Mini trilheira: menina de 2 anos sobe o Monte Roraima em uma tradição com os pais

Júlia Fernandes subiu ao Monte Roraima com o pai, Oziel Fernandes e a mãe, Raquel Souza. Com os amigos, família percorreu mais de 60 km para chegar até o topo da maior montanha plana do mundo, localizada na fronteira entre o Brasil, Venezuela e Guiana.

Já imaginou andar por oito dias, dormir em barracas e encarar mais de 2,8 mil metros de altura para passar por cachoeiras, jacuzzis naturais, formações rochosas inusitadas e encontrar uma vista de tirar o fôlego? Foi o que a pequena Júlia Fernandes, de 2 anos, fez ao subir o Monte Roraima, a maior montanha plana do mundo, situado na fronteira entre o Brasil, Venezuela e Guiana, ao lado dos pais.

A viagem aconteceu entre os dias 8 e 15 deste mês de julho. Júlia, o pai Oziel Fernandes, a mãe Raquel Sousa, e alguns amigos da família enfrentaram a trilha do monte, uma das 50 maravilhas do planeta, conforme o guia Lonely Planet, e percorreram cerca de 62 km. “Essa viagem me favoreceu uma conexão que ainda não existia com ela e dela com a montanha”, afirmou o pai.

“Ver a Julia descobrindo sentidos, se interessando, percebendo o mundo na natureza e em lugares tão lindos como o Monte Roraima é algo que vale o esforço. Não sei dizer o impacto que essas experiências terão na formação dela como pessoa”, 

completou Oziel.

Foto: Oziel Fernandes/Arquivo pessoal

O local faz parte de um conjunto de montanhas chamadas tepuis, formações em forma de mesa que parecem levantar do solo. Essas montanhas estão entre as mais antigas formações geológicas do planeta. Estima-se que tenham até dois bilhões de anos – para efeito de comparação, a separação dos continentes teve início há cerca de 200 milhões de anos.

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Oziel não sabe exatamente quando a ideia de subir o monte com a filha surgiu, mas acredita que sempre existiu. Durante uma trilha da “Pedra Lua”, na Serra Grande, no município de Cantá, Norte de Roraima, eles repensaram a ideia.

“Era uma trilha com pernoite, e no fim do dia essa ideia surgiu mais uma vez numa rodada de conversa. A Julia tinha 9 meses naquela época, e no planejamento feito ali mesmo no topo da Serra, ela subiria o Monte Roraima com 1 ano e 8 meses”, relembrou Oziel Fernandes.

Inicialmente a ideia pareceu desafiadora, principalmente para a mãe Raquel, já que a pequena ainda não andava ou falava, e seria difícil administrar as queixas dela em um ambiente com um percurso repleto de particularidades.

Apesar disso, Oziel acreditava que fazer a expedição com Júlia tendo 1 ano e 8 meses não seria um problema. Então, o casal marcou a data da viagem, que inicialmente seria em abril deste ano. Eles tinham um ano para realizar a preparação física, equipamentos e orçamento da viagem.

Foto: Oziel Fernandes/Arquivo pessoal

Mas a rotina, novos projetos e as prioridades não permitiram que a expedição fosse feita na data prevista. Os pais queriam executar o projeto e em junho, de forma muito aleatória, Oziel marcou uma nova data para a viagem.

“Eu marquei uma nova data com a intenção de encerrar o assunto e para minha surpresa seis dos nossos amigos concordaram com a data. A partir desse momento e com o pagamento das despesas já realizados, a expedição se tornou real e nosso prazo de preparação passou a ser de um mês, sem tempo para preparação física”, explicou.

A opinião da pequena também foi levada em consideração, embora não entendesse muito bem do que se tratava a viagem. Os pais conversaram com ela sobre o lugar para onde iriam, mostraram fotos, vídeos e perguntaram se ela gostaria de ir. Oziel acredita que ela entendeu, de alguma forma.

