Planta conhecida como ‘óleo elétrico’ pode ser alternativa de renda no interior do Amazonas

A pesquisa tem como objetivo identificar as principais características produtivas e a possibilidade do manejo para a produção de óleo essencial com alto teor de safrol, composto orgânico de interesse para a indústria alimentícia e farmacêutica.

Uma pesquisa desenvolvida no município de Itacoatiara (distante a 176 quilômetros de Manaus) analisa o potencial da espécie Piper callosum, planta nativa da região Amazônica, popularmente conhecida como ‘óleo elétrico’. O objetivo é identificar as principais características produtivas e a possibilidade do manejo para a produção de óleo essencial com alto teor de safrol, um composto orgânico de grande interesse para a indústria alimentícia e farmacêutica, oferecendo uma fonte de renda alternativa para o interior do estado. O estudo é amparado pelo Governo do Amazonas por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

O projeto, desenvolvido no âmbito do Programa de Apoio à Interiorização em Pesquisa e Inovação Tecnológica no Amazonas (Painter), Edital Nº 003/2020, também está avaliando as melhores condições de crescimento da espécie, além de analisar a atividade antimicrobiana do óleo essencial frente aos microrganismos patogênicos, bem como a atividade acaricida (pesticidas usado no combate de ácaros) dos óleos obtidos.

Segundo o coordenador do estudo, doutor em Química, Geone Corrêa, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam/Itacoatiara), o safrol possui diversas aplicações como em fragrância, inseticida e desinfetante, além de ser um importante precursor do piperonal (heliotropina), tipo de fixador utilizado na indústria de perfumaria.

O pesquisador disse ainda que a demanda pelo óleo rico em safrol aumentou de 40 para 2000 toneladas anuais em pouco tempo, aliada à falta de sustentabilidade ambiental, há necessidades pela busca de novas espécies produtoras ricas em safrol.

“A proposta visa buscar alternativas econômicas ao extrativismo tradicional na Amazônia. Para isso, propostas de melhorias no cultivo de espécies de Piper callosum aliadas a estudos da composição química dos óleos voláteis estão sendo realizados para garantir melhor condição ambiental para o crescimento e ou aumento da biomassa da espécie, melhor rendimento do óleo com maior produção de safrol, além de melhor dosagem de adubo”, 

explicou Geone Corrêa.

Estudo é coordenado pelo doutor em Química Geone Corrêa. Foto: Geone Corrêa/Arquivo Pessoal

Atualmente, outras fontes naturais são conhecidas por serem ricas em safrol, como a cânfora, noz-moscada e canela. A espécie P. callosum é rica nesse composto, sendo uma alternativa importante para o Amazonas do ponto de vista químico, uma vez que o safrol é intermediário para o preparo de diversas classes de compostos naturais biologicamente ativos.

Metodologia

A pesquisa iniciou em outubro de 2020. O experimento foi instalado e conduzido na área de experimentação do Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia ICET/Ufam, desenvolvida em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. Em junho de 2021, foi feito o transplantio das estacas e realizado o acompanhamento. Neste ano, foi iniciada a coleta do material para obtenção dos óleos essenciais para verificar o rendimento e melhores condições de produtividade da espécie.

“Em maio iremos finalizar as extrações dos óleos e realizar as análises químicas e ensaios biológicos para encerrar em agosto de 2022. Temos a intenção de realizar outras extrações com as árvores com maior tempo de transplantio e em época de seca, ou seja, no mês de setembro, para comparar o rendimento, porque a época do ano influencia no rendimento dos óleos bem como a idade dos vegetais”, observou.

Foto: Geone Corrêa/Arquivo Pessoal

Dentre os resultados esperados da pesquisa está o registro de dados inéditos sobre a melhor forma de cultivo para obtenção de alto teor de safrol no óleo essencial da espécie estudada, dados inéditos relativos ao perfil químico e potencial farmacológico e, por fim, considerado como principal resultado a transferência da tecnologia para produtores rurais como uma alternativa econômica ao extrativismo tradicional na Amazônia.

Sobre a espécie 

O Piper callosum é uma espécie encontrada na América do Sul. No Brasil, especificamente, nos Estados do Pará, Amazonas, Acre, Rondônia e Mato Grosso, sendo ainda cultivada nos jardins e quintais dos Estados do Pará e do Amazonas, sendo as folhas utilizadas para o preparo de chás para tratar doenças gastrointestinais.

“Possui muitas outras aplicações na medicina popular, como no tratamento de dores reumáticas, adstringente, hemostática local, antiblenorrágica, antileucorréica, anti-inflamatória. Estudos ainda revelam atividade antifúngica de óleos essenciais de diferentes espécies do gênero Piper, entre elas, P. callosum e demonstraram que os mesmos são eficazes contra alguns fungos fitopatogênicos. Há também estudos que demonstram a ação inseticida e moluscicida desta espécie”, explicou o pesquisador.

Sobre o Painter

O Painter, Edital N°003/2020, da Fapeam, é uma ação criada pelo Governo do Amazonas, via Fapeam, para fomentar atividades de pesquisa aplicada e inovação tecnológica desenvolvida por pesquisadores, exclusivamente, no interior do estado, por meio da indução em áreas estratégicas para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do Amazonas.

*Por Esterffany Martins/Decon Fapeam


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