Imagem de microalga encontrada no Pará vence prêmio nacional de ilustração científica

Produzida no Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura do Museu Goeldi, a imagem vencedora é resultado do primeiro levantamento das comunidades de algas microscópicas da Ilha de Cotijuba.

Foto: Reprodução/Acervo MPEG

Uma fotografia da diatomácea Polymyxus coronalis foi a vencedora na categoria de microscopia eletrônica do Prêmio Hermes Moreira Filho de Ilustração Científica no I Encontro Brasileiro de Diatomologia, realizado entre os dias 2 e 6 de dezembro. A imagem foi produzida pelo biólogo Leonardo Rocha no Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).

Leonardo Rocha produziu a imagem como parte de sua pesquisa de mestrado, em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Oceanografia da Universidade Federal do Pará, sob a orientação da paleontóloga Ana Paula Linhares (Museu Goeldi) e co-orientação da botânica Pryscylla Denise (Universidade Federal do Maranhão). O estudo de Rocha é o primeiro levantamento realizado por meio de biomonitoramento de comunidades de diatomáceas na Ilha de Cotijuba, parte da Região Metropolitana de Belém – Pará, que inclui 42 ilhas.

As diatomáceas são algas microscópicas unicelulares também denominadas de algas douradas e que pertencem à classe das Bacillariophytas. Elas possuem tamanhos que variam entre 5 μm–0,5 mm. São microrganismos adaptáveis, resistentes e sensíveis a variações ambientais, como mudanças de temperatura, pH, nutrientes, luminosidade, entre outras. As diferentes espécies de diatomáceas estão amplamente distribuídas ao redor do mundo e são as principais microalgas presentes nos estuários amazônicos.

A Polymyxus coronalis é uma das microalgas estudadas atualmente por Leonardo em seu mestrado. Com aparência semelhante a uma coroa, os pesquisadores descrevem a Polymyxus coronalis como “a reinante da Baía do Guajará” ou “a rainha das águas amazônicas”.

Essa diatomácea está presente em todo o Estuário Guajarino, que abarca a Ilha de Cotijuba e a cidade de Belém. Pryscilla Denise, especialista em diatomáceas, destaca dois fatos que tornam a Polymyxus coronalis muito interessante para a ciência: a espécie é capaz de indicar a água salobra da Amazônia e não há registros da Polymyxus coronalis fora da região amazônica.

Por sua vez, Ana Paula Linhares destaca a relevância científica deste biomonitoramento. “Cotijuba faz parte da porção insular do município de Belém e tem enfrentado um acelerado processo de urbanização nas últimas décadas. Dessa forma, este estudo pioneiro não apenas contribuirá com dados inéditos sobre a biodiversidade local, mas também fornecerá uma visão abrangente da qualidade dos ecossistemas aquáticos amazônicos”.

O biomonitoramento é uma técnica que avalia a qualidade ambiental de um local por meio da análise das respostas de organismos vivos. Essa técnica é utilizada para monitorar a qualidade da água, do ar, de áreas contaminadas, e para avaliar impactos ambientais. O biomonitoramento é uma ferramenta importante para a conservação da biodiversidade e proteção dos ecossistemas.

Além de contribuir para o entendimento da biodiversidade local, o registro da Polymyxus coronalis por meio de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) feita por Leonardo Rocha é inédito. Descrita no século XIX por naturalistas para o Rio Pará, é a primeira vez que se faz uma microscopia eletrônica desse material. Pryscilla Denise assinala: Na época [da sua descoberta e descrição científica] só era desenho. A fotografia é muito importante porque consegue caracterizar e avançar no conhecimento da Polymyxus coronalis”.

Leonardo Rocha explica que o uso do Microscópio Eletrônico de Varredura é possível ter uma imagem de alta resolução da microalga. “Diferente do microscópio de luz, o MEV dá uma resolução e ampliação da amostra muito maior e melhor [até 50 mil vezes mais], e a gente consegue ver vários detalhes. Ele utiliza feixe de elétrons que são lançados na mostra gerando uma imagem no monitor do aparelho”.

A fotografia produzida por Leonardo Rocha teve o apoio do pesquisador Hilton Tulio Costi, coordenador do Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura do MPEG. Essa premiação coloca mais uma vez em evidência a importância dos laboratórios multiusuários do Museu Goeldi.

Laboratório de Microscopia Eletrônica de Varredura – O LME é parte do conjunto de laboratórios institucionais do Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG instalado na Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (COCTE), no Campus de Pesquisa da instituição. Criado no ano de 2000, com recursos dos fundos setoriais (CT-PETRO/MPEG), este laboratório tem como principal objetivo apoiar projetos de pesquisa do MPEG, mas também atende usuários de instituições que atuam em parceria com o MPEG, da comunidade científica nacional e como prestador de serviços a empresas públicas e privadas. Seu trabalho beneficia os programas de cursos de pós-graduação no Museu Goeldi, de instituições do Estado do Pará e de outros estados brasileiros.

Atualmente o LME do MPEG é apoiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas.

I Encontro Brasileiro de Diatomologia

O objetivo do primeiro encontro, evento virtual que ocorreu entre os dias 2 e 6 de dezembro, foi reunir pesquisadores de todo o Brasil para fortalecer a comunidade científica que estuda as diatomáceas, a partir do compartilhamento de conhecimentos. A proposta visa estimular o desenvolvimento acadêmico e científico entre pesquisadores de diferentes níveis de experiência, além de promover discussões sobre metodologias avançadas e técnicas analíticas.

*Com informações do Museu Goeldi

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