Foto: Vanessa Monteiro/Ufra
O açaí, fruto essencial para a cultura e alimento base da população amazônica, tem enfrentado um dilema crescente: sua ascensão como alimento global tem gerado pressão pela produção e ameaçando a biodiversidade da região. O Pará é responsável por cerca de 90% da produção nacional do fruto.
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Segundo o professor Marcos Antônio Souza dos Santos, que atua na área de Economia Agrária e dos Recursos Naturais na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), nos últimos cinco anos, os preços da rasa de açaí (um cesto de 28 quilos) no Pará têm crescido aproximadamente 6% ao ano já descontado o efeito da inflação, revelando uma forte tendência de valorização.
“Esse comportamento dos preços chama a atenção, pois tem ocorrido mesmo diante do aumento médio de cerca de 5% ao ano na produção de açaí cultivado em áreas de terra firme, o que, somado à produção extrativista, deveria exercer pressão de baixa nos preços”, diz.
O pesquisador destaca que isso está ocorrendo em função de o açaí ter se consolidado nas últimas décadas como o principal produto da bioeconomia amazônica, com forte inserção nos mercados nacional e internacional.
“O fruto, que antes atendia o consumo local e regional, passou a integrar cadeias produtivas globais na indústria alimentícia, cosmética e de suplementos nutricionais. Essa expansão de mercado tem feito a demanda crescer em ritmo superior ao da oferta, sustentando os preços em níveis elevados, mesmo com a expansão da produção”, alerta.
Ele diz que essa dinâmica exige a ampliação da adoção de boas práticas de manejo nos sistemas de cultivo em terra-firme e nas áreas de extrativismo.
“Nos cultivos em terra-firme, a adoção de técnicas de irrigação eficiente, manejo nutricional, produção em sistemas agroflorestais diversificados são fundamentais para incrementar a produtividade e sustentabilidade dos sistemas de produção. Já nas áreas de várzea e de extrativismo, é fundamental promover o manejo adequado dos açaizais nativos, garantindo manutenção da biodiversidade e a regeneração natural das espécies”, afirma.
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Sistemas agroflorestais (SAFs)
Uma das alternativas diante desse cenário são os Sistemas Agroflorestais (SAFs), solução encontrada para garantir tanto a produção local quanto a preservação, como defende o professor José Sebastião Romano, do campus Ufra Capitão Poço.
O professor José Romano diz que implementação de SAFs oferece uma alternativa para que as comunidades garantam o seu próprio açaí e consumo local, combatendo a ameaça de ficar sem o produto devido à exportação e à monocultura.

“Nesses sistemas, o agricultor consegue congregar em uma mesma área, não somente o açaí, mas outras espécies que os nossos antepassados já produziam nos tradicionais sítios. Essa agrobiodiversidade se traduz em inúmeras vantagens. Mesmo que o açaí seja o produto principal, ou o carro-chefe, o sistema mantém a diversificação”, diz o professor.
Ele destaca que o maior benefício que os SAFs proporcionam é comida de verdade. “Isso garante a soberania alimentar, que é o conceito de saber de onde vem o alimento e consumir produtos naturais gerados na própria comunidade, como o açaí, o cupuaçu, cacau, pupunha, entre outros. A implementação de SAFs oferece uma alternativa para que as comunidades garantam o seu próprio açaí e consumo local, combatendo a ameaça de ficar sem o produto devido à exportação e à monocultura”, afirma.
O professor coordena o Núcleo de Agricultura Familiar e Agroecologia (NEA/UFRA), onde pesquisadores e alunos atuam junto aos agricultores, aprendendo e ensinando sobre novas tecnologias de adubação, manejo das árvores, empreendedorismo e cooperativismo. “Quando você escuta o agricultor, ele vai falar muito mais do que você pergunta. E aí que está a diferença do nosso trabalho”, afirma.
Além de agricultores do município de Capitão Poço, os trabalhos também envolvem agricultores de Irituia, São Domingos do Capim, São Miguel do Guamá, Mãe do Rio, Ourém, São Domingos do Capim, bem como outras localidades do entorno. Só no município de Irituia, o professor diz que já foram catalogados cerca de 500 pessoas com SAFs ( quintais produtivos).
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O professor coordena o Núcleo de Agricultura Familiar e Agroecologia (NEA/UFRA), onde pesquisadores e alunos atuam junto aos agricultores, aprendendo e ensinando sobre novas tecnologias de adubação, manejo das árvores, empreendedorismo e cooperativismo. “Quando você escuta o agricultor, ele vai falar muito mais do que você pergunta. E aí que está a diferença do nosso trabalho”, afirma.
Além de agricultores do município de Capitão Poço, os trabalhos também envolvem agricultores de Irituia, São Domingos do Capim, São Miguel do Guamá, Mãe do Rio, Ourém, São Domingos do Capim, bem como outras localidades do entorno. Só no município de Irituia, o professor diz que já foram catalogados cerca de 500 pessoas com SAFs ( quintais produtivos).
Diversidade
Segundo o professor, os SAFs são um sistema dinâmico, que torna possível garantir o consumo e ainda geram produtos para comercialização. Ele explica que em um quintal agroflorestal amazônico, há uma enorme biodiversidade de espécies frutíferas, como açaí, biribá, limão, goiaba, cacau, cupuaçu, além de espécies oleaginosas, arbóreas e maderáveis. Um tipo de diversidade que garante o que chama de sazonalidade produtiva, ou seja, em cada época do ano, o agricultor tem uma fruta diferente para colher.
“Além disso, os SAFs proporcionam o controle biológico natural de insetos, utilizando a diversidade de seres presentes, como passarinhos que comem lagartas e minhocas que melhoram o solo”, diz.

E cita um exemplo de um agricultor do município de Limoeiro do Ajuru, onde foi ministrar aula. O agricultor produzia e vendia açaí, a partir de um SAFs. “Ele tinha um plantio imenso de açaí, mas também tinha andirobeira, taperebazeiro, caju, tinha outras espécies de palmeiras, em uma área altamente diversificada, mas o açaí era o principal”, diz.
O professor diz que cada agricultor tem dinâmicas diferentes. “O que para uns é difícil, o outro já faz assim maravilhosamente bem. Em São Domingos do Capim, por exemplo, diziam que na beira do rio não se produzia “nada”. Mas eles não só produzem, como fazem o manejo do açaí e vendem na entresafra. Ou seja, a entressafra é época que eles ganham mais dinheiro”, lembra.
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Crise climática
O Professor defende que os Sistemas Agroflorestais são a uma alternativa não só para a Amazônia, mas para o mundo, especialmente para enfrentar a questão climática. Ele explica que os SAFs conseguem gerar uma série de serviços ambientais, como o Sequestro de Carbono, pois quando há diversidade de espécies na mesma área, o sequestro de carbono é maior; microclimas, pois o sistema torna a área mais adequada para a agricultura e controle da erosão e proteção do solo, já que as árvores ajudam a controlar a erosão.
“Além disso, a decomposição das folhas e galhos proporciona a proteção e melhoria natural do solo, mostrando que as árvores são auto-sustentáveis”, diz. E por fim o professor cita a proteção das fontes hídricas, pois a diversidade de espécies em torno das nascentes dos igarapés garante que a água não seque. “Eu defendo a produção com conservação”, afirma.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela UFRA, escrito por Vanessa Monteiro
