O turismo foi um dos setores que mais cresceram no país, em 2022. De acordo com a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), realizada em outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado, o segmento apresentou uma alta de 34,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.
No Norte do país, o Pará destaca-se como um dos principais destinos de visitação. Com opções de praias, cachoeiras, parques com pinturas rupestres, rica culinária e cultura única, o Estado encanta os visitantes com a diversidade de opções, uma delas, a queridinha dos locais, especialmente em feriados prolongados, festas de fi m de ano e férias de julho, é a ilha de Algodoal.
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Paraíso ainda preservado, a ilha conta com praias exuberantes e natureza característica, com áreas de manguezais. A vila virou tema de dissertação da turismóloga Ana Paula Melo de Morais, que resolveu pesquisar a percepção dos moradores da vila de Algodoal acerca das transformações socioambientais causadas pelo turismo na região, em um período de 30 anos.
A pesquisa denominada ‘Turismo e transformações socioambientais na Amazônia: um estudo sobre a percepção dos residentes da vila de Algodoal – PA’ se concentrou na vila de Algodoal e na praia da Princesa, dois ambientes que, durante a alta temporada, recebem um fluxo elevado de turistas. Ana Paula foi técnica ambiental voluntária em Algodoal e, desde a graduação, desenvolve pesquisas na região.
“A dissertação, na verdade, foi a transformação do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Enquanto na graduação trabalhei com os resíduos sólidos gerados na alta temporada; no mestrado, optei por ir além, pesquisando sobre as transformações socioambientais, uma escala macro”, conta a pesquisadora.
Moradores identificam aspectos positivos e negativos no turismo
O estudo buscou investigar a percepção que os moradores da vila de Algodoal possuem acerca das transformações socioambientais que ocorreram nos últimos 30 anos na localidade. Para isso, os sujeitos envolvidos na pesquisa foram moradores que estão na vila há mais de 20 anos e possuem mais de 25 anos de idade (a quem foram aplicados questionários), além de líderes comunitários envolvidos, direta ou indiretamente, com o turismo na ilha (com quem foram realizadas as entrevistas).
Ana Paula utilizou a Teoria dos Campos de Pierri Bourdieu para fazer a análise dos resultados e, com a pesquisa, constatou que os moradores da região observam o turismo tanto de forma positiva quanto de forma negativa.
“Eu utilizei a Teoria dos Campos para analisar a fala dos comunitários e das lideranças. No campo dos líderes, percebi que o turismo é positivo, porque ele impulsiona a economia, mas, com relação aos comunitários, a percepção deles é que, apesar de [o turismo] ser algo positivo, traz aspectos negativos, como a especulação imobiliária”,
enfatiza.
A respeito da especulação imobiliária, a pesquisadora diz que muitos moradores vendem suas casas na região central da vila e migram para zonas que ficam em cima dos mangues, áreas que se configuram como ambientes impróprios para residir. “As pessoas que vêm de fora, ou até mesmo empresários, compram as casas que ficam no centro, para construir, e, assim, os moradores migram para a região do mangue onde constroem palafitas para morar”, comenta a turismóloga.
No que tange à preservação ambiental, a ilha de Algodoal possui um Plano de Manejo que estabelece as ações normativas que norteiam a utilização da Unidade de Conservação. No entanto, segundo a pesquisadora, durante a alta temporada, as autoridades encontram dificuldades em executá-lo, devido ao elevado número de visitantes, o que resulta em um acúmulo de poluição ambiental.
“Alguns dos visitantes não possuem consciência ambiental e acabam jogando também lixo em qualquer lugar, e daí surgiram muitos relatos de moradores que diziam que enquanto algumas pessoas vinham à ilha para se divertir, outras vinham apenas para destruir. Muitos colocaram [nos questionários] que, fora da alta temporada, a ilha é limpa e não possui poluição sonora; mas, quando chegam as férias e os feriados, o quadro é totalmente oposto”,
relata a pesquisadora.
Entre os fatores positivos constatados na pesquisa, a geração de renda é um dos principais. Todavia a pesquisadora afirma que a população local não sobrevive apenas do turismo, sendo necessário complementar sua renda com alguma outra atividade, geralmente a pesqueira, dado que Algodoal está localizado em uma região de costa marítima.
Sobre a pesquisa
A tese ‘Turismo e transformações socioambientais na Amazônia: um estudo sobre a percepção dos residentes da vila de Algodoal – PA’ foi defendida por Ana Paula Melo de Morais, em 2022, no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU), da Universidade Federal do Pará. A orientação foi do professor Sílvio José de Lima Figueiredo, com financiamento do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA).
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio/UFPA, edição 167, escrito por André Furtado.