Maria da Luz Aires da Silva coleciona seis passeios e planeja viagem para fora do Estado: ela quer conhecer o Jalapão, no Tocantins.
Superando os obstáculos impostos pela idade, a aposentada Maria da Luz Aires da Silva provou que ainda há muito sangue jovem circulando em suas veias. Aos 82 anos, ela coleciona aventuras de seis trilhas que dão acesso às cachoeiras da Gran Sabana, uma das principais zonas turísticas no Sul da Venezuela, região que faz fronteira com Roraima. “Gosto demais de aventura, da natureza”, diz ela.
Para chegar ao ponto turístico, Maria vai para Pacaraima, cidade na fronteira do Brasil com a Venezuela. No município, mora a estudante Érika Aires, de 27 anos, uma dos oito netos da aposentada. E é de lá, em família, que ela sempre embarca para os passeios.
“Ela [a neta] gosta muito dessas coisas, dessas trilhas e me leva. Aí, acostumei. Não planejo. Eu chego lá e nós já vamos indo”, conta a vovó aventureira.
A aventura mais recente dela para o país vizinho aconteceu no dia 17 de setembro. Além da idosa, o filho de Érika, bisneto de Maria da Luz, também embarcou no passeio. Bento Aires tem apenas 1 ano e a família já o transformou em um trilheiro.
Fora esta última viagem, Maria já havia realizado outras cinco aventuras no município, todas sem planejamento algum. Ela se considera uma “vovó aventureira” por ter coragem para viver a vida com coragem.
“Eu tenho coragem, sabe? Gosto de gente que tem coragem. A vida é hoje, não é amanhã. Ninguém sabe quem vai estar vivo amanhã”
aconselha.
Neta incentivou
À convite da neta, ela começou a fazer trilhas em 2019, mas interrompeu a adrenalina por conta da pandemia da Covid-19. Já vacinada e com saudade das aventuras, ela decidiu se arriscar mais uma vez este ano.
Maria da Luz lembra que quando era mais jovem e morava no Tocantins, Estado onde nasceu, ela também fez algumas aventuras. Uma delas foi quando subiu uma serra em uma motocicleta.
“Uma trilha em que eu subi uma serra e desci pelo outro lado dela”, lembra. “Cheguei em cima da serra de noite e dormi lá, escutando os bichos gritarem, com medo dos bichos me comerem”, brinca.
O trajeto para a Gran Sabana foi feito em um carro e o restante a pé. Durante o caminho, Maria não poupou energias para ver o que tanto gosta: a paisagem e as águas: “Eu gosto, eu gosto mesmo. Eu gosto demais, não gosto de sair para a casa de ninguém, mas eu gosto demais de aventura, da natureza. Eu nasci e me criei na fazenda, sabe? Eu gosto”.
Para ela, a parte mais difícil da trilha foi a descida para ter acesso as cachoeiras. A idosa explicou que as “pernas são ruins para descer os degraus” que o percurso possui, mas teve muita assistência de Érika, de outra neta e dois de seus oito filhos.
“As minhas pernas são ruins para descer os degraus, mas eles [a família] sempre me ajudavam para descer e para subir também. Mas para subir os degraus eu acho melhor”, relatou Maria
Jalapão nos planos
Ela garantiu que vai aceitar qualquer aventura que aparecer. Além disso, pela primeira vez está planejando uma viagem. A idosa quer conhecer o Jalapão, o principal atrativo turístico do Tocantins.
O lugar é cheio de cachoeiras de águas transparentes, uma nascente em que você nunca afunda, fervedouros e até dunas no meio do cerrado. “Na hora que aparecer [a oportunidade] eu vou”, garante.
‘Disposta e corajosa’
A neta de Maria, Érika Aires, fica feliz pela conquista da avó, de conseguir encarar os desafios da natureza e aproveitar os bons momentos, e a define como uma mulher disposta e corajosa.
“Minha avó sempre foi muito disposta e corajosa. Levá-la para trilhas e cachoeiras é emocionante, porque tiramos ela da rotina e da monotonia do dia a dia”, resume a neta.
Durante as viagens, a neta conta que a avó usa protetor solar, equipamento de trilha e tem, principalmente, pessoas que possam dar assistência em alguma situação mais arriscada.
Aos mais jovens, a idosa dá o recado: “Sejam sempre corajosos, façam tudo que queiram fazer, tudo a gente faz. Viver é o hoje, a gente vive o hoje. O amanhã ninguém sabe se está bem ou não, né? E o hoje a gente vive. A gente pensando em fazer, a gente faz. Tendo coragem, Deus ajuda e a gente faz”.
*Por Yara Ramalho e Caíque Rodrigues, do Grupo Rede Amazônica