O registro foi feito em um pôr do sol no alto dos 850 metros da Serra Grande, um dos pontos turísticos famosos no Estado. Bebê já participou de três trilhas com os pais.
“Desde o dia em que ao mundo chegamos, caminhamos ao rumo do Sol” Este é um trecho da música ‘Ciclo sem fim’, do filme ‘O Rei Leão’, sucesso entre adultos e crianças. A cena clássica, em que Simba é apresentado ao reino de Mufasa, também marcou gerações e, agora, de certa forma, faz parte da vida da família de Júlia Fernandes, uma bebê de 11 meses que estrelou, junto do pai dela, uma foto que lembra a referência de sucesso.
O registro foi feito em um pôr do sol no alto dos 850 metros da Serra Grande, um dos pontos turísticos de Roraima. Após uma longa trilha, a segunda da vida de Júlia, Oziel Gomes Fernandes, de 35 anos, ergueu a filha, e a mãe, Raquel Sousa Fernandes, fez a foto.
Desde os 5 meses de vida a bebê acompanha os pais nas aventuras por trilhas do Estado. O casal afirma que esta é uma forma de conectá-la à natureza, proporcionando uma “construção de memórias.” Nas aventuras, cada um tem uma função: o papai Oziel é quem carrega a neném. A mamãe Raquel fica responsável por “levar as tralhas” dos três. A da Júlia é aproveitar o ambiente e curtir a natureza.
“Amo ver os dois juntos. Eu vou atrás registrando cada passo, cada carinha que ela faz, queremos que ela cresça tendo esse contato com a natureza”, afirma Raquel.
“Gosto de pensar que estamos construindo memórias, tanto pra mim quanto pra ela. Além disso, há muita aprendizagem e troca em uma atividade como essa, como confiança, amizade e companheirismo. Isso porque os obstáculos são vencidos em equipe, de outra forma é muito mais difícil. Por isso, ao mesmo tempo em que me sinto feliz fazendo o que gosto com minha família, me sinto responsável por dar a ela uma boa experiência”,
resume Oziel.
Bebê aventureira
A relação de Júlia com a natureza existe desde que ela estava na barriga da mãe Raquel. Ela descobriu a gravidez logo depois de fazer uma trilha para reconhecimento do caminho para a Serra da Trindade, em Mucajaí, no Sul de Roraima. “Ela esteve com a gente nas trilhas desde o primeiro mês de gestação. Depois que ela nasceu, a primeira trilha que fizemos foi em Campos Novos, na cachoeira do Sr. Evandro, quando tinha cinco meses”, relembra o pai.
E, além do preparo físico exigido para encarar as trilhas, os pais de Júlia precisaram fazer adaptações para garantir a segurança da bebê diante às adversidades encontradas na natureza. Para isso, antes de definir um roteiro, eles analisam a exposição ao sol, chuva, frio, água, alimentação, locais de pernoite e, um dos itens principais: uma mochila em que Júlia fica sentada nas costas do pai – tudo para que ela fique confortável e possa ter a melhor experiência nas caminhadas.
“Mesmo já tendo carregado minha mochila em vários terrenos, carregar minha filha foi uma experiência que me exigiu certa adaptação. Isso porque é uma atividade de muitos riscos, desde aqueles que podem ser controlados, até aqueles nos quais não temos muito poder de atuação”, diz o pai.
“Durante as caminhadas, precisei ter mais noção do espaço, durante os movimentos que eu preciso fazer, para protegê-la de galhos, folhas e dos impactos causados”
completa Oziel.
“Nossos amigos de trilha sempre ajudam também. Alguns vão orientando onde pisar, por onde passar, no meio do caminho outros me ajudam com a mochila, e assim vamos, todo mundo se ajuda”, conta a mãe.
As situações inusitadas também fazem parte das aventuras, e por meio das dificuldades e acontecimentos indesejados, Oziel e Raquel se adaptam a cada trilha com a Júlia.
“Na primeira trilha nós esquecemos a rede de camping no carro, e ela teve que dormir no colo. Lembro de uma parada que fizemos em que ela dormiu por cerca de uma hora. Aquela trilha foi um sinal de que precisávamos ser mais cuidadosos. Quando estamos com uma criança, tudo gira em torno da segurança e bem-estar dela”, alertam.
Pesquisadora da área de psicologia ambiental e professora da Universidade federal de Roraima (UFRR), Daniele Rosa, avalia que a interação de bebês com a natureza é importante para o desenvolvimento pois estimula as habilidades sensoriais.
“Bebês aprendem observando e vivendo as experiências junto com os pais. Então, quanto mais tempo de interação esse bebê tiver com a natureza, será melhor para o desenvolvimento social cognitivo. Estar em ambientes naturais, principalmente desenvolvendo atividades prazerosas, trazem um fenômeno que a gente chama de ‘restauração da tensão’, que é um potencial restaurador da natureza, nos ajuda a descansar. Várias pesquisas mostram que essa prática ajuda os estímulos sensoriais do bebê”, explica.
Antes de completar 1 ano de vida, Júlia já subiu a Serra Grande, fez a trilha para a Cachoeira do Evandro e foi até a Pedra da Oração, um mirante no Cantá. “Como ela tá crescendo, em cada trilha ela se comporta de forma diferente. Na primeira trilha, ela só ficou animada no início, e depois de algum tempo começou a se entediar. Tivemos que fazer várias paradas para amamentar e dormir. Na segunda trilha, em que fomos para a Serra grande, ela já tinha oito meses e ficou o tempo todo atenta com a paisagem, queria tocar as plantas, ria sozinha, enfim, foi muito divertido pra ela, principalmente com vento lá no topo da Serra”, relembram.
E se depender do “reinado” aventureiro dos pais, Júlia vai seguir caminhando rumo ao sol, como sugere a trilha sonora de “Rei Leão”.
*Por Ian Vitor Freitas, do Grupo Rede Amazônica