Conheça idoso que salvou 14 pessoas no naufrágio do “Novo Amapá” e sonha com reencontro

Sobrevivente da tragédia ocorrida em janeiro de 1981, José deu detalhes do que se lembra do maio naufrágio da história do Amapá, que deixou mais de 300 vítimas.

A tragédia do naufrágio do barco Novo Amapá completa 41 anos nesta quinta-feira (6). Para quem esteve presente no acontecimento, a memória daquele 6 de janeiro de 1981 continua mais viva do que nunca.

Na época, o fato gerou grande comoção em todo o estado e histórias de heroísmo e bravura, como a do sobrevivente José Souza, de 85 anos, não caíram no esquecimento.

Ele foi uma das centenas de pessoas que estavam a bordo do barco, antes de afundar no Rio Cajari, próximo ao distrito de Monte Dourado, na divisa entre o Pará e o Amapá. Foi uma das maiores tragédias fluviais brasileiras. 

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José Souza tinha 41 anos na época do naufrágio. Foto: Laura Machado/g1

O carpinteiro, que tinha 41 anos no dia do naufrágio, relata que conseguiu salvar 14 pessoas, incluindo uma mulher que havia dado à luz 6 dias antes do naufrágio, e estava com o bebê recém-nascido nos braços. Outra criança se segurava no homem para tentar fugir da água e se salvar. Ele sonha reencontrar essas pessoas. 

Quase eu morro. Um moleque começou a pegar em mim, me afundava. […] Eu subi com a criança, e lá em cima a mãe me disse assim: ‘esse menino que segurou a sua perna dentro do barco é meu filho’. Eu salvei, ai meu Deus… um de 3 anos, e outro de 12 anos morreu

descreveu  José, emocionado.

 Acometido pelo glaucoma, o idoso perdeu totalmente a visão e já escuta com muita dificuldade, mas a lembrança do dia da catástrofe foi um episódio difícil de esquecer.

Batiam, batiam, batiam, batiam que só. Mas não tinha machado pra furar o barco, para tirar esse povo… não tinha. Um bocado se salvou em botijão de gás, outro bocado se salvou preso em violão e por aí foi.

detalhou.

José perdeu todos os documentos no naufrágio do Novo Amapá e teve que renová-los — Foto: Laura Machado/g1

O avanço da idade também atrapalhou a fala do carpinteiro, que necessita do apoio de uma das filhas para ser compreendido muitas vezes. Rosilene de Souza é uma dos 11 filhos do idoso. Quando ocorreu o naufrágio, ela tinha 12 anos e não estava com o pai naquele 6 de janeiro. 

“Ele conta que as crianças estavam como peixes, se debatendo, pedindo ajuda do meu pai. Ali poderia ter sido o fim dele”, conta Rosilene.

O navio tombou por volta das 21h, com uma estimativa de mais de 600 passageiros. O inquérito do Departamento Regional da Marinha no Pará informava que a embarcação tinha capacidade para apenas 400 pessoas.

Além disso, o navio, que tinha suporte para comportar meia tonelada de carga comercial, no dia do acidente transportava o dobro, segundo as investigações da época.

Valas coletivas foram montadas na época para enterro dos corpos. Foto: Edgar Rodrigues/ Arquivo Pessoal

 Reencontro

O sonho de José é reencontrar as pessoas que conseguiu salvar no dia do acidente, em especial a criança de 3 anos que se prendeu ao corpo do homem para sobreviver. Os filhos também sonham com o pai.

A curiosidade partilhada pela família é em acompanhar o crescimento das pessoas que tiveram uma nova chance de viver.

Natural de Soure, na Ilha do Marajó, no Pará, o homem perdeu o contato com os familiares, e com as dificuldades em decorrência da idade, não consegue mais identificar os parentes que moram no estado vizinho.

 Os filhos não chegaram a conhecer parentes do pai. Segundo a filha, eles buscam até hoje por algum familiar que possa se lembrar do homem.

Se alguém que olhar essa reportagem, lembrar do seu José de Souza, pedimos que entre em contato. Vamos ficar muito felizes em vê-lo ter esse momento de alegria, em encontrar essa criança de 3 anos e algum dos seus parentes

reforçou Rosilene.

Limites impostos pela idade não o fazem desistir de reencontrar quem ele salvou —

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Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

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