Caçador ficou perdido por 50 dias na floresta. Foto: Alexander Lees
O caçador Magnilson da Silva Araújo, de 34 anos, desapareceu no dia 7 de abril, durante uma caçada com outros dois comunitários na região do km 50 da rodovia AM-352, que liga os municípios de Manacapuru a Novo Airão. Segundo os familiares, em determinado momento da caçada, ele decidiu seguir sozinho por um caminho diferente. Desde então, não havia sido mais visto.
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Após mais de 50 dias desaparecido, o caçador, foi encontrado com vida por moradores na manhã do dia 28 de maio, em uma área de mata no Ramal do Tumbira, no km 44 da rodovia AM-352, que liga Manacapuru a Novo Airão, no interior do Amazonas.
Desidratado, visivelmente mais magro, mas consciente, Magnilson recebeu abrigo e alimentação de moradores da região. Eles gravaram um vídeo logo após o resgate e compartilharam nas redes sociais para ajudar a localizar os familiares.
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Foi por meio de uma publicação feita pela família que acolheu Magnilson que os parentes do caçador souberam que ele estava vivo. Durante o reencontro, uma familiar emocionada gravou um vídeo relatando o estado dele e agradecendo pelo apoio.
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Durante mais de dez dias, equipes do Corpo de Bombeiros atuaram nas buscas com apoio de cães farejadores. Moradores e familiares também ajudaram.
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Abrigo improvisado

Ele contou que, durante o tempo em que esteve perdido, construiu um abrigo improvisado para fugir da chuva.
Ele relatou ainda que, nos primeiros dias, dormia sobre galhos de árvores para tentar se proteger de animais. “Dormia nos galhos por causa de bicho, pra não me pegar durante a noite. Já com quase uns 20 dias, foi onde achei esse buritizeiro”, relatou.
Magnilson contou também que, após encontrar o buritizal, viu ali a chance de montar um abrigo improvisado para se proteger da chuva.
“Vi que tinha buriti embaixo e resolvi ficar ali. Tinha uns galhos. Quebrava palha no dente, na mão mesmo. Fiz uma chopanazinha, cobri. Peguei um bocado de vara — daquelas que eles tinham cortado pra marcar o pique — forrei e entrei debaixo. Era onde eu me abrigava da chuva”, contou.
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Resgate
Por meio de nota, o Corpo de Bombeiros informou que, inicialmente, foi acionado no dia 10 de abril, três dias após o desaparecimento, que ocorreu em uma área de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e no mesmo dia iniciou as buscas. A operação durou 11 dias e fez uma varredura em uma área de 180 km², com o apoio de um cão farejador do Grupamento de Busca, Resgate e Salvamento com Cães (GBRESC).

No dia 21 de abril, as buscas foram oficialmente encerradas, após decisão conjunta com os familiares, diante da ausência de vestígios.
Na quarta-feira, 28 de maio eles prestaram os primeiros socorros a Magnilson. Ele foi encaminhado para atendimento médico em Manacapuru, onde permaneceu internado.
Já em casa, ao lado da família, o caçador relembrou os dias em que passou perdido na floresta e contou que sobreviveu se alimentando de frutos típicos da região amazônica, como buriti, cacauzinho-do-mato e uxi.
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Mãe da mata

Aos familiares, Magnilson disse que se perdeu após ter sido encantado por uma “entidade da floresta”, que se apresentava como a “mãe da mata”.
O folclorista e historiador, Nonato Torres, explica quem é a entidade. A entidade é descrita como uma jovem mulher de características indígenas que caminha pela floresta. Há quem relate que a entidade usa trajes feitos de folhas secas e pode ser vista como protetora generosa ou uma guerreira mística, dependendo da narrativa.
Segundo o folclorista e historiador, a entidade protege a mata de invasores e de pessoas que desejam fazer o mal ao meio ambiente. Suas histórias são repassadas de geração para geração por ribeirinhos e nativos da região amazônica.
“A ‘Mãe da Mata’ é uma entidade protetora da mata. Quem acredita nisso? São os indígenas e também o caboclo ribeirinho. ‘Mãe da Mata’ é como se fosse um espírito protetor, como o ‘Curupira’, o ‘Boitatá’ e os chamados os ‘Angaturamas’. Eles protegem a mata do caçador, eles protegem a mata dos que querem fazer mal a ela, dos invasores”, explicou Torres.
Para ele, o relato feito pelo caçador após ter passado os 50 dias perdido na mata evidencia as histórias que costumam ser contadas pelos indígenas e ribeirinhos sobre a chamada “Mãe da Mata”.
“Uma pessoa que entra no meio da mata e se perde, em princípio, é porque de alguma forma ele tem um malefício a fazer e aí eles são direcionados (pela entidade), são levados a se perderem. Temos que acreditar nas histórias dos que contam, dos ribeirinhos, dos indígenas. Se o caçador que levou 50 dias perdido fala nesse espírito, é porque ele também nos traz a realidade, essa história de que existe um espírito protetor”, disse.
Encantado pela “Mãe da Mata”
O irmão de Magnilson, o autônomo Francisco da Silva Araújo, contou que o caçador relatou brevemente o que teria acontecido durante o desaparecimento: ele disse que passou a acreditar estar sendo guiado por uma “entidade da floresta”.
“Ele só falou que estava encantado. Tinha uma mulher que chamava, e ele saiu buscando essa mulher que levava ele e dizia que era a ‘mãe da mata’. Ele estava atordoado, andava, andava e voltava para o mesmo lugar. Tentou se matar, mas não tinha mais cartuchos. Então ele orou e disse que Deus o guiou até a casa de uma pessoa evangélica, onde foi encontrado”, disse.
*Com informações do g1 Amazonas