Saiba como criar animais silvestres como pets legalmente

Para realizar o processo de adoção desses animais, existem etapas e cuidados com os pets, desde alimentação até acompanhamento.

Ter um animal em casa além de ser uma boa companhia pode trazer uma melhora na qualidade de vida do tutor. Pesquisas apontam que, em geral, a convivência com animais de estimação reduz a sensação de solidão, a ansiedade e a depressão. Por isso, é bastante comum a presença de gatos e cachorros em residências. 

Leia também: Que tal conhecer alguns animais que são a cara da Amazônia?


Mas e quando o tutor deseja ter, por exemplo, uma coruja de estimação? A criação de animais silvestres, pouco convencionais ou até mesmo exóticos tem ganhado força nos últimos anos. 

O Portal Amazônia mostra como é possível obter animais silvestres de maneira legal e quais cuidados deve-se ter com esses pets. Confira:
O estudante de veterinária, Rafael, comprou seu primeiro animal silvestre há 3 anos, de maneira legal. Foto: Rafael Gonçalves/Acervo pessoal

Há três anos, o estudante Rafael Gonçalves, de 29 anos, decidiu adquirir legalmente um pet de estimação. O fato inusitado é que era um animal silvestre, que vivia até então em um criadouro legalizado. “Meu pai criava, então passei a estudar medicina veterinária e comecei a comprar legalmente através dos sites de criadouros legalizados pelo Ibama”, conta Rafael.

Atualmente, ele possui cinco cobras, uma coruja suindara, além de uma ave ring neck. No Brasil, a única forma de obter um animal silvestre legalizado por meio de um criadouro ou estabelecimento comercial autorizado pelo Ibama ou pelo órgão estadual/distrital.

Alimentação

Quanto à alimentação, cada animal tem suas particularidades dependendo da espécie. Rafael conta que com exceção da ave ring neck, que se alimenta de ração para aves, as serpentes e a coruja da espécie Tyto furcata, também conhecida como rasga-mortalha, se alimentam de pequenos roedores.

A médica veterinária Gisele Benzecry afirma que em Manaus (AM) há uma déficit em relação às rações para silvestres e que outro problema é a falta de informação por conta dos tutores.

Especialista em clínica e cirurgia de animais silvestres, Gisele atua na área há quatro anos e explica que para animais carnívoros, como as cobras, existem locais específicos para se conseguir alimento. “Existem biotérios que criam animaizinhos onde geralmente os proprietários ofertam como cobaias: camundongos e, dependendo do tamanho, coelhos. Mas não vivos, hoje em dia é até ilegal”, comenta.

Ela relata que muitos tutores que realizam captura do animal em áreas de mata ou compram ilegalmente, não costumam pesquisar muito sobre alimentos e os animais acabam adquirindo problemas crônicos ao longo da vida, o que resulta em necessidade de atendimentos e idas constantes ao veterinário.

Enriquecimento ambiental

Mesmo vivendo em criadouros legalizados por grande parte da vida, o animal silvestre precisa realizar atividades que façam com que ele se habitue à vida doméstica. Essa prática é conhecida como enriquecimento ambiental e incentivada pela veterinária.

Em relação às serpentes, pode-se fazer criatórios com muitas plantas e uma estação que possua água para elas beberem e se banharem. Para aves, existem vários brinquedos e ferramentas que podem fazer com que eles ocupem a mente e em geral, elas precisam de espaços horizontais, não verticais, como as pessoas costumam achar. Os cágados precisam de um ambiente seco e com água. Vários estudos mostram que o nível de estresse deles é até menos do que os de vida livre.

ressalta Gisele.

Práticas de enriquecimento ambiental melhoram o bem estar físico e psicológico das aves. Foto: Reprodução/

Rafael Gonçalves, que além de tutor dos animais, é acadêmico de veterinária, conta também que contribui com o enriquecimento do ring neck através do incentivo ao uso de cordas, escadas, madeiras, para ocupar o tempo. Já as suas cobras e coruja possuem tocas no substrato e bacias com água.

Com cuidados adequados, o ring neck pode viver até 30 anos. Foto: Rafael Gonçalves/Acervo pessoal

Manejo ilegal

De acordo com o artigo 29 da Lei nº 9.605/1988, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, a multa para quem mantiver animais desse tipo que não são legalizados varia de R$ 1.625,70 a R$ 16.250,00 por animal. O indivíduo também pode ser preso com pena de seis meses a um ano.

Gisele Benzecry conta que muitas pessoas “adotam” o animal após cair no quintal ou por estar machucado próximo à área de mata. Contudo, não é possível legalizar animais silvestres que foram comprados de forma ilegal.

Por isso, é importante sempre buscar criadores autorizados e que mantêm em boas condições o criadouro. No caso de o animal aparecer, seja machucado ou não, em casa, é necessário contatar autoridades competentes como o Ibama ou o Ipaam.

A veterinária conta que em quatro anos de atuação, recebeu por diversas vezes animais não legalizados e alerta para o fato de Manaus ser uma rota para o tráfico de animais, que são encaminhados para outros Estados como São Paulo e Rio de Janeiro.

Contudo, explica que quando recebe animais silvestres que precisam de atendimento veterinário, é o dever dela, como profissional atendê-lo:

“O veterinário tem a obrigação de atender qualquer animal, independente da origem, mas eu não tenho a obrigação de denunciar o dono e sim o traficante”,

ressalta.

Acompanhamento

Assim como animais domésticos, os silvestres também necessitam de acompanhamento periódico, nos quais são realizados exames de rotina para verificar como está a saúde. Rafael cita que leva seus bichos de seis em seis meses ao veterinário. Além dos animais silvestres, ele também cuida de dois cachorros em sua casa.

Gisele confirma a necessidade de atendimento periódico e indica no mínimo anualmente, com exceção de répteis, que são mais resistentes e de roedores, que recomenda realizar o “check up” de seis em seis meses devido ao risco de doenças infectocontagiosas.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Publicidade

Mais acessadas:

Fitoterapia brasileira perde a botânica e farmacêutica Terezinha Rêgo

Reconhecida internacionalmente, a pesquisadora desenvolveu projetos como a horta medicinal que beneficiou centenas de famílias periféricas no Maranhão e revelou revolta em caso que envolvia plantas amazônicas.
Publicidade

Leia também

Publicidade