A expedição foi independe e o pai, que já conhecia o caminho do monte, ficou responsável pela organização dela. Já Raquel organizou tudo que era necessário para a filha, ela e o esposo. Durante a jornada eles seguiram uma dinâmica já conhecida: Oziel carrega Júlia e Raquel as tralhas dos três

O pai explica que esse esquema acontece por dois motivos: o comportamento da Julia quando perto da mãe e o peso e equilíbrio. Perto de Raquel, Júlia faz mais queixas “por colo, por peito e acaba sendo impraticável não ceder”.

A trilha do Roraima foi dividida em três dias, com tempo médio de quatro horas e meia de caminhada por dia. Para continuar em um bom ritmo, Oziel teve que se manter distante da esposa por quase todo o tempo de caminhada, com exceção dos momentos em que a filha precisava ser amamentada.

“Por outro lado, tive que contar infinitas histórias pra Julia, para mantê-la distraída, sabendo que a concentração de crianças com 2 anos duram poucos minutos”, 

lembrou ele.

O segundo motivo tem relação com as condições da trilha. Segundo o Oziel, as trilhas de ascensão geralmente tem um grau de dificuldade maior, devido à quantidade de pedras e locais escorregadios. Isso aumenta o risco de queda e, consequentemente, de problemas indesejáveis para quem está em locais remotos. Por isso, nesse percurso, era melhor que ele carregasse a pequena.

Os pais se ajudavam na hora de passar por determinados trajetos e os amigos também. As vezes eles paravam e Júlia tirava um cochilo nos braços da mãe.

No topo do Roraima, Oziel reproduziu a foto que tirou quando a filha ainda tinha 11 meses e que lembra a clássica cena do filme “O Rei Leão”, onde Simba é apresentado ao reino de Mufasa.

Ele explicou que a ideia original era fazer a foto na pedra “Mão de Deus”, famosa por proporcionar uma vista do alto da Serra do Tepequém, em Amajari, mas a ideia não foi concretizada. A foto seria a primeira de Júlia em ambientes naturais, considerando que o chá revelação dela ocorreu lá.

“Então, fizemos a foto meio que sem propósito lá na Serra Grande. Quando estávamos lá no monte, eu lembrei da foto e decidimos refazer lá”, explicou ele.

Foto: Oziel Fernandes/Arquivo pessoal

De volta ao Monte Roraima 

Essa não foi a primeira vez que os pais foram até o Monte Roraima. Raquel e Oziel se conheceram lá, durante uma expedição rumo ao platô da montanha, no ano de 2019. Voltar ao topo do maior monte plano do mundo, dessa vez com a filha, foi uma experiência significativa para o casal.

“Falar do que tudo isso representa, de como nos sentimos com a companhia dela em uma expedição de volta ao Monte Roraima é como falar da sensação de uma surpresa boa. É como acordar para o dia mais importante da sua vida. É estar na companhia das pessoas mais importantes do mundo”, afirmou Oziel.

“Eu poderia continuar descrevendo, sabe? É importante destacar o quanto esse compartilhamento beneficia uma relação, e o quanto nós nos alimentamos de forma positiva disso”, completou ele.

Antes de se conhecerem, os dois já tinha uma conexão com a natureza e depois que a Júlia nasceu, foi muito natural incluir ela nesse espaço. Inclusive, a relação de Júlia com a natureza começou antes dela nascer, quando ainda estava na barriga da mãe. Raquel descobriu a gravidez logo depois de fazer uma trilha para reconhecimento do caminho para a Serra da Trindade, em Mucajaí.

A ida até o Monte Roraima talvez tenha sido a trilha mais desafiadora em que Júlia já esteve, mas não foi a primeira. Desde os 5 meses de vida a menina acompanha os pais nas aventuras por trilhas do estado.

Os três já percorreram a rota de cachoeiras do Seu Evandro, na região de Campos Novos, em Iracema, município ao Sul de Roraima, trilhas na Serra Grande e algumas caminhadas e pequenas trilhas no município do Cantá.


*Por Yara Ramalho, do g1 Roraima

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