Pesquisa em floresta do Amapá fornecerá dados sobre mudanças climáticas para a Nasa

Estudo do Inpa e da Ueap usa sensores no solo e em árvores para medir o fluxo de água para a atmosfera. Equipamentos começaram a ser instalados na Floresta Nacional do Amapá, em Ferreira Gomes.

Pesquisa do Inpa e da Ueap na Floresta Nacional do Amapá. Foto: Rafael Aleixo/g1 AP

Uma pesquisa inédita no Amapá vai usar sensores instalados no solo e em árvores da Floresta Nacional do Amapá (Fona) para medir o fluxo de água que chega até a atmosfera através da Amazônia. O objetivo é analisar, ao longo de um ano, como a floresta se comporta durante o período chuvoso e de estiagem em relação à mudança climática.

O estudo é realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) em parceria com a Universidade do Estado do Amapá (Ueap) através do projeto INCT Madeiras da Amazônia, coordenado pelo pesquisador Niro Higuchi – Nobel da Paz em 2007 como membro do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

Parte dos equipamentos usados pelo projeto foram financiados pela agência espacial norte-americana, a Nasa, que usará os dados via satélite para a missão Soil Moisture Active Passive Mission (SMAP), que monitora as alterações no clima do planeta.

Segundo o pesquisador da Ueap e líder do projeto no Amapá, Perseu Aparício, os sensores irão monitorar simultaneamente o comportamento da fisiologia das árvores e serão alimentados por placas solares e datalog para armazenamento das informações por 24h durante 1 ano.

Pesquisa do Inpa e da Ueap na Floresta Nacional do Amapá. Foto: Rafael Aleixo/g1 AP

O doutorando em ciências de florestas tropicais do Inpa, Regison Oliveira, é o responsável pelas instalações dos sensores no solo. Para fixar os medidores de temperatura e umidade, são cavados buracos de cerca de 2 metros de profundidade onde os equipamentos são colocados em várias camadas.

“Compreender a dinâmica da água no solo é importante para entendermos a transpiração da floresta. Esse teor de água no solo é o que mantêm a floresta durante os períodos de seca, principalmente no El-Niño. E monitorar a umidade da floresta e do solo em uma escala de Amazônia é importante para que possamos avaliar a saúde da floresta”, explicou o pesquisador.

Ainda de acordo com o cientista, a missão “Smap” – lançada em 2015 pela Nasa, precisa de calibrações por conta da falta de dados em campo. E os novos sensores na Amazônia vêm contribuir com esse monitoramento. Segundo o Inpa, o satélite americano lança “visados” na superfície da Terra e avalia a umidade, porém existem dificuldades por conta do alto teor de biomassa das folhas das árvores.

‘Caminhos’ da água por dentro das árvores

Cristina Santos, pesquisadora do laboratório de Manejo Florestal do Inpa, já realiza um estudo semelhante no Amazonas que estima a transpiração das árvores. Essa é a segunda vez que sensores desse tipo são instalados na Amazônia, segundo a cientista.

“Estimamos a velocidade da água que sai do solo e vai até a atmosfera através das folhas. Colocamos duas agulhas e por diferença de temperatura a gente consegue estimar essa velocidade da água. Também identificamos por onde a água passa por dentro da árvore, que é chamado de ‘Caminho da água’”, descreveu a cientista.

A cientista explicou que ter esses dados é importante para saber o quanto a árvore está “trocando” água com a atmosfera. Na Floresta Nacional do Amapá foram instalados 18 sensores, que passam a ser monitorados a partir de um computador de campo.

O equipamento registra dados a cada 30 segundos e faz uma média a cada 5 minutos. Segundo a pesquisadora, a periodicidade de coleta dos dados será a cada 15 dias.

Tanto os sensores de solo, quantos os de árvores estão sendo instalados em área que receberam manejo florestal em áreas não manejadas. Essa escolha é para outra frente do projeto, que vai analisar o comportamento das florestas.

Observatório orbital da Nasa

Soil Moisture Active Passive (SMAP), observatório orbital da Nasa. Foto: Divulgação/Nasa

A missão Soil Moisture