Assassinatos de indígenas e invasões de terras no Brasil aumentaram na pandemia, conclui estudo

Mortes em territórios indígenas aumentaram 61% entre 2019 e o ano passado. O aumento de invasões possessórias foi de 141%.

A crise provocada pela pandemia de Covid-19 contribuiu para o aumento de invasões, dos conflitos por terra e dos assassinatos em territórios indígenas. A conclusão é de um estudo feito pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Na pesquisa, que usa dados de 2020, é possível observar aumentos expressivos na comparação com o ano anterior.

Assassinatos de indígenas aumentaram 61% de 2019 para o ano passado. O aumento de invasões possessórias foi de 141%. Os conflitos por terra cresceram 174% no período.

Yanomami posicionados na comunidade Palimiú, Terra Indígena Yanomami, Norte de Roraima — Foto: Marcelo Marques/Rede Amazônica

A denúncia pública reuniu informações coletadas por missionários em diferentes regiões indígenas do país e cobra responsabilidades.

O coordenador do Cimi Sul, Roberto Antonio Liebgott, afirmou que a situação caracteriza um processo de genocídio que se pratica contra os povos indígenas do Brasil.

“A gente analisa que o Estado, através da sua governança, promoveu no ano de 2020 uma antipolítica indigenista, amparada numa perspectiva da desterritorialização dos povos, na perspectiva da desconstitucionalização de direitos no incentivo de uma integração forçada dos povos na comunhão nacional”, disse.

Em nota, a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que desconhece o conteúdo do levantamento citado e que não comenta dados extraoficiais. 

 Covid também matou

Em todo o Amazonas, a Covid-19 foi responsável pela morte de mais de 140 indígenas aldeados, até esta quinta-feira (28). Em relação aos demais indígenas, foram mais de 300 mortes. 

O cacique Messias Kokama, etnia do Alto Solimões no Amazonas, tinha 53 anos. Ele morreu em maio do ano passado, em Manaus, vítima de Covid.

O filho mais velho, Miqueias Kokama, teve que assumir a comunidade indígena.

Cacique Messias Kokama morreu no Amazonas aos 53 anos, vítima da Covid. — Foto: Arquivo Pessoal

“Ele era o tudo aqui na nossa comunidade, né?! De tudo um pouco ele conseguia resolver. Eu sinto hoje muitas dificuldades porque ele sabia portas certas, procurar as pessoas certas. Mas temos tentado vencer, lutando com a comunidade” 

disse o cacique.

Por Daniela Branches, Rede Amazônica 
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