Portal Amazônia responde: qual a diferença entre maruins e mucuins?

Responsáveis por causar irritação, vermelhidão e lesões na pele dos seres humanos, esses “bichinhos” são diferentes apesar de terem o nome parecido.

Quem realiza trilhas ou caminha por pastos e campos, tem uma grande possibilidade de se deparar com alguns “bichinhos” que acabam ferrando as pessoas, deixando uma coceira chata, causando irritação e vermelhidão em regiões do corpo, como braços e pernas.

Um desses insetos são os maruins, que possuem uma picada ardida. Mas também existe o mucuim, que acaba se alojando na pele, causando uma coceira irritante que dura dias, formando uma ferida.

Por conta dos nomes serem parecidos, muitas pessoas acabam confundindo os dois. 

O Portal Amazônia conversou com a pesquisadora na Fundação Oswaldo Cruz – Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), Emanuelle de Sousa Farias, para entender as diferenças entre eles.

“Primeiramente os maruins são insetos e os mucuins são aracnídeos. É importante esclarecer que o mucuim é a fase larval do carrapato, é nessa fase que mais ataca humanos, já os maruins são as fêmeas adultas que são antropofílicas. Diferente dos maruins que tem uma picada ardida, geralmente os mucuins tem uma picada indolor, mas causam uma coceira irritante por dias, que pode virar uma ferida”,

esclarece.

Maruins

Conhecidos como “maruim”, “meruim”, “mosquito pólvora”, “polvinha” e “mosquito do mangue”, são pequenos artrópodes da classe Insecta, ordem Diptera, pertencentes à família Ceratopogonidae, podendo medir de 1 a 3 mm de comprimento. Existem, em média 112 gêneros conhecidos, sendo quatro hematófagos (alimentam-se de sangue) de vertebrados, inclusive o ser humano, são eles: Austroconops, Culicoides, Forcipomyia (subgênero Lasiohelea) e Leptoconops

Machos e fêmeas dessa família alimentam-se de néctar de planta em busca de substância açucaradas, mas as fêmeas precisam de uma alimentação rica em proteína animal para maturação de seus folículos ovarianos. As fêmeas possuem aparelho bucal do tipo picador-sugador com mandíbula serrilhada, as espécies hematófagas são consideradas pestes, principalmente quando estão em abundância, devidos suas picadas que também podem causar reações alérgicas. Quanto ao ciclo de vida, esses insetos são holometábolos que passam por estágios de ovo, larva (quatro estádios), pupa e adulto.

Os maruins habitam praticamente em todas as áreas terrestres do planeta, desde o nível do mar em regiões costeiras até em altitudes elevadas. Preferem ambientes quentes e úmidos, com matéria orgânica em decomposição para o desenvolvimento das larvas que, dependendo da espécie, podem se desenvolver em ambiente aquático, semi-aquático e terrestre. 

Foto: Reprodução

Possuem uma diversidade de habitat como: cascas dos troncos, em musgos úmidos, fungos, fitotelmas, plantações de banana, cultivo de cacau de zonas urbanas e semiurbanas, pastagens, manguezais, corpos de águas salobras, pântanos de água doce, florestas úmidas, praias, montanhas, piscinas naturais, infiltrações, córregos, rios, lagoas, pântanos, lagos, substratos úmidos (como lama, material vegetativo em decomposição), mangues, abrigos de animais domésticos (de zonas rurais, periurbanas e urbanas). 

Mucuins

De acordo com a Emanuelle, os mucuins são a larva do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense). Os carrapatos são artrópodes ectoparasitas, da classe Arachnida, ordem Ixodida, que parasitam equinos, bovinos, cães, anta, capivara e até mesmo humanos. Ambos os sexos são hematófagos obrigatórios. Devido a hematofagia são transmissores de agentes patogênicos (vírus, bactérias e protozoários). 

Amblyomma cajennense sensu lato na verdade é um complexo de seis espécies e pertence à família Ixodidae. No Brasil são conhecidos quando na fase larval como “mucuim” ou “micuim”, na fase de ninfa como “carrapatinho” e na fase adulta como “carrapato-estrela”, “carrapato-do-cavalo”, “carrapato vermelhinho” e “rodoleiro”.

Os carrapatos passam por quatro estágios de vida: ovo, larva, ninfa e adulto, podendo ocorre de três maneiras, dependendo da espécie, pode apresentar: Ciclo monoxeno – neste caso, é necessário um único hospedeiro; Ciclo heteroxeno com dois hospedeiros – são necessários dois hospedeiros; ou Ciclo trioxeno – onde são necessários três hospedeiros para completar o ciclo biológico.

