Pesquisa identifica propriedades benéficas à saúde no chocolate paraense e subprodutos do cacau

O consumo pode auxiliar na prevenção de diversas doenças como diabetes, câncer ou Alzheimer.

De que forma o consumo de chocolate pode influenciar a saúde de pessoas com diabetes, câncer ou Alzheimer, além de prevenir o surgimento de doenças? A pergunta foi o ponto de partida para os estudos de Giulia Lima, pesquisadora do Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (Cvacba), laboratório da Universidade Federal do Pará (UFPA) e instalado no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá. A pesquisa busca avaliar a quantidade de compostos benéficos presentes no cacau paraense e em seus subprodutos, como chocolate, manteigas, chás, entre outros.

Ao longo da história, há registros de que o cacau vem sendo utilizado para tratar uma ampla variedade de doenças e, recentemente, os estudos fornecem evidências de que ele realmente oferece benefícios para a saúde porque possui diversos compostos bioativos. 

Isso se dá em função das propriedades antioxidantes das amêndoas, que combatem radicais livres do corpo, influenciam o sabor da iguaria e são maiores até mesmo que as do vinho e chá verde. Giulia explica que a análise de compostos bioativos é essencial para melhorar a produção e atestar a qualidade das amêndoas.

Foto: Ayla Ferreira/Fundação Guamá

“O cacau tem vários compostos bioativos diferentes com funções positivas para o organismo. Por isso é importante fazer essa qualificação. Por exemplo, se quisermos produzir um chocolate funcional que previne o envelhecimento precoce e o desenvolvimento de diversas doenças, incluindo câncer e doenças cardíacas, é possível escolher as amêndoas de cacau que possuem maior quantidade desses compostos para atender a necessidade dos consumidores que têm interesse nessas propriedades”,

explica Giulia.

De acordo com a pesquisadora, é possível aproveitar melhor as propriedades do cacau consumindo produtos derivados menos processados, como os nibs. Se optar pelo chocolate, que contenha entre 70% e 80% de cacau. A intenção no laboratório é selecionar as amêndoas para manter os benefícios medicinais no produto final, evitando perdas nas etapas de processamento. 

A pesquisa é realizada em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca (Sedap) e a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que forneceram amostras de 19 tipos de cacau dos 20 mais produtivos.

Foto: Ayla Ferreira/Fundação Guamá

Protagonismo paraense

O estado do Pará é o maior produtor de cacau no país, responsável por 50,32% da produção nacional, de acordo com Levantamento Sistemático de Produção Agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), e conta com o maior banco de material genético do fruto do mundo, abrigando mais de 53 mil plantas. Os frutos analisados pela pesquisadora são todos da espécie Theobroma cacao L.

Foto: Ricardo Amanajás/Arquivo Agência Pará

Giulia explica que as diferenças no sistema de produção do cacau no Estado influenciam diretamente o produto final. 

“Aqui no Pará nós temos o cacau de várzea, que cresce em áreas alagadas e não existe em nenhum outro lugar no mundo. Como o cacau é uma planta nativa, ele cresce perto de outras espécies, o que faz com que a amêndoa e o fruto tenham, por exemplo, notas de banana por crescer perto de uma bananeira. Ele tem propriedades aromáticas e nutricionais únicas”.

 

No PCT Guamá, o Laboratório de Análise Sensorial do Cvacba oferece suporte e tecnologia de ponta para os produtores de cacau, fornecendo a certificação que garante a qualidade do produto final em todas as suas características, como sabor, cheiro, odor, cor e textura.

“Recebemos amêndoas do lote de um produtor e fazemos a avaliação para definir se a matéria-prima dele é segura para a produção de chocolate. Há critérios sobre isso. Minha pesquisa auxilia nessa resposta ao produtor, que irá saber qual é o melhor tipo de amêndoa para produzir o que ele planeja e o mercado demanda”, conta a pesquisadora.

O Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia

Atua em áreas como bioprospecção de espécies e controle de qualidade de materiais de origem vegetal, com serviços de atividade residual enzimática, análises de cacau, chocolate e derivados, açaí, entre outros.

Projetos privados e públicos, vinculados ou não ao parque, podem acionar o PCT Guamá e seus laboratórios. Interessados devem entrar em contato pelo e-mail servicos@fundacaoguama.org.br ou pelos telefones (55) (91) 3321-8908 e 3321-8909. 

Inovação na Amazônia 

O PCT Guamá é uma iniciativa do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica (Sectet), que conta com a parceria da UFPA, Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e gestão da Fundação Guamá.

É o primeiro parque tecnológico a entrar em operação na região Norte do Brasil e tem como principal objetivo estimular a pesquisa aplicada e o empreendedorismo inovador e sustentável.

Situado em uma área de 72 hectares entre os campi das duas universidades, o PCT Guamá conta com mais de 30 empresas residentes (instaladas fisicamente no parque), mais de 60 associados (vinculadas ao parque, mas não fisicamente instaladas), 12 laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de processos e produtos, com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará (Eetepa) Dr. Celso Malcher, além de atuar como referência para o Centro de Inovação Aces Tapajós (Ciat), em Santarém, oeste do Estado.

Membro da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), da Associação Internacional de Parques de Ciência e Áreas de Inovação (Iasp), o PCT Guamá faz parte do maior ecossistema de inovação do mundo. 

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