Plantações de cafés robustas são mais comuns na Amazônia devido ao clima. Foto: Paula Labòissiera/ Agência Brasil
A cafeicultura tem ganhado destaque na Amazônia, principalmente em estados como Rondônia, que desponta como um dos maiores produtores de café da região. Entre as espécies cultivadas, duas se sobressaem: o café arábica (Coffea arabica) e o café robusta (Coffea canephora), cada uma com características distintas de cultivo, sabor e uso comercial.
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O café arábica representa cerca de 70% da produção global e é tradicionalmente cultivado em altitudes mais elevadas, muitas vezes como “café de sombra”, adaptando-se bem a climas mais amenos. Possui sabor mais suave e complexo, com notas aromáticas que variam entre chocolate, caramelo, frutas cítricas e flores, dependendo do processo de torrefação e da região onde é cultivado. Além disso, contém menor teor de cafeína em comparação ao robusta.

Já o café robusta responde por 30% da produção mundial e é mais resistente a pragas, doenças e variações climáticas. Sua principal variedade cultivada no Brasil é o conilon, e ele se desenvolve bem em altitudes mais baixas. Seu sabor é mais forte, amargo e marcante, e seu teor de cafeína é superior ao do arábica, o que o torna ideal para cafés solúveis e blends industriais. Na Amazônia, especialmente em Rondônia, o robusta tem se destacado e ganhado reconhecimento nacional e internacional.
Rondônia é considerada hoje o maior estado produtor de café da Amazônia e já recebeu diversos prêmios da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), como no concurso Brasil Artesanal 2024, em Brasília, onde cafés especiais torrados da categoria canéfora conquistaram os cinco primeiros lugares. Esse reconhecimento fortaleceu a identidade dos “Robustas Amazônicos”, uma denominação usada para o café resultante do cruzamento de cultivares de conilon e robusta.
A qualidade e a sustentabilidade do café robusta produzido em Rondônia levaram ao seu reconhecimento como Patrimônio Cultural e Imaterial do estado, por meio da Lei nº 5.722, sancionada em janeiro de 2024. A legislação reforça a importância histórica e econômica do café para o estado e reconhece o trabalho de centenas de produtores familiares que atuam na produção do grão há gerações.

Os Robustas Amazônicos também receberam a primeira Indicação Geográfica com Denominação de Origem (DO) para café canéfora sustentável, destacando o perfil sensorial diferenciado da bebida, com notas de chocolate, madeira, frutas, especiarias e ervas. A qualidade do café também é resultado de investimentos em melhoramento genético, realizados desde 2003 pela Embrapa Rondônia em parceria com produtores, universidades e outras instituições de pesquisa.
De acordo com o pesquisador Marcelo Curitiba, da Embrapa Café, os cafés clonais da Amazônia são frutos de cruzamentos naturais feitos por agricultores da região, que aprenderam técnicas de clonagem e selecionaram plantas com alta produtividade. Essas plantas passaram a ser usadas na produção de mudas clonais, renovando as lavouras e modernizando a cafeicultura regional nos últimos anos.
“Esses cafeeiros híbridos reúnem características predominantes do café robusta e tiveram origem em processos de cruzamento natural, realizados por agricultores de diferentes localidades da Amazônia, que aprenderam a técnica de clonagem e passaram a selecionar plantas com elevado potencial de produção, nas lavouras comerciais. As plantas obtidas foram utilizadas como matrizes na produção de mudas para formação de novos plantios e serviram como base genética para renovação do parque cafeeiro da região, nos últimos dez anos”, explica o pesquisador.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) aponta Rondônia entre os cinco maiores produtores de café do Brasil, ao lado de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Bahia. Atualmente, a cafeicultura amazônica é considerada uma atividade sustentável e estratégica para o desenvolvimento rural, e seu avanço se reflete na criação de viveiros credenciados para a multiplicação de mudas clonais com qualidade genética e sanitária em larga escala.
Além disso, há um esforço coordenado para expandir a cultura dos Robustas Amazônicos para outros estados da Amazônia Legal, como Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Mato Grosso. Os estudos em andamento buscam identificar os clones mais adaptados a cada região, promovendo a diversidade genética e a adaptação local.
Vitrine do Café Amazônico
A participação do café amazônico em feiras e eventos internacionais, como o Exporta Mais Brasil, também tem sido um fator decisivo para ampliar o mercado consumidor. Empresários de diversos países já demonstram interesse no café robusta da Amazônia, impulsionando a exportação e incentivando práticas sustentáveis.
O café, além de seu papel cultural e econômico, consolida-se como uma das principais cadeias produtivas em expansão na Amazônia, refletindo a capacidade da região de aliar tradição, inovação e sustentabilidade.
