Ocorrido em janeiro de 1981, o naufrágio ainda deixa marcas em quem presenciou a repercussão ou sobreviveu ao acidente que teve mais de 400 vítimas.
A bacia hidrográfica amazônica é considerada a maior do mundo. Localizada entre o Brasil e outros sete países da América do Sul, possui um dos maiores potenciais hídricos do planeta. Além disso, é utilizada como meio de locomoção de muitos ribeirinhos e moradores de municípios com difícil acesso para estradas.
Com isso, a navegação fluvial, por barcos e lanchas, é bastante comum para quem reside na região amazônica. Por isso, não é incomum acontecerem naufrágios ou panes nos barcos devido a excesso de carga ou outras questões.
Um dos maiores naufrágios do Brasil em número de vítimas e o maior do Estado do Amapá, foi o caso do Novo Amapá, que ainda deixa marcas em quem presenciou a repercussão ou sobreviveu ao acidente que teve mais de 400 vítimas.
O Portal Amazônia relembra o caso. Confira:
Ocorrido em janeiro de 1981, a tragédia do Novo Amapá ocasionou a morte de cerca de 400 pessoas. Com quase uma tonelada de carga e levando quatro vezes a mais o permitido de passageiros, a sobrecarga da embarcação foi o fator crucial para o naufrágio. Quatro décadas se passaram e familiares de vítimas e sobreviventes nunca foram indenizados.
A tragédia
Seis de Janeiro de 1981. Essa é a data que ficará marcada na história dos amapaenses. Por volta das 14 horas da tarde o barco ribeirinho Novo Amapá partiu do Porto de Santana (Amapá) com destino a Monte Dourado. Ele ainda faria escala em Laranjal do Jari, outro município do Estado.
A embarcação tinha a capacidade de suportar cerca de 150 passageiros, o que foi registrado na Capitania dos Portos na época. Porém o que podia ser observado por quem passava no local era um barco com sobrecarga de tripulantes, de acordo com os relatos. Estima-se, segundo registros e com base no número de desaparecidos, que mais de 600 pessoas embarcaram no Novo Amapá naquela tarde.
Por volta das 20 horas, seis horas depois do embarque, o barco naufragou nas imediações da foz do Rio Cajari. Alguns sobreviventes contam sobre a rapidez do ocorrido e a dificuldade de sair do amontoado de mercadorias, cordas e lona. Na manhã do dia seguinte, a cidade estava de luto. Muitos buscavam notícias de sobrevivência de amigos e parentes, e em sua maioria, não tinham retorno.
Dezenas de caixões foram encomendados às pressas e houve um colapso no sistema funerário, uma vez que houve um esgotamento de urnas funerárias. Muitos corpos foram enterrados em valas coletivas, já que não havia espaço o suficiente para enterrá-los separadamente.
O naufrágio repercutiu internacionalmente, o jornal norte-americano The New York Times publicou matéria no dia 10 de janeiro na primeira página com o título ‘Tragédia na Amazônia: 282 mortos’. Contudo, até hoje não se sabe o número exato de vítimas na tragédia, que chega a ser mais da metade da tripulação que embarcou.
O desfecho
Na lista inicial de passageiros liberada pelo despachante Osvaldo Nazaré Colares, tinha registrado o número permitido de passageiros: 150. Ele afirmou na época que só foi informado do excesso após a embarcação ter partido há algumas horas.
Um dos do donos do barco morreu no acidente dentro de uma cabine e o outro, Manoel Jesus Góis, recuperou o barco que voltou a navegar. Até hoje, nenhum sobrevivente da tragédia ou familiares de vítimas receberam indenização e mesmo depois de quatro décadas ninguém foi responsabilizado pela tragédia.
Outros naufrágios
No mesmo ano da tragédia do Novo Amapá, ocorreu o naufrágio do barco Sobral Santos II que fazia o percurso de Santarém (PA) rumo à Manaus (AM). O barco saiu por volta das 18 horas do dia 18 de setembro de 1981. Esse trajeto era realizado semanalmente e durante o percurso, várias paradas eram feitas em alguns municípios, dentre eles Óbidos (PA), onde o naufrágio ocorreu. Cerca de 340 passageiros perderam suas vidas no acidente.
O navio saiu com sobrecarga de Santarém, com cerca de 530 passageiro e 200 toneladas de carga. No registro de tripulação, constavam apenas 430 nomes porém testemunhas afirmam que outros 100 tripulantes embarcaram de dois outros barcos que estavam em pane.
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