“O carrapato-estrela apresenta ciclo de vida trioxeno. As fêmeas depois de fecundadas e ingurgitadas caem no ambiente para oposição dos ovos. Após a eclosão, as larvas (hexápodes) procuram pelo seu primeiro hospedeiro, onde realizam o repasto de linfa, sangue e/ou tecidos. Quando ingurgitada as larvas caem no ambiente e ocorre a ecdise/muda transformando-se no estágio seguinte, as ninfas (octópodes), fixam-se em um novo hospedeiro, ingurgitam-se de sangue, sofrem nova ecdise/muda, transformando-se nos carrapatos adultos, aptos para parasitar novos hospedeiros. O carrapato tem um conjunto de receptores químicos e sensores de calor que ajudam a detectar os possíveis hospedeiros.”

 detalha.

Os mucuins habitam em locais ricos em vegetação rasteira e arbustiva, em climas úmidos ou secos, estão presentes no campo e na cidade e como dependem da presença de hospedeiros no ambiente para parasitar, gostam de estábulos, abrigos de animais e pastagens, passam a maior parte do tempo no ambiente (escondidos em frestas e em abrigos de animais, por exemplo) e procuram o hospedeiro apenas para se alimentar.

Foto: Divulgação

No hospedeiro a fêmea do carrapato-estrela quando fecundada e engorgitada, cai no ambiente e procura um local para se proteger, fazer a postura e depois morre, mas o macho fica por um período mais longo no corpo do hospedeiro à espera de outras fêmeas. 

Na fase de larva, o mucuim sobe na vegetação e fica a espera para se agarrar a um novo hospedeiro, que após alimentação caem novamente no ambiente procurando abrigo na vegetação para fazer a ecdise/muda. 

Na fase de ninfa, os carrapatinhos ficam na vegetação a espera de um novo hospedeiro, que diferentes das larvas, podem fazer busca ativa, pois possuem melhor habilidade para percorrer pequenas distâncias. Após a ninfa alimentar-se em um novo hospedeiro, cai ao solo a procura de abrigo na vegetação para realizar uma segunda ecdise/muda para à fase adulta.

O que eles podem causar ?

Segundo a pesquisadora, nem o mucuim nem o maruim são venenosos. No caso dos maruins, devido ao hábito hematofágico, além das picadas ardidas, podem causar urticária, dermatites e até infecções secundárias, podendo transmitir patogênicos como vírus, protozoários e nematoides filariais, principalmente por espécies de Culicoides.

“São vetores biológicos de vários protozoários hemosporídeos. Além dos simulídeos, também estão envolvidos na transmissão das filárias Mansonella ozzardi e Mansonella perstans ao homem e outros primatas. Alguns estudos indicam que espécies de Culicoides e Forcipomyia estão envolvidos na transmissão da Leishmania. Algumas espécies de Culicoides também são incriminadas na transmissão de vários arbovírus, os agentes etiológicos mais estudados são o Vírus da Língua Azul (VLA) em animais e o vírus do Oropouche (VORO) no homem. O VLA pertence à família Reoviridae e gênero Orbivirus, que causa a doença da língua azul, que acomete animais como ovinos, caprinos, bovinos e cervídeos, caracterizada por lesões inflamatória e ulcerada em mucosas e bandas coronárias, causando abortos, congestão, salivação e em algumas vezes provocando suas mortes. Existem mais de 50 espécies envolvidas na transmissão do VLA em vários países, para a América do Sul, Culicoides insignis é o principal vetor.” 

afirma Emanuelle.

Já no caso dos mucuins, eles possuem importância médica e veterinária, causando uma certa preocupação. Algumas espécies podem ser vetores de vírus, bactérias, protozoários e helmintos. Podem transmitir bactérias que causam a doença de Lyme, febre maculosa ou ehrlichiose ou protozoários que causam babesiose. 

Os carrapatos do gênero Amblyomma, como o carrapato-estrela, são responsáveis pela manutenção da Rickettsia rickettsii na natureza, uma bactéria da ordem Rickettsiales, família Rickettsiaceae e gênero Rickettsia. No vetor ocorre a transmissão transovariana e transestadial, permitindo que o carrapato permaneça infectado durante toda a sua vida, podendo transmitir a bactéria em qualquer fase da vida parasitária.

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