Região amazônica registra níveis próximos da normalidade após dois anos seguidos de seca severa 

Em 2023 e 2024, a seca extrema esteve associada a conjunção de um forte episódio de El Niño e de anomalias positivas nas temperaturas da superfície do mar no Atlântico tropical norte e sul.

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A maioria dos rios da região amazônica está em processo de vazante, mas com níveis próximos à normalidade após dois anos de seca severa. O cenário contrasta com o que foi observado no mesmo período em 2024, quando, no pico da estiagem, foram registradas mínimas históricas em estações dos rios Negro, Solimões, Acre, Purus, Madeira e Amazonas. Os dados estão apresentados no 42º Boletim de Monitoramento Hidrológico da bacia, divulgado nesta terça-feira (21). 

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A estabilidade dos níveis dos rios é favorecida pelo cenário de neutralidade climática com condições próximas à média histórica. Em 2023 e 2024, a seca extrema esteve associada a conjunção de um forte episódio de El Niño e de anomalias positivas nas temperaturas da superfície do mar no Atlântico tropical norte e sul.

Esses fenômenos associados elevaram as temperaturas e causaram déficit nas chuvas de forma generalizada na bacia Amazônica. O prolongamento desta situação entre a seca de 2023 e a cheia de 2024 dificultou a recuperação dos rios, colaborando para um cenário de seca ainda mais crítico em 2024.

“Neste ano, há um quadro de normalidade hidrológica, com cotas dentro da normalidade em praticamente todas as sub bacias monitoradas na região. Há pouquíssimas exceções na parte mais sul do Amazonas, onde os formadores do Juruá e do Purus apresentam níveis abaixo do esperado para a época”, explica o pesquisador em geociências Andre Martinelli, gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Superintendência Regional de Manaus (SUREG-MA).

Os modelos climáticos internacionais indicam a consolidação do fenômeno La Niña para o próximo trimestre, o que normalmente contribui para o aumento de precipitação na região. Entretanto, ainda é cedo para afirmar se esse comportamento se confirmará de forma consistente ao longo dos próximos meses e se trará efeito na magnitude da enchente de 2026, observa Martinelli.  

Leia também: Portal Amazônia responde: como funcionam os processos de enchente e vazante dos rios?

seca na amazônia em 2024 - amazonas
Seca no Amazonas em 2024. Foto: Aguilar Abecassis

Cenário na bacia

Atualmente, os níveis dos rios ainda estão em processo de vazante na maior parte da bacia, com exceção do trecho mais à montante do rio Solimões, que já iniciou o processo de enchente. O cenário, se comparado com o mesmo dia do ano passado, mostra que o nível do rio Negro está aproximadamente 7 metros acima do observado durante a seca em 2024 na estação de Manaus (AM). 

Em geral, o pico da estiagem ocorre entre outubro e novembro nesta parte da bacia. As projeções do SGB indicam que haverá uma seca dentro da normalidade na capital, ou mesmo de baixa intensidade, com níveis previstos entre 18 m e 19 m e duração de estiagem entre 60 e 85 dias. Em 2024, a cota mínima foi de 12,11 m.

Nos últimos dias, foram registradas chuvas isoladas na região central da Bacia do Rio Negro, que abrange Manaus, o que gera a percepção de que o período chuvoso se iniciou antes do esperado. No entanto, foram episódios isolados e que não representam o início efetivo do regime de chuvas. Com base no acompanhamento hidrometeorológico da Bacia do Amazonas, os acumulados de precipitação do último mês indicam chuvas abaixo da média para o período em grande parte da bacia.

Para o rio Tapajós, em Itaituba (PA), a previsão é de seca moderada, com cota mínima estimada em 2,20 m e até 45 dias de estiagem. Em 2024, o nível chegou a 83 cm, o mais baixo da série histórica. Na estação do rio Amazonas em Itacoatiara (AM), as previsões apontam níveis entre 4,10 m e 5,15 m, caracterizando uma seca de intensidade moderada. Em 2024, o nível chegou a -11 cm.

Os dados do monitoramento realizado pelo SGB têm sido compartilhados em reuniões de acompanhamento promovidas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e de outros órgãos.

Veja o comparativo entre 2025 e 2024

RioMunicípioCota em 21/10/2025Cota em 21/10/2024
NegroManaus (AM)19,74 m12,50 m
SolimõesTabatinga (AM)5,01 m1,14 m
SolimõesFonte Boa (AM)14,31 m7,27 m
SolimõesItapéua (AM)8,08 m2 cm
SolimõesManacapuru (AM)10,55 m2,37 m
AcreRio Branco (AC)1,80 m1,87 m
PurusBeruri (AM)11,39 m2,85 m
MadeiraPorto Velho (RO)3,29 m49 cm
MadeiraHumaitá (AM)10,99 m8,30 m
AmazonasCareiro da Várzea (AM)7,52 m3 cm
AmazonasItacoatiara (AM)6,41 m21 cm
AmazonasÓbidos (PA)2,63 m-63 cm
AmazonasAlmeirim (PA)3,65 m1,88 m

Relembre as cotas mínimas em algumas estações no ano de 2024

RioMunicípioCota mínima recorde em 2024
NegroManaus (AM)12,11 m
SolimõesTabatinga (AM)-2,54 m
SolimõesFonte Boa (AM)7,17 m
SolimõesItapéua (AM)-29 cm
SolimõesManacapuru (AM)2,07 m
AcreRio Branco (AC)1,23 m
PurusBeruri (AM)2,59 m
MadeiraPorto Velho (RO)19 cm
MadeiraHumaitá (AM)8,02 m
AmazonasItacoatiara (AM)-18 cm
AmazonasÓbidos (PA)-1,21 m

*Com informações do SGB

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