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Buscando oferecer soluções sustentáveis para o tratamento de águas escuras (esgoto sanitário), um projeto idealizado pela professora Marcela Cunha, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), vem desenvolvendo fossas ecológicas em comunidades rurais de Tomé-Açu, no nordeste do Pará.
O projeto, que iniciou em 2023, nasceu da necessidade local de tratar esgoto, especialmente na zona rural, onde a ausência de sistemas adequados é uma realidade crítica. A iniciativa utiliza a tecnologia de fossas ecológicas ou bacias de evapotranspiração (BET), que combinam materiais de baixo custo e reaproveitados, como entulhos, pneus usados e restos de construção, para criar um sistema fechado e eficaz de tratamento.
“Na montagem da fossa, são utilizados materiais para impermeabilizar as paredes e o fundo com lona, tela de viveiro e reboco cimentício. Depois é montado uma galeria de pneus que é coberta pelos entulhos e restos de materiais de construção como areia, seixo, brita ou o que estiver disponível. A última camada é de terra preta, para a plantação das bananas, taiobas e mamoeiros”, explicou Marcela Cunha, professora da Ufra e idealizadora do projeto.
A professora explica que toda essa estrutura é sustentável e ecologicamente responsável. “A BET é um sistema fechado de tratamento de água escura [esgoto sanitário]. A tubulação que sai do vaso sanitário chega na BET e desce até o túnel de pneus. Lá dentro, vai ocorrer a fermentação da matéria orgânica contida na água escura. Em seguida, a água entra em contato com as diferentes camadas que existem dentro da BET: camada de entulho grosseiro, pedra, restos de cerâmica, seixo, brita e areia. Nestas camadas, os processos de filtragem e decomposição continuam, dando origem aos nutrientes orgânicos que vão ser absorvidos pelas raízes das plantas que sobrepõe a BET, como bananeiras, mamoeiros, taiobas e etc. Vale ainda lembrar que as plantas eliminam a água do sistema por evapotranspiração”.
O principal objetivo do projeto é fornecer às comunidades rurais um sistema acessível e replicável para o tratamento de esgoto, evitando a contaminação do solo e dos recursos hídricos. Até o momento, seis BETs foram instaladas, beneficiando diretamente mais de 30 pessoas em cinco famílias da comunidade quilombola de Marupaúba.
Além disso, o sistema foi implementado na Associação Agropecuária do Vale do Acará, servindo como ponto de demonstração da tecnologia durante eventos agropecuários. A escolha de Marupaúba, uma comunidade localizada a 46 km de Tomé-Açu, se deve à necessidade de evitar a contaminação do solo próximo ao poço artesiano que abastece os moradores locais.
O projeto já capacitou moradores de três comunidades: Nova Vida, Itabocal Ponte e Marupaúba, para construir BETs, promovendo autonomia e sustentabilidade. A expectativa é instalar mais de 10 BETs até o final do projeto, com a implementação de sistemas em outras comunidades quilombolas e ribeirinhas da região.
Além das famílias diretamente atendidas, toda a comunidade se beneficia da redução na contaminação ambiental. “Sem esse sistema, as águas provenientes do vaso sanitário seriam lançadas diretamente no solo, contaminando o lençol freático e as fontes de abastecimento da população”, concluiu Marcela Cunha.
*Com informações da Ufra