Uma rede formada por 30 pesquisadores analisou algumas das principais causas relacionadas ao papel da floresta amazônica nas alterações do clima regional e global
Um novo estudo publicado na última semana pelo periódico “Frontiers In Forests And Global Change” oferece a avaliação mais abrangente até o momento do papel da floresta amazônica no clima global. A equipe internacional de mais de 30 autores, incluindo uma pesquisadora vinculada ao Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), identificou que o chamado efeito líquido da Amazônia, em vez de fornecer um serviço climático de larga escala, pode realmente estar aquecendo a atmosfera global.
Com o título “Carbon and Beyond: The Biogeochemistry of Climate in a Rapidly Changing Amazon”, a pesquisa revisou tanto os impactos relacionados ao dióxido de carbono proveniente do desmatamento e da perda de florestas na região quanto investigou variados fatores menos reconhecidos, mas capazes de provocar alterações no clima, a exemplo de outros gases do efeito estufa (como o metano e o óxido nitroso, o carbono negro de incêndios, os compostos orgânicos voláteis biogênicos, os aerossóis, o ozônio) e a soma da evaporação da água do solo e da transpiração das plantas.
A partir dessa avaliação, os analistas destacaram que, provavelmente, a Amazônia agora está contribuindo para aquecer o clima no planeta e que a sua perda contínua causará mais prejuízos não apenas para a região mas também globalmente. Segundo eles, quanto maior a degradação da Amazônia, mais elevado será o aumento no nível dos danos provocados.
“Observamos todo o sistema ambiental da Amazônia, tentando considerar mais do que apenas o dióxido de carbono”, disse Kris Covey, primeiro autor do artigo e professor visitante de Estudos e Ciências Ambientais no Skidmore College. “Ao avaliar o impacto combinado desses fatores pela primeira vez, ficou claro que a Amazônia não está proporcionando o benefício climático que esperamos da maior floresta tropical do mundo”.
Resultados
Entre as principais revelações da ampla pesquisa estão:
– Incerteza considerável nos efeitos diretos e indiretos da Amazônia sobre o clima global, e incerteza ainda maior na resposta desses feedbacks climáticos às mudanças no uso da terra e degradação florestal;
– Apesar dessa incerteza, após considerar o impacto de um conjunto mais amplo de feedbacks biofísicos entre floresta e clima (ou seja, dióxido de carbono, mas também metano, óxido nitroso, albedo, evapotranspiração, compostos orgânicos voláteis biológicos, ozônio e aerossóis), foi concluído pela primeira vez que o efeito líquido mais provável da floresta amazônica é o aquecimento do clima global;
– O efeito do aquecimento líquido é impulsionado em grande parte pelas emissões de óxido nitroso, carbono negro de incêndios e metano da floresta amazônica, que parecem superar o efeito de resfriamento atmosférico do sequestro de carbono realizado por ela;
– O sumidouro líquido anual de carbono da Bacia Amazônica vem diminuindo há algum tempo enquanto as forças políticas sociais que impulsionam a perda de florestas estão se acelerando. Os feedbacks biofísicos do clima que seguem essas mudanças sugerem que a conversão contínua da floresta provavelmente aumentará o aquecimento atmosférico no futuro;
– Dada a grande contribuição de feedbacks climáticos menos reconhecidos (por exemplo, árvores vivas na Amazônia emitem diretamente cerca de 3,5% de todo o metano global liberado para a atmosfera), um foco contínuo no carbono florestal de modo estrito é incompatível com esforços genuínos para entender e gerenciar mudanças climáticas globais na Bacia Amazônica.
“Analisar as complexas interações entre a Amazônia, seus efeitos no clima e as influências humanas é um pouco como tentar prever o mercado de ações. É preciso considerar as partes móveis: várias forças climáticas, não apenas de carbono, mas também de metano, óxido nitroso, partículas e efeitos biofísicos, cada um sendo influenciado por estressores humanos que vão desde a construção de barragens e caça às mudanças climáticas”, disse Fiona Soper, professora do Departamento de Biologia e da Escola de Meio Ambiente da McGill University.
“Sintetizar essas mudanças é um grande desafio, mas está claro que a maioria dos impactos humanos diretos – extração de recursos, conversão agrícola – removem a vegetação da floresta e, assim, influenciam não apenas o sequestro de carbono, mas aumentam o potencial de emissões por incêndios e, em alguns casos, os efeitos de outros gases do efeito estufa. No artigo, reunimos esses desafios, identificamos padrões gerais e identificamos nossas maiores lacunas no entendimento, como a dinâmica dos sistemas de água doce exclusivos da Amazônia, que não têm análogos em nenhum outro lugar da Terra”.
Amazônia
A Bacia Amazônica contém a maior floresta tropical do mundo, que representa mais de 60% das florestas tropicais remanescentes do mundo. Na Bacia Amazônica, dezenas de milhões de pessoas dependem dos serviços oferecidos pela floresta e a Amazônia é o lar de mais espécies de plantas e animais do que qualquer outro ecossistema terrestre do planeta.