Com o início do verão amazônico, queimadas se intensificam em Rondônia. Terra Indígena Karipuna é apontada em estudo com uma das mais afetadas.
O mês de junho marca o início do verão amazônico em Rondônia– período de estiagem das chuvas e queda na umidade relativa do ar. Também é o mês em que começam a se intensificar as queimadas na região. De acordo com o MapBiomas, mais de 83% das queimadas em todo o país se concentram nessa época do ano.
Uma pesquisa da universidade norte-americana Harvard indica os impactos da inalação da fumaça gerada pelas queimadas na saúde humana. O destaque vai para o povo Karipuna, apontado como um dos mais afetados.
Segundo a médica Mariana Bezerra, o prejuízo à saúde não se restringe ao sistema respiratório. O contato com a fumaça pode afetar diversas áreas do corpo.
“Muita gente acha que queimada só vai dar alguma alteração no sentido da parte respiratória. Que vai piorar muito a questão de asma, questão de bronquite, como as pessoas falam. Mas a fumaça pode trazer problemas para nariz, voltados para a pele, porque é um poluente. A poluição não vai atingir só a parte respiratória, ela pode atingir outros órgãos, principalmente de contato”,
explica.
Para quem já possui problemas respiratórios, no entanto, a situação pode se agravar nesse período. “Se você já é um paciente que tenha doenças respiratórias, vocês tem que estar com tratamento em dia, precisa estar com a medicação em dia ou ter um plano de ação para quando tiver a crise. Isso vai auxiliar também bastante. Então teve falta de ar, ficou com a boca a roxa e ficou cansado, pálido, teve muita febre… É a hora de procurar o atendimento médico.”
Os prejuízos são sentidos também por quem mora longe das cidades. A terra indígena Karipuna foi a mais desmatada em 2022 entre as 69 TI que ficam no entorno da BR-319, de acordo com dados do Observatório Rondônia. Também foi uma das mais afetadas pelas queimadas.
Um artigo publicado por um pesquisador de Harvard indica que há riscos e danos à saúde na América Latina causados pela inalação de fumaça das queimadas. Esse estudo ainda revela que a maioria das mortes evitáveis devido a essa inalação aconteceram no Brasil.
“A fumaça das queimadas é extremamente tóxica. Todos nós sabemos que tem uma série de impactos a saúde e tem causado mortes prematuras que são absolutamente evitáveis em decorrência dessa emissão excessiva de fumaça. Entre entre 2014 e 2019, essa mesma pesquisa indicou que tivemos 12 mil mortes evitáveis, sendo pelo menos 230 em territórios indígenas aqui no Brasil. Esse é um quadro muito ruim que mostra a relação entre degradação ambiental e impacto a saúde humana, inclusive em comunidades e povos mais vulneráveis, como os povos indígenas”, explica o pesquisador do Observatório Rondônia, Vinícius Raduan.
A Amazônia é apresentada no estudo como estando duas vezes mais exposta a essas mortes evitáveis.
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“A Ecoporé tem feito um levantamento de dados sobre essa relação meio ambiente e direitos humanos, e impactos socioambientais. Nesse campo estamos coletando dados não só sobre queimadas, mas também desmatamento, degradação ambiental em terras indígenas, grandes desmatadores e essa relação com o financiamento, inclusive o político-eleitoral. Então nosso olhar é voltado para relação: violação de direitos humanos, meio ambiente e saúde”,
complementa o pesquisador
Quem vive na TI Karipuna relata os impactos do problema. Segundo o líder indígena André Karipuna, o período do verão amazônico é visto com grande preocupação devido o aumento no número de queimadas e também das invasões.
“Nós do povo Karipuna vivemos sofrendo com grandes impactos como queimadas no território, os invasores que estão entrando no território. Esse ano também a gente está com uma preocupação muito grande agora que está começando o verão. Ano passado prejudicou muito a nossa saúde, devido as queimadas a destruição e devido aos grileiros que estão queimando e entrando no território Karipuna”, denuncia.
O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Rondônia, César Luiz Guimarães, acompanha de perto essa região e aponta os motivos para tanta fumaça em um território específico.
“As terras indígenas Karipunas estão cercadas por três grandes regiões que foram desmatadas em nosso estado que são: Resex Jaci-Paraná, o Parque estadual Guajará-Mirim e a região de Nova Mutum. Essas três regiões são as regiões que mais desmataram e que estão ao norte, ao sul e na posição noroeste da terra Karipuna. Claro que existe uma concentração muito grande de fumaça nessa região dos Karipunas. Todos os anos a gente observa que a região de Porto Velho acaba sendo a região mais poluída, muitas vezes até do planeta, como aconteceu ano passado”.
Dados do Imazon apontam que a área de floresta desmatada da Amazônia Legal em 2022 foi a maior dos últimos 15 anos. Para esse ano, já foi feito o alerta para o avanço do crime ambiental.
“Nós aumentamos em praticamente 20% o número de brigadas para fazer o combate de incêndio. Estamos contando hoje com 217 brigadistas contratados do Estado, isso distribuídos em 8 brigadas, inclusive com duas brigadas indígenas para trabalhar no nosso estado e no sul do Amazonas. Temos uma quantidade maior de equipamentos, chegou um caminhão tanque especializado para fazer o combate de incêndios na floresta e estamos com a brigada de pronto emprego, que é mais ou menos uma brigada de elite para o combate em qualquer região do estado”, finaliza o superintendente do Ibama.