Trinta e quatro terras indígenas do Acre podem ser afetadas com aprovação do marco temporal. Foto: Odair Leal/Secom AC
Pelo menos 34 terras indígenas no Acre podem ser questionadas caso o marco temporal seja incorporado à Constituição. É que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), aprovada no Senado na última semana, estabelece outubro de 1988 como a data para a demarcação de terras indígenas no Brasil.
📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp
No Acre, a análise mostra que áreas homologadas após 1988, processos incompletos e terras ainda sem reconhecimento formal estão entre as mais vulneráveis. Na prática, se as comunidades não comprovarem que estavam nas terras nesta data, poderão ser expulsas caso a proposta seja aprovada na Câmara dos Deputados.
O texto foi aprovado por 52 votos a favor e 14 contra em uma primeira votação e por 52 votos a favor e 15 votos contra na segunda votação. Todos os três senadores do estado se posicionaram favoráveis à PEC.

Leia também: Mineração em Terras Indígenas é retirada de proposta da comissão que discute Marco Temporal
Em 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a aplicação dessa data para demarcar os territórios. No mesmo ano, o Congresso tornou lei projeto que valida justamente o argumento vedado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Recentemente, o ministro Gilmar Mendes, do STF, votou para declarar inconstitucional o trecho da lei sobre o marco temporal. O posicionamento de Gilmar foi acompanhado pelos ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin. Com isso, o placar está 3 a 0 pela derrubada do trecho da lei sobre o marco temporal.
O tema fica em deliberação na página do Supremo na internet até esta quinta-feira (18), se não houver pedido de vista (mais tempo de análise) ou de destaques (leva o tema ao plenário presencial).
O estado reúne 80 etnias indígenas e 31.699 pessoas indígenas, segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Feijó concentra o maior número de indígenas (2.345), enquanto Rio Branco possui a maior diversidade de etnias (51) e línguas faladas (25).

Leia também: Luta indígena enfrenta marco temporal e tenta “aldeamento do Estado”
Com base nas informações disponíveis no site Terras Indígenas no Brasil, foram reunidas as datas de homologação das terras indígenas do Acre que podem ser afetadas. São elas:
- Alto Rio Purus – 1996
- Jaminawa do Alto Rio Purus – 1996
- Cabeceira do Rio Acre – 1998
- Colônia Trinta e Um – 1998
- Jaminawa Arara do Rio Bagé – 1998
- Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira – 1998
- Ashaninka do Rio Amônia – 1992
- Kampa do Rio Amônea – 1992
- Terra Indígena Murunawa – 1992
- Arara do Igarapé Humaitá – 2006
- Kaxinawá do Baixo Rio Jordão – 2003
- Kampa do Igarapé Primavera – 2001
- Kaxinawá da Praia do Carapanã – 2001
- Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu – 2001
- Poyanawa – 2001
- Terra Indígena Jaminawa do Envira – 2003
- Riozinho do Alto Envira – 2012
- Terra Indígena Riozinho do Andirá – 2012
- Seringal Guanabara – 2013
- Arara do Rio Amônia – 2023
- Rio Gregório – 2023
- Kaxinawá da Colônia Vinte e Sete – 1991
- Igarapé do Caucho – 1991
- Kaxinawá da Nova Olinda – 1991
- Kaxinawá do Igarapé do Caucho – 1991
- Kaxinawá do Rio Humaitá – 1991
- Kaxinawá do Rio Jordão – 1991
- Katukina Kaxinawá – 1991
- Nukini do Rio Moa – 1991
- Terra Indígena Alves de Barros – 1991
- Terra Indígena Mamoadate – 1991
- Terra Indígena Kulina do Rio Envira – 1991
- Kaxinawá do Rio Muru – não homologada
- Terra Indígena São Paulino – não homologada
Marco temporal representa retrocesso
Após a aprovação, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) afirmou que a PEC representa um retrocesso institucional grave e viola direitos originários, considerados anteriores ao Estado.
O órgão também destacou que a regra baseada em uma data específica desconsidera modos de vida tradicionais e aumenta a instabilidade jurídica, além de favorecer conflitos e ameaças às comunidades.
*Por Jhenyfer de Souza, da Rede Amazônica AC
