Chico Mendes: conheça a história do ambientalista acreano

Desde 1999, os ideais que Chico Mendes sonhou e ajudou a criar, são pautas de um governo verde inspirado em sua essência.

Chico Mendes nasceu no seringal Porto Rico, em Xapuri (Acre), em 15 de dezembro de 1944. Os pais moravam na colocação Bom Futuro. Em 1955 a família mudou-se para o seringal Equador, colocação Pote Seco, próximo ao seringal Cachoeira.

Aos 5 anos de idade ele já acompanhava o pai, em caminhadas pela mata. Aos 9, cortava seringa e produzia borracha. Aos 44, no dia 22 de dezembro de 1988, foi morto no quintal de sua casa, de tocaia, pelo peão Darci Alves, por defender a floresta e os que vivem nela. Aos 18 anos, ele conheceu Euclides Távora, pessoa que o iniciou na educação ensinando-lhe a pensar sobre injustiças sociais.

Euclides era comunista, ex-militante da coluna Prestes que se refugiara numa colocação vizinha, a três horas de caminhada pela mata. Chico passou a visitá-lo nos fins de semana para ouvir rádio (a pilha) e ler jornais, com orientação do novo amigo, através do qual, aprendeu como os ricos e poderosos exploravam as famílias trabalhadoras do meio rural e da cidade. E como os seringueiros eram cruelmente explorados por seringalistas.

Em 1965 Euclides Távora adoeceu, viajou em busca de tratamento e Chico nunca mais o viu. Entretanto, estava decidido a colocar em prática as lições do socialista para melhorar a vida dos companheiros da floresta. Chico sabia que o que os militares planejavam para a Amazônia não era bom para os seringueiros do Acre. De fato, os militares tentaram desenvolver a Amazônia com grandes fazendas, desmatando a floresta e substituindo o homem pelo boi.

Por iniciativa própria, a partir de 1971, ele organizou um grupo de alfabetização e passou a discutir a criação de cooperativas para conquistar a autonomia dos seringueiros.

Em 1975, ao saber que a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) iniciara a organização do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, foi para o município e tornou-se secretário-geral da entidade, que nasceu muito combativa sob a direção de Wilson Pinheiro.

Foto:Reprodução/Agência Acre

Cerca de 5 milhões de hectares (um terço da floresta acreana) estavam sendo adquiridos (com os seringueiros dentro) pelos novos patrões recém-chegados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O conflito entre seringueiros e pecuaristas se instalou na região e os Povos da Floresta organizaram os “empates” contra as derrubadas.

De 1975 a 1990 aconteceu o que pode ser chamada de segunda revolução acreana. Desta vez, comandada por seringueiros, posseiros, ribeirinhos e índios contra fazendeiros, grileiros e madeireiros. Estes, com a conivência de policiais, membros da justiça, políticos elitistas, cartórios, bancos e funcionários federais intensificaram as ações violentas contra o movimento dos seringueiros. Em julho de 1980, Wilson Pinheiro foi assassinado e Chico Mendes assumiu o comando do movimento através do Sindicato de Xapuri.

O novo líder conquistou aliados para a resistência acreana na cidade, no país e até no exterior. Em 1985 criou o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que colocou em discussão temas como reserva extrativista, exploração comunitária e racional da biodiversidade amazônica, unidades de conservação, demarcação de áreas indígenas, estudos de impacto ambiental nas estradas e outros projetos abertos na região.

Chico Mendes ganhou prêmios nacionais e internacionais e institucionalizou os “empates”. Sob sua liderança foi concretizada a união dos Povos da Floresta que sepultou a histórica e secular divergência entre índios e seringueiros ou ribeirinhos. Esses avanços representavam forte ameaça aos interesses dos poderosos , por isso, Chico teve sua morte anunciada. O tiro que o atingiu no peito no dia 22 de dezembro de 1988 ecoou no mundo e o transformou num símbolo da luta social e ambiental da Amazônia.

Legado

Foto:Reprodução/Agência Acre

A partir de 1989 foram criadas as Reservas Extrativistas onde os seringueiros permaneceram em suas colocações sem mais ameaças. A proposta tornou-se modelo de reforma agrária para a Amazônia Legal e outras regiões do país. Hoje os povos da floresta são libertos e defendem o desenvolvimento sustentável com base na exploração racional da biodiversidade amazônica. No Acre, mais de 50 por cento das terras estão protegidas por unidades de conservação e até os pecuaristas passaram a enxergar vantagens do manejo na exploração dos recursos naturais.

Desde 1999, os ideais que Chico Mendes sonhou e ajudou a criar, são pautas de um governo verde inspirado em sua essência. O planejamento, a ciência, a tecnologia e sobretudo a tradição acreana orientam a construção de uma nova sociedade amazônica.

A família

A memória de Chico Mendes expressa a figura típica da Amazônia com origens dramáticas singulares. O pai, também chamado Francisco, tinha os pés tortos que lhe dificultavam andar. Era um homem ríspido, mas inteligente e contestador das regras do seringal. A mãe, Iracê engravidou 19 vezes e morreu de parto aos 42 anos. Após sua morte, Chico passou a cuidar dos cinco irmãos mais novos enquanto o pai, cansado e doente trabalhava apenas na agricultura de subsistência.

Chico casou duas vezes: a primeira, em 1969 com Eunice Feitosa de Meneses, no seringal Cachoeira, – com quem teve duas filhas: Ângela Maria e uma outra que não sobreviveu. O casal separou-se e em 1971, então Chico conheceu Ilzamar, a bela jovem do seringal Santa Fé que se tornou mãe de Elenira e Sandino. A família, apesar dos encargos de sindicalista que o mantinha afastado, era sua grande paixão.

O Acre é hoje o estado amazônico mais conhecido no mundo por praticar a economia de baixo Carbono, com apoio de bancos internacionais como BID e Bird (americanos) e KfW (alemão). Seu “desenvolvimento sustentável” se mantém com a inspiração de Chico Mendes, que continua vivo na memória dos povos que defendem o meio ambiente global.

 
 
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