nesse caso, o fungo infecta a formiga no solo por meio dos esporos. A formiga, sem saber que já está em processo de transformação, volta para o formigueiro e continua suas atividades normais.
Só que após duas semanas (em média) o fungo começa a consumir ela internamente e alterar o seu comportamento, controlando o sistema nervoso, e induz a formiga a subir na vegetação, para um lugar mais alto. Antes da formiga morrer, o fungo faz com que a formiga morda a ponta de uma folha, fazendo com que ela se fixe, para que dessa forma ele desenvolva suas estruturas externas e complete todos os seus estágios de desenvolvimento.
Fazer com que a formiga morra em um lugar mais alto, é uma estratégia interessante para o desenvolvimento do fungo e está relacionado a características do ambiente, como a umidade.
Foi o que descobriu o biólogo José Aragão Cardoso Neto e seus colaboradores.Ele avaliou na natureza mais de 4 mil formigas infectadas, durante seu mestrado na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e os resultados dessa pesquisa mostram que a umidade afeta a altura da morte das formigas infectadas, chegando a dobrar a altura em alguns casos.
Ou seja, quanto mais úmido o ambiente, maior a altura da morte da formiga. E isso pode ser uma grande vantagem ecológica para o fungo porque, com a formiga num lugar alto, o fungo consegue que seus esporos caiam numa área maior e infecte mais formigas. Esperto, não é mesmo?
Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre os fungos Ophiocordyceps, e sobre como eles transformam as formigas em zumbis. E vocês aí achando que o apocalipse zumbi não passava de ficção, não é mesmo? Abraços de sucuri pra vocês e até ao próximo animal da nossa exuberante Amazônia!
Para saber mais
Link para o artigo sobre como a umidade afeta a abundância e a altura que as formigas morrem. O artigo está em inglês e foi publicado pelos pesquisadores José Aragão Cardoso Neto (Ufam), Laura Carolina Leal (Unifesp) e Fabricio Beggiato Baccaro (Ufam).
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1754504819300960
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