Em barco ‘raso’ e no escuro: saiba como é feita a captura de jacarés na Amazônia

Até o mês de agosto, a espécie não pode ser abatida, pois corresponde ao período de acasalamento.
Já pensou em entrar em um lago à noite, a bordo de um barco raso, com mais de 35 mil jacarés ao redor? Essa é a técnica utiliza pelos manejadores da Reserva Extrativista (Resex) Lago do Cuniã, situada no Baixo Madeira, em Porto Velho (RO), para capturar o animal.


A equipe da Rede Amazônica embarcou nessa aventura e junto dos jacarezeiros (como são chamados os trabalhadores envolvidos no manejo dos jacarés) acompanhou uma simulação exclusiva da captura feita dentro da Resex.

Segundo Naldo de Souza, morador e manejador há mais de 10 anos, revelou como funciona a captura do réptil:

  • O abate geralmente ocorre após os meses de monitoramento, realizado entre junho e agosto.
  • A captura ocorre somente durante a noite, após as 19h. Nesse horário, os jacarés sobem à superfície e fica mais fácil visualizá-los.
  • É utilizado um barco “raso”, para que seja possível colocar o animal dentro de forma mais ágil.
  • Na escuridão, os trabalhadores utilizam apenas uma lanterna para focar a luz nos olhos do jacaré e temporariamente cegá-lo, o que permite a aproximação para a captura.
  • É lançado um cabo de aço com uma presilha de modulação para ajustar ao tamanho do pescoço do jacaré.

Captura de jacarés é feita á noite após as 19h em um barco ‘raso’. Foto: Emily Costa/Rede Amazônica

Durante a simulação, os manejadores capturaram um jacaré da espécie açu, tamanho 2 (com menos de 2 metros). Após vedar os olhos e boca do animal com fita e amarrar os pés, realizam a identificação sexual. Isso porque somente os machos podem ser abatidos. Se for capturada uma fêmea, ela é devolvida à natureza.

“Esse é um jacaré jovem e macho. O tamanho é ideal para o abate, tanto para carne quanto para retirada da pele, pois peles menores oferecem melhor qualidade”, explica Naldo.

De acordo com Naldo de Souza, além da captura com cabo, é possível usar a rede, quando o nível do rio está abaixo do esperado. Até o mês de agosto, a espécie não pode ser abatida, pois corresponde ao período de acasalamento.

Manejadores realizam simulação de captura de jacaré no Lago do Cuniã.Foto: Emily Costa/Rede Amazônica

“Após essa temporada, se o frigorífico possuir toda a documentação e certificação necessárias, juntamente com a cota anual de abate liberada pelos órgãos de fiscalização, podemos iniciar a captura” explica Naldo.

Durante o manejo, as equipes são compostas por quatro embarcações com quatro trabalhadores em cada, onde realizam a captura, medições e sexagem da espécie. A missão é trazer, em média, quatro animais em cada barco.

Após a captura, os jacarés são encaminhados vivos para o frigorífico e aguardam no “curral” até o amanhecer para um delicado processo de limpeza total.

O abate ocorre com uma pistola pneumática específica para jacarés. Após o disparo na cabeça, o animal entra em estado inconsciente. Após a simulação feita pelos manejadores, o animal capturado foi devolvido à natureza.

Em 2023 o abate não foi autorizado, e o frigorífico não operou devido a problemas internos na Cooperativa de Pescadores, Aquicultores, Agricultores e Extrativistas da Reserva Extrativista do Lago do Cuniã (CoopCuniã), responsável pela execução e regularização do funcionamento do local.

Implementação do manejo do jacaré na resex Lago do Cuniã, em Rondônia, se transforma em um produto fresco e pronto para ser consumido. Foto: Divulgação/ICMBio Cuniã-Jacundá

Único com manejo de jacarés em área de reserva 

O frigorífico foi desenvolvido dentro da reserva para manter o controle da espécies de forma sustentável e também incentivar o empreendedorismo coletivo dos moradores da comunidade, além de ajudar na segurança da comunidade, que convive com mais de 36 mil jacarés.

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), todas as etapas, desde o manejo até a exportação da carne de jacaré são realizadas nas instalações dentro da reserva. Este é o único local legalmente autorizado a desenvolver essas atividades em uma unidade de conservação.

Os manejadores que trabalham no local recebem treinamento, principalmente em relação à captura, o que lhes permite adquirir um maior conhecimento sobre a espécie e desenvolver cuidados na interação com os animais também.

A carne é vendida em embalagem de identificação do frigorifico em seis tipos de cortes: coxa e sobrecoxa, filé da calda, filé do lombo, lombo, ponta da costela e isca, e pode ser encontrada em supermercados do estado. 

*Por Emily Garcia, do Grupo Rede Amazônica


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