A adoção desse ensaio visa ampliar a oferta diagnóstica para a prevenção do surgimento de doenças com potencial para se transformar em epidemias ou pandemias.
O protocolo de diagnóstico por PCR em tempo real desenvolvido no Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) para a detecção do Oropouche, arbovírus emergente que causa sintomas parecidos com a dengue e que foi registrado em quatro Estados da Região Norte, em 2023, será utilizado por oito laboratórios públicos brasileiros por decisão da Coordenação Geral de Laboratório de Saúde Pública (CGLAB), do Ministério da Saúde, e, futuramente, em outros países da América. A ação faz parte da estratégia de vigilância de vírus emergentes no continente. A adoção desse ensaio visa ampliar a oferta diagnóstica para a prevenção do surgimento de doenças com potencial para se transformar em epidemias ou pandemias.
De acordo com o CGLAB/MS, no Brasil, os laboratórios dos Estados foram selecionados conforme o cenário epidemiológico. A previsão é de que, a partir de 2024, todos os Estados do País estejam realizando o diagnóstico. Os oito laboratórios centrais descentralizados são os Lacens Acre (AC), Amazonas (AM), Distrito Federal (DF), Goiás (GO), Maranhão (MA), Pará (PA), Rondônia (RO) e Roraima (RR). O vírus Oropouche é transmitido pela picada do Culicoides paraenses, popularmente conhecido como maruim. Um vetor secundário são os mosquitos do gênero Culex.
O atual surto causado pelo vírus Oropouche no Brasil, assim como a estratégia de diagnóstico e o protocolo para sequenciamento genético (parte da estratégia de Vigilância Genômica) foram apresentados pelo virologista da Fiocruz Felipe Naveca, durante a 14ª Reunião da Rede de Laboratórios de Arboviroses das Américas (RELDA), realizada entre os dias 15 e 17 de agosto, na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana, com a participação de diversos países, como Argentina, Estados Unidos, Cuba, México, Haiti, Costa Rica, Suriname e Bolívia, entre outros.
O evento, promovido pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) – Escritório Regional para as Américas da Organização Mundial da Saúde (OMS), tem como objetivo fortalecer a rede de vigilância molecular e os programas de controle de enfermidades na região das Américas. Felipe Naveca, que chefia o Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágico no Instituto Oswaldo Cruz (IOC-Fiocruz-RJ), coordena o Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes ou Negligenciados do ILMD/Fiocruz Amazônia e integra a Rede Genômica da Fiocruz, realizou apresentações em dois painéis: um sobre a ‘Situação da Vigilância Genômica da Dengue no Brasil’ e o outro sobre ‘Casos de Surtos do Vírus Oropouche na Região Norte do Brasil’. Segundo o virologista, o Oropouche foi encontrado em quatro Estados da Região Norte em 2023 e pode se tornar, a qualquer momento, um problema mais sério de saúde pública.
“Estamos vigilantes em relação aos novos casos e contamos atualmente com o apoio dos laboratórios centrais de referência estaduais habilitados a fazer a identificação, via PCR em tempo real, nos Estados do Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre, onde foram registrados casos esse ano”, explica Naveca. Segundo ele, os primeiros registros do atual surto de Oropouche no Brasil foram feitos no final de 2022 pelo Laboratório Central de Roraima. Na sequência, vieram os estados do Amazonas, Rondônia e Acre.
“Para se ter uma ideia, em Roraima temos mais casos confirmados para Oropouche do que para Dengue este ano”,
destaca.
Naveca ressalta que o Oropouche causa um quadro clínico muito parecido com o da dengue. “Clinicamente, é muito difícil de se diferenciar de um quadro de dengue, para isso necessita de um exame laboratorial”, observa, acrescentando que 95% dos casos confirmados este ano, no Brasil, foram diagnosticados via PCR em tempo real, utilizando o protocolo desenvolvido no ILMD. O evento, segundo o virologista, foi uma oportunidade de expor os dados resultantes do trabalho desenvolvido pela Fiocruz e os laboratórios de saúde pública do Brasil, que são parceiros da instituição.
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“Por meio do nosso trabalho de caracterização genética, utilizando ferramentas de vigilância genômica, foi possível demonstrar que todos esses casos do surto 2022-2023 são de uma mesma linhagem do vírus Oropouche que está circulando em pelo menos 18 municípios dos quatro estados, para os quais nós tivemos amostras investigadas”, afirmou.
Para o virologista, a oportunidade também serviu de alerta para os demais países da América que provavelmente já devem ter a circulação de Oropouche, sem um diagnóstico preciso. “Iremos ajudar na implementação desse ensaio em todos os países que tiverem interesse”, afirmou.
Dengue
Sobre a situação da vigilância genômica da dengue no Brasil, Naveca destacou que o cenário é bastante heterogêneo no País. “Temos Estados onde predomina o dengue 2 e em outros, o dengue 1, porém temos verificado um aumento do dengue 2 nos últimos anos com uma troca para um novo genótipo recentemente encontrado no Brasil que se chama cosmopolita, que está passando a ser o principal em alguns locais onde o dengue 2 é o sorotipo predominante”, afirmou.
No caso do Amazonas, houve uma mudança de cenário nos últimos anos, sendo hoje o dengue 2, genótipo cosmopolita, predominante. “Destacamos também que os estudos que fizemos em colaboração com outros pesquisadores da Fiocruz e outras instituições demonstram que esse genótipo do dengue 2 entrou pelo menos quatro vezes no país, e já está em todas as regiões. Outro destaque foi em relação à reemergência do dengue 3, detectado pelo Lacen/Roraima, onde nós trabalhamos em conjunto na caracterização de uma nova linhagem para as Américas”, observou.