Jonestown: relembre a história de um dos maiores massacres na Amazônia Internacional

Antes do ataque terrorista às Torres Gêmeas nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, foi na Guiana a maior tragédia contra civis.

Tragédias consistem em um acontecimento terrível, uma catástrofe, calamidade. Você provavelmente já deve ter ouvido falar no histórico e fatal 11 de setembro, mundialmente marcado pelo atentado às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, em 2001, que causou a morte de 2977 pessoas e mais de 6 mil feridos.

Contudo, antes disso, a maior tragédia ordenada contra civis registrada havia ocorrido na Amazônia Internacional, mais precisamente na Guiana. Em 18 de novembro de 1978, um total de 918 pessoas morreram no que foi uma mistura de suicídio coletivo e assassinatos em massa ocorridos em Jonestown, uma espécie de seita pentecostal cristã com viés socialista.

Apesar de algumas pessoas terem sido mortas a tiros e facadas, a maioria morreu após ingerir veneno misturado a um ponche de frutas. Tudo criado e ordenado por Jim Jones, pastor e fundador do ‘Templo Popular’. 

Contudo essa história começou duas décadas antes, com um projeto utópico iniciado em 1956, nos Estados Unidos.

O Portal Amazônia explica como uma seita que surgiu na América do Norte, passou pelo Brasil e culminou no maior suicídio coletivo da história na Guiana. Confira:

Foto: Reprodução/The Jonestown Institute

Contextualizando 

 A congregação ‘Templo do Povo’ surgiu em 1956 e já no início da década de 60 contava com cerca de 2 mil fiéis.

Mas afinal, qual foi a fórmula “secreta” para o sucesso? Jim Jones, o fundador do templo, seduzia fiéis com um discurso que unia o cristianismo pentecostal aos princípios de igualdade do socialismo e a luta contra o racismo.

Contudo, Jim Jones afirmava que tinha premonições de explosões, conflitos armados e guerras devido ao que intitulava como “consequências do individualismo ocidental”.

Em 1962, ao ler uma revista, encontrou o que acreditava ser um “sinal divino”: um artigo com nove lugares onde a vida humana não seria dizimada no caso de uma destruição nuclear e Belo Horizonte – capital de Minas Gerais, no Brasil –  estava em sexto lugar. 

Foi com essa informação que começou sua jornada pelo Brasil e que culminaria na Amazônia Internacional.

Tempo no Brasil 

Ao todo, Jim Jones permaneceu no território brasileiro entre abril de 1962 até dezembro de 1963 antes da Ditadura Militar. Inicialmente desembarcou em Campinas, no interior de São Paulo, com sua mulher e filhos.

Há registros desse período na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, porém não eram muito esclarecedores. Jones informou para a delegacia de estrangeiros apenas seu nome, data de nascimento e o local que se hospedaria, um hotel de luxo. Confira o registro:

Foto: Reprodução/Arquivo Público de São Paulo

Na mesma semana, a família chegou a Belo Horizonte, fixando residência em Santo Antônio, bairro de luxo da capital mineira. Em fevereiro de 1963, Jones mudou-se para o Rio de Janeiro, e seu tempo na capital carioca inspirou um conto que repetiria bastante no ‘Templo do Povo’, na Guiana: “Nos morros do Rio de Janeiro, eu me tornei comunista”.

Entretanto, assustado e impressionado com a violência que culminaria no golpe militar e após a renúncia do então presidente Jânio Quadros, resolveu retornar aos EUA. 

Jonestown

Até o ano de 1975, a seita aumentou consideravelmente sua influência nos Estados Unidos, com três filiais e mais de 20 mil simpatizantes.

Em junho do mesmo ano, membros da seita entraram na selva da Guiana pra iniciar a construção de ‘Jonestown’, que seria uma espécie de refúgio para que fiéis pudessem se abrigar de uma guerra nuclear e das ditaduras. Na época, Jim Jones declarou: “Nós temos um Hitler no Brasil”, referindo-se ao general Ernesto Geisel.

Em julho de 1977, o pastor se mudou para Guiana definitivamente e quase mil fiéis o acompanharam. 

A esperança aos oprimidos, o regime ditatorial

A Guiana foi escolhida tendo em vista que a população do país em sua maioria era negra, o inglês era sua língua oficial e o governo simpático ao socialismo, por isso o país sul-americano era considerado “perfeito” para atuação da seita.

Assim, o assentamento na Guiana, batizado de ‘Jonestown’, era atrativo pela promoção de ideais igualitários, como impor vestuário modesto, distribuição de comida no inverno e chegou a atrair fiéis de diversas raças e etnias. O local ainda tinha escolas, bangalôs, um pavilhão central e espaços para plantação de verduras e legumes.

Porém, a única forma de contato com o ‘mundo exterior’ era um rádio de ondas curtas. Existem relatos de que Jim Jones promovia um regime ditatorial com punições e vigilância armada para evitar fugas.

Com o tempo, negros passaram a acusar Jones de conceder privilégios aos brancos e as pessoas no geral começaram a questionar o grupo com a causa socialista.

Trabalho escravo, cárcere privado, racionamento de comida e sessões de tortura marcavam o dia a dia da comunidade. Moradores que desobedecessem às ordens de Jones eram submetidos a espancamentos, estupros “corretivos” e suturas sem anestesia. Às vezes, eram dopados à força e trancados em uma caixa subterrânea, onde perdiam os sentidos.

Além disso, denúncias de enriquecimento ilícito, assédio sexual, abuso psicológico e charlatanismo também começaram a aumentar. E cada vez mais Jim Jones tentava isolar seus fiéis. 

Conspiração e suicídio em massa

Com o tempo, Jones foi ficando cada vez mais paranoico com ameaças vindas do mundo fora da ‘Jonestown’ e o seu vício em drogas também o incentivou na ideia de que o povoado iria ser destruído por mercenários. De acordo com os relatos da época, para Jones a única solução estava na prática de um “suicídio revolucionário”.

Em 1978, alertado pela preocupação de parentes de integrantes da comuna, o deputado federal Leo Ryan viajou à Guiana com uma delegação de 18 pessoas para visitar a cidade da seita.

Depois de negociar a entrada no local, a visita ocorreu em 17 de novembro. No dia seguinte, Ryan e mais quatro pessoas morreram a tiros em uma pista de pouso próxima ao assentamento. E foi nesse dia, poucas horas depois, que ocorreu o suicídio coletivo, considerado o maior da história.

Os bebês e as crianças foram os primeiros a morrer, envenenados pelos pais, depois os idosos – pelas enfermeiras. Em seguida os animais de estimação e por fim os adultos caminharam até o púlpito e ingeriram uma mistura de cianeto e ponche.

Em meio aos cadáveres, investigadores do Departamento Federal de Investigação (FBI) dos Estados Unidos encontrariam pelo menos três notas de suicídio. 

A mais conhecida delas, anônima, continha um apelo: “Reúnam todas as fitas, todos os escritos. A história deste movimento deve ser examinada com cuidado e compreendida em todas as suas incríveis dimensões”. 

Dos pouco mais de mil moradores do templo, apenas 87 sobreviveram, sendo que 25 estavam em Jonestown no momento da tragédia. Laura Kohl foi uma das sobreviventes. Ela estava naquele dia na capital da Guiana, Georgetown, comprando mantimentos para a comuna. Ela é autora de um livro onde relata suas experiências no templo intitulado ‘Jonestown survivor: An Insider’s Look’.

ATENÇÃO, a imagem a seguir pode gerar gatilhos emocionais.

Foto: Reprodução/Aventuras na história

Setembro amarelo

Vale lembrar que o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio é celebrado em 10 de setembro e dedicado à conscientização e ação mundiais para evitar suicídios, com diversas atividades em todo o mundo desde 2003.

A campanha ‘Setembro Amarelo’ acontece nacionalmente desde 2015 e o mês de setembro foi escolhido para a campanha por conta da data.

Leia também: Ligação para prevenção ao suicídio é gratuita em todo o país

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