Para a pesquisadora Roberta Cartágenes da Costa, as discussões levantadas são importantes para entender como era a divulgação de conhecimento na época e como determinados temas eram tratados pela sociedade.
Em tempos de redes sociais, tornou-se comum que lembranças e registros tomem forma de notificação. Mas e quando as memórias estão guardadas há mais de uma centena de anos? Como se lembrar do século passado?
Há 100 anos, Belém (PA) vivia a Belle Époque amazônica e as revistas eram uma das formas de expressar e tecer críticas políticas e sociais. “As revistas eram importantes registros daquela época. Por meio delas, podemos constatar de que forma a política e a moda se desenvolviam, por exemplo. Acredito que essa seja a importância de estudar as revistas do século XX, porque a gente tem poucos registros dessa época e as revistas trazem um viés diferente dos que encontramos nos jornais”, analisa a estudante de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA) Roberta Cartágenes da Costa.
Bolsista Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) no Projeto de Pesquisa ‘Meios de comunicação no Pará em perspectiva histórica: entre memórias e sentidos’, Roberta desenvolveu um trabalho intitulado ‘Estudo dos meios de comunicação no Pará versão 2’. A pesquisa contou com orientação da professora Netília Silva dos Anjos Seixas, do Instituto de Letras e Comunicação (ILC), e analisou acervos on-line e materiais digitalizados, assim como pesquisa em material de microfilme, fichas de catalogação, inventários e catálogos disponibilizados por acervos em Belém.
Para a jovem pesquisadora, as discussões levantadas são importantes para entender como era a divulgação de conhecimento na época e como determinados temas eram tratados pela sociedade.
“Algumas das revistas eram mais direcionadas para um público e isso era importante para que os leitores se identificassem com as pautas e temas que as revistas estavam trazendo. Para mim, as revistas foram muito importantes para compreender as questões que estavam sendo desenvolvidas na época e veicular, cada vez mais, esse tipo de informação, de uma forma mais direcionada”,
aponta.
Explorando as páginas do passado paraense
Por meio da metodologia documental, Roberta procurou realizar um levantamento do material disponível para pesquisa, mais especificamente das revistas paraenses, em dois grandes acervos: o da Biblioteca Pública Arthur Vianna (BPAV) e o da coleção do professor Clóvis Moraes Rêgo, localizado no Centro de Memória da Amazônia (CMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Graças aos avanços tecnológicos do início do século XX e ao grande investimento na capital paraense, os meios de comunicação foram fortemente impactados. Belém vivia um cenário de prosperidade econômica e apreço pela cultura letrada, o que fez as publicações de periódicos impressos ganharem destaque tanto em Belém quanto no Brasil. Os principais temas abordados eram relacionados ao meio rural, à literatura, à ciência ou à educação, e também aos títulos de caráter mais abrangente, denominados pela pesquisadora como “variedades”.
Além de serem um espaço de divulgação de conhecimentos, as revistas são uma forma de preservar memórias. Momentos, opiniões e experiências foram registrados e se mantêm “vivos” por meio das palavras. Segundo a jovem pesquisadora, o segmento de comunicação desempenhou um papel crucial ao documentar não apenas fatos importantes da história da cidade, mas também as nuances do cotidiano, contribuindo, assim, para a conservação da cultura e da identidade ao longo do tempo.
O trabalho conclui que esse é apenas o começo de uma infinidade de possibilidades de estudo da história do Pará e da Amazônia, contadas pelas páginas das revistas. O objetivo é incentivar a jornada de pesquisa e de valorização das revistas no estado e contribuir com ela, para que a história do Pará seja cada vez mais valorizada.
O estudo foi apresentado ao XXXIV Seminário de Iniciação Científica da UFPA, realizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), tendo sido contemplado pelo Edital Pibic Verão. A pesquisa foi destaque na área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. A orientação foi da professora Netília Silva dos Anjos Seixas (ILC/UFPA), com financiamento Pibic/UFPA.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, edição 169, escrito por Evelyn Ludovina