Esses rios ainda são nossas ruas? Estudo avalia condições dos terminais hidroviários paraenses

Por apresentar uma vasta rede de rios, a Amazônia é considerada uma das regiões com potencial elevado para o desenvolvimento do transporte hidroviário.

Foto: Alessandra Serrão/Comus

Águas barrentas, com tons cinza, além de refrescarem, carregam histórias, banham culturas e deságuam no oceano. Rasgando cidades e vilarejos, os rios, sempre associados à  biodiversidade, na Amazônia são também vias de acesso. O vaivém das águas carrega consigo animais, pessoas e produtos por uma via de transporte que é considerada sustentável e de baixo custo: as hidrovias.

Sabendo do potencial que a Região Norte apresenta nesse modal de transporte (meio pelo qual pessoas ou mercadorias são movidas de um lugar para o outro), o engenheiro de produção Guiler Oliveira Garcia Júnior desenvolveu a dissertação ‘Preposição de um instrumento para avaliação dos terminais hidroviários de passageiros: estudo de caso no estado do Pará‘.

O estudo teve como objetivo avaliar os terminais hidroviários paraenses, aplicando questionários que mediam o grau de satisfação em relação aos serviços ofertados. “Investigar os problemas e buscar soluções pode contribuir, significativamente, para melhorar a infraestrutura e os serviços de transporte fluvial, promovendo, assim, o desenvolvimento da região e melhorando a qualidade de vida da população dependente desse meio de transporte”, enfatiza Guiler Garcia, que, em seu estudo, analisou três terminais, sendo dois em Belém – Terminal Hidroviário do Porto de Belém Luiz Rebelo Neto e Terminal Hidroviário Ruy Barata –, e um em Salvaterra – Terminal Hidroviário de Camará.

Hidrovias desempenham importante papel na Amazônia

Por apresentar uma vasta rede hidrográfica, a Amazônia é considerada uma das regiões com potencial elevado para o desenvolvimento do transporte hidroviário, visto que este apresenta uma série de vantagens, como transporte de cargas e pessoas, integração regional, acesso a áreas remotas, redução de custos e preservação ambiental.

O pesquisador analisou os terminais da Ilha do Marajó, local de grande fluxo na região, para compreender o funcionamento do sistema de transporte hidroviário no Pará. Em seguida, realizou visitas técnicas nos terminais selecionados para a dissertação, levantando dados e avaliando a infraestrutura e a qualidade dos serviços prestados, por meio de entrevistas e aplicação de dois questionários. O primeiro foi elaborado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e direcionado aos gestores dos terminais. O segundo foi elaborado pelo autor e respondido pelos usuários desses espaços.

Dessa maneira, o questionário Antaq permitiu conhecer a estrutura dos terminais, a logística operacional do setor portuário e os fatores que influenciaram a qualidade dos serviços ofertados. “O terminal de Belém, segundo os estudos da Antaq de 2013 e 2018, foi o melhor avaliado entre os terminais pesquisados na Amazônia. Nesta pesquisa, ele também foi o melhor avaliado, até porque é o terminal que realiza viagens intermunicipais e interestaduais, também é de onde saem as linhas com as maiores concentrações de passageiros”, explica o engenheiro.

Terminais não atendem a requisitos dos usuários

Os terminais de Belém, Combu e Camará obtiveram avaliações distintas dos usuários, mas enfrentam problemas semelhantes. “Os usuários consideraram bom o serviço ofertado pelo terminal hidroviário de Belém’. Já o terminal do Combu, reformado recentemente, foi classificado como ‘regular’, isto é, ele não está preparado para atender à população. O de Camará foi considerado ‘ruim’ pelos usuários. Existem elementos para o funcionamento normal do terminal, porém a estrutura não apresenta um padrão de qualidade satisfatório”, afirma o pesquisador.

Itens como segurança, estacionamento, organização no embarque e desembarque, entre outros, foram mencionados pelos passageiros. “O último item dos questionários pede uma sugestão: ‘o que pode ser melhorado? Qual sua sugestão?’ Os três terminais obtiveram resultado semelhante, como falta de segurança e policiamento, falta de capacitação dos prestadores de serviço e falta de informação, principalmente para os turistas”, enfatiza Guiler Garcia.

Ampliação de estacionamentos, disponibilização de funcionários para o auxílio no embarque e desembarque e criação de um site com informações atualizadas para os passageiros são algumas das ações apontadas, na dissertação, como forma de melhorar os serviços prestados. Guiler Garcia afirma, ainda, que a classificação dos transportes hidroviários na região amazônica vai mudar de acordo com o aspecto que está sendo avaliado. Para o pesquisador, o investimento em infraestrutura é essencial para garantir maior eficiência dos terminais.

“A condição dos portos na Região Norte do Brasil varia consideravelmente. No Pará, o governo do estado vem investindo na infraestrutura hidroviária, fazendo a readequação e construção de novos terminais. Embora já exista uma preocupação com o cumprimento de parâmetros de segurança e qualidade, ainda falta fiscalização e transparência dos órgãos reguladores”, finaliza o engenheiro.

Transporte hidroviário

Vantagens

Baixo nível de perdas e danos
Maior vida útil da infraestrutura portuária
Tráfego 24 horas/dia
Menor congestionamento de tráfego

Desvantagens

Baixa velocidade de operação
Rotas limitadas
Mais burocracia para documentação de mercadorias
Investimento inicial em veículos elevados

Fonte: Garcia Júnior, 2023.

Sobre a pesquisa

A dissertação Preposição de um instrumento para avaliação dos terminais hidroviários de passageiros: estudo de caso no estado do Pará foi defendida por Guiler Oliveira Garcia Júnior, em 2023, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Naval (PPGNAV/Itec), da UFPA, com orientação do professor Mounsif Said.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, edição 172, da UFPA, escrito por André Furtado

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