A tradicional festa acontece na cidade de Parintins, nos estado do Amazonas e atrai milhares de turistas não só de outros estados, mas do mundo todo.
Após dois anos sem acontecer, o Festival de Parintins retornou ao calendário festivo dos brasileiros em 2022. A tradicional festa acontece na cidade de Parintins, nos estado do Amazonas e atrai milhares de turistas — não só de outros estados, mas do mundo todo, e alguns deles fazem até aulas de português para poder aproveitar ao máximo o evento.
As expectativas para a edição do próximo ano, em 2023, já são grandes. Afinal, depois de dois anos paralisado em decorrência da pandemia do novo coronavírus, não deu tempo de matar toda a saudades da festança apenas em 2022. E se você quiser conhecer mais sobre o maior festival folclórico do mundo, continue neste artigo para saber tudo sobre ele!
As origens da festa
O nome vem do lugar onde ela acontece, na ilha de Parintins, às margens do rio Amazonas. A festa, que acontece durante o último fim de semana de junho, é baseada na disputa de dois grupos de bois-bumbá, o Garantido e o Caprichoso.
Todos os anos, as associações representadas pelos folclóricos bois se apresentam em um desfile que se assemelha ao carnaval, mas não se engane: o Festival de Parintins é algo único.
A rivalidade remonta ao início do século 20, quando as agremiações foram criadas. No entanto, existiram outros bois, precedentes ou contemporâneos, como Ramalhete, Diamantino, Mina de Ouro, Galante e Campineiro.
Neste período, a disputa entre os bois-bumbá acontecia no centro da cidade de Parintins, de forma informal e popular. Isso mudaria cerca de 40 anos depois.
Em 1965 acontece o primeiro Festival Folclórico de Parintins. O evento foi criado por um grupo de amigos ligados à Juventude Alegre Católica. A primeira edição tinha como objetivo arrecadar fundos para a construção da Catedral de Nossa Senhora do Carmo, a padroeira da cidade. Neste ano, vinte e duas quadrilhas se apresentaram, mas, curiosamente, a festa não contou com a presença dos bois Caprichoso e Garantido.
A estreia dos bois-bumbá
Os bois apareceriam no ano seguinte, em 1966, quando foram convidados a participar do festival. Nesse período inicial, o critério estabelecido para definir o campeão era pelos aplausos da multidão: o boi que recebesse mais palmas, levava o título. O primeiro campeão foi o boi Garantido.
Em 1975, a organização do festival foi assumida pela prefeitura de Parintins. Com mais estrutura e divulgação, o evento ganhou relevância nacional e tornou-se atração turística. O Festival, então, passou a contar com uma superprodução, especialmente depois da construção do Bumbódromo de Parintins, uma arena especialmente criada para a disputa.
Atualmente, as três noites de disputa chegam a atrair mais de 100 mil pessoas, sem contar os telespectadores que assistem por meios digitais.
O Boi Garantido
A Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido foi fundada em 1913. Ostentando o vermelho e branco como suas cores, é o boi com mais títulos do festival, com 32 troféus. Nos desfiles, o boi desfila com um coração vermelho na testa, e suas canções são mais tradicionais, utilizando elementos de ritmos típicos da Região Norte.
O nome Garantido foi dado pelo fundador da associação, Lindolfo Monteverde. Era um lembrete aos rivais de que, em confrontos entre bois rivais nos desfiles de rua, a cabeça de seu boi nunca quebrava ou ficava avariada. “Isso era garantido”, dizia ele.
O Boi Caprichoso
Do outro lado, o rival do Garantido é a Associação Cultural Boi-Bumbá Caprichoso. Com 24 títulos, Esse boi é tido como revolucionário e transgressor, tendo nascido, segundo as histórias, das mãos de pescadores, lavadeiras e seringueiros.
Existe, no entanto, uma grande controvérsia sobre seus verdadeiros fundadores. Há quem diga que essas pessoas foram lideradas por Roque Cid, um migrante nordestino que foi trabalhar na extração da borracha, para a criação da agremiação.
Mestre Roque, como também era chamado, era natural de Crato, no Ceará. Ao tentar a vida na extração da seringa na floresta, deparou-se com um cenário de decadência. Decidiu então fixar-se na ilha de Parintins. Como forma de manter as tradições de sua terra natal, criou uma brincadeira na qual a figura principal era um boi de pano preto, o qual decidiu chamar de Boi Caprichoso.
Registros orais indicam 1913 também como ano de fundação deste boi-bumbá. Suas cores são o azul e o branco. Sobre o nome, o grupo afirma que é auto explicativo: as pessoas e, consequentemente o boi, são caprichosas, trabalhadoras e honestas.
Componentes do festival
O Festival Folclórico de Parintins possui um total de 21 quesitos (critérios a serem avaliados). A maioria deles não possui uma ordem predeterminada de apresentação, exceto os três primeiros itens (apresentador, levantador de toadas, e marujadas e batucadas) e o último (encenação).
Ao todo os 21 quesitos são:
- Apresentador;
- Levantador de toadas;
- Marujada e batucada;
- Ritual;
- Porta-estandarte;
- Amo do boi;
- Sinhazinha da fazenda;
- Rainha do folclore;
- Cunhã poranga;
- Boi bumbá (evolução);
- Toada (letra e música);
- Pajé;
- Tribos indígenas;
- Tuxauas;
- Figuras típicas regionais;
- Alegorias;
- Lenda amazônica;
- Vaqueirada;
- Galera;
- Coreografia;
- Organização do conjunto folclórico.
Os jurados
Para decidir o boi vencedor do festival, são selecionados 6 jurados, sorteados na véspera do evento. Todos os integrantes devem vir de estados que não façam parte da Região Norte do país.
Como forma de garantir imparcialidade e boa avaliação de cada quesito, os jurados escolhidos devem ser estudiosos da arte, da cultura e do folclore brasileiro, tendo grande familiaridade com a festa.
Festival de Parintins: patrimônio cultural do Brasil
Em 2018, o Complexo Cultural do Boi Bumbá do Médio Amazonas e Parintins foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão foi tomada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), após uma extensa análise.
Na cerimônia, Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrês, Conselheiro do Conselho Consultivo do IPHAN explicou o status dado ao festival:
“Concluímos finalmente que, acervos como o Complexo Cultural do Boi-Bumbá do Médio Amazonas e Parintins, por se constituírem em importante foco de resistência da cultura legitimamente nacional, não só tem relevância para o estado do Amazonas e para o país, mas se revestem de um valor universal como lição de liberdade e humanidade. E ratificando os demais pareceres constantes do processo, somos de parecer favorável à sua inscrição, no Livro de Registro das Celebrações, como Patrimônio Cultural do Brasil”.
Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrês, Conselheiro do Conselho Consultivo do IPHAN