Amazonas pode sofrer com enchente da mesma magnitude que atingiu o Rio Grande do Sul? Especialista explica

Um cenário comum no dia a dia dos amazonenses. A cheia do Rio Negro. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Desde abril, o Rio Grande do Sul vem sofrendo com as consequências de uma enchente. Ao todo, dos 497 municípios, 449 foram afetados. Até a atualização do dia 15 de maio, foram registradas 149 mortes, 108 desaparecidos e mais de 800 pessoas feridas.

Para se ter uma dimensão da magnitude da enchente que castigou o estado gaúcho, os grupos Urbideias e Versa fizeram projeções da mancha de inundação sobre o mapa de diversas cidades, como por exemplo, Manaus, capital do Amazonas.

Porto Alegre ficou debaixo d’água. Foto: Ricardo Stucker/PR

De acordo com os grupos, os mapas apresentam apenas um comparativo do território afetado, “não sendo um mapeamento de áreas inundáveis nas cidades e tampouco de equivalência de população afetada, uma vez que topografia e densidade demográfica variam de cidade para cidade”. 

O Amazonas e a enchente

E você já imaginou a Amazônia vivendo um cenário desta magnitude? A equipe do Portal Amazônia conversou com o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Rogério Ribeiro Marinho, que ponderou sobre a possibilidade de uma tragédia parecida com a que ocorreu no Rio Grande do Sul acontecer no Norte do país.

Segundo Marinho, todo ano acontece o período de chuvas, que é a precipitação ocorrente em qualquer lugar, seja na Amazônia ou na região sul do país. Após essa precipitação cair na superfície, ela escoa para os canais e gera um período hidrológico diferente.

“A diferença principal do que acontece normalmente aqui na Amazônia e o que ocorreu no sul do Brasil, é a de condições atípicas. Uma delas foi o elevado volume de água concentrado. Em pouco tempo, choveu cinco vezes mais do que o esperado para o mês [no Rio Grande do Sul]. O volume foi tão grande que a bacia não deu conta de escoar toda a água”,

explicou.

De acordo com o professor, a Região Norte aguenta volumes de água elevados porque os rios possuem milhares de quilômetros de extensão. Por esse motivo,  a “onda” de cheia é lenta, mesmo quando alcança níveis recordes. “Temos épocas do ano que chove mais nos tributários da margem esquerda e outras na margem direita. Isso vai alimentar a calha principal dos rios Solimões e Amazonas. Quando eles começam a baixar as águas da chuva entram. Então acaba que esse pico de chuva fica atenuado na cheia”, explicou o especialista.

Leia também: Portal Amazônia responde: Por que as águas do rio Negro e do rio Solimões não se misturam?

Outro fator que difere os Estados é a topografia. Segundo Marinho, Porto Alegre possui uma grande área plana (terreno de planície), mas cercada por alguns morros.

Já a cidade de Manaus está sobre uma planície, mas com uma elevada rede de drenagem e terrenos mais baixos. “Dificilmente teremos um evento do mesmo tamanho, mas já tivemos eventos de chuva elevadas em poucos minutos que causaram alagamento pontuais na cidade”, destacou.

Toda a cidade poderia ficar debaixo d’água?

Em 2021, o Amazonas vivenciou uma cheia extrema, porém, as águas não chegaram a afetar a cidade no sentido de área urbana, como aconteceu no Rio Grande do Sul, que quase todo o Estado foi afetado pela enchente. “Isso acontece devido a amplitude do terreno”, reafirmou Marinho.

Na opinião do especialista é pouco provável que uma cidade como Manaus possa vivenciar algo como o que está acontecendo em Porto Alegre.

“Para acontecer algo desta magnitude em Manaus, teríamos que ter uma forte cheia no Rio Negro, algo sem precedentes, então o nível da água iria barrar o escoamento dos igarapés. Agregado a isso, um forte volume de chuva, essa água que precipitou não vai ter para onde ir. Com essa cadeia de eventos, os pontos mais baixos da cidade permaneceriam alagados durante algum tempo”,

revelou.
Grupos fizeram uma simulação da área afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul em outras cidades brasileiras, como Manaus. Imagem: Reprodução/urbideias/Versa

Porém, devido ao aquecimento global e pela presenças de eventos extremos como o fenômeno La Niña junto com alterações no padrão de circulação da atmosfera não é impossível observar um cenário da mesma magnitude no Amazonas.

“Se chover aqui no Norte de uma maneira nunca vista antes (por exemplo, cinco vezes mais que o normal), algo semelhante ao que está sendo observado no Rio Grande do Sul pode acontecer nas áreas mais baixas das cidades no Amazonas, principalmente durante o período de cheia dos rios”, disse Marinho.

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