Relatório aponta que desmatamento por mineração na Amazônia teve aumento de 62% desde 2018

Dados reunidos de 2015 e 2020 mostram que a mineração desmatou 405,36 km² da Amazônia Legal, cerca de 40,5 mil campos de futebol.

De acordo com a quarta edição do relatório Cumplicidade na Destruição, divulgado nesta terça-feira (22) pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em parceria com a organização Amazon Watch, 125 km² de floresta amazônica foram desmatados ao redor de minas em 2021. O relatório resgata a trajetória da mineração de larga escala no Brasil, em especial seu histórico de avanço sobre os povos indígenas e os territórios que eles preservam.

O relatório aponta que entre 2015 e 2020, a mineração desmatou 405,36 km² da Amazônia Legal, cerca de 40,5 mil campos de futebol. Os 125 km² devastados pela mineração ano passado são a maior marca desde o início da série histórica do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Além disso, estudos afirmam que operações minerais de grande escala na Amazônia podem gerar um desmatamento até 12 vezes maior do que a área oficialmente concedida à exploração. Com as projeções, estima-se que entre 2005 e 2015, apenas a mineração realizada de forma legal já causou a perda de 11.670 km² da floresta amazônica, o equivalente a quase oito cidades de São Paulo.

A mineração é responsável pela emissão de 4% a 7% dos gases de efeito estufa lançados globalmente no planeta. Considerando as emissões indiretas, este número sobe para 28%. As 16 maiores mineradoras do mundo emitem cerca de 2.5 bilhões de toneladas de equivalente de carbono por ano. A mineração demanda grandes quantidades de combustíveis fósseis ao longo de sua operação, consome um enorme volume de eletricidade, e produz mais rejeitos do que minérios (um lixo tóxico que leva décadas para ser degradado).

Foto: Reprodução

As principais reservas de minérios do mundo estão localizadas no Sul Global, principalmente dentro de florestas tropicais e áreas protegidas, como as terras indígenas. Segundo o relatório, o avanço da exploração mineral sobre esses territórios, na busca por minérios, vai aprofundar os efeitos das mudanças climáticas e afastar o planeta das metas traçadas pelo Acordo de Paris.

De acordo com um estudo publicado na revista Nature Communications em 2017, projetos minerais podem aumentar significativamente a perda florestal a uma distância de até 70 km das minas. Dessa forma, operações minerais de grande escala na Amazônia podem gerar um desmatamento até 12 vezes maior do que a área oficialmente concedida para a exploração. Outro ponto que foi levantado no relatório, é a contaminação dos rios e cursos d’água por subprodutos e rejeitos causados pelas atividades mineradoras.

Amazônia internacional

O Atlas Amazônia Sob Pressão 2020 destaca que a mineração legal, feita sobretudo por grandes e médias mineradoras, está presente em todos os países da Amazônia, atingindo 17% da região – cerca de 1,4 milhão de quilômetros quadrados. Na maior parte dessa área (56%) ocorrem atividades de exploração e prospecção. Quatro países concentram 96% da mineração: Brasil, Venezuela, Guiana e Peru, sendo o Brasil o país que mais apresenta zonas dessa atividade em diferentes estágios, com 75% do total. Mais de um milhão de quilômetros quadrados da superfície amazônica no Brasil – o equivalente a quase duas vezes o território da Espanha – está sob o impacto de diferentes fases do processo de mineração. 

Segundo o Atlas, 9% da área total dos territórios indígenas na Pan-Amazônia, ou 267,1 mil km², são ocupados por atividades de mineração. Isso corresponde a um território próximo ao da Nova Zelândia. O dado mais grave é que a sobreposição de áreas de mineração em territórios indígenas tende a crescer. Atualmente, há solicitações para pesquisa e prospecção de minérios em Terras Indígenas equivalentes a uma área de 182,1 mil km².

A contaminação por mercúrio, uma das substâncias utilizadas na exploração de ouro, já chega a níveis alarmantes em rios amazônicos como o Tapajós e o Uraricoera, comprometendo a saúde dos povos indígenas e ribeirinhos. Diversas comunidades que vivem próximo às áreas da mineração denunciam essa contaminação. É o caso dos quilombolas ao longo do Rio Trombetas (estado do Pará) que convivem há quatro décadas com a mineração de bauxita, com a perda sucessiva de cursos d’água contaminados pelos resíduos do minério e com a vulnerabilidade do maior complexo de barragens de rejeitos da Amazônia. 

Comunidades em Barcarena (Pará) até hoje vivem com os desdobramentos do vazamento de uma instalação da empresa norueguesa Hydro, que aconteceu em 2018. Em março de 2021, o vazamento de uma barragem de água da mineradora canadense Equinox Gold resultou na interrupção do acesso à água potável para mais de 4 mil pessoas no município de Aurizoma, no Maranhão, devido ao risco de contaminação.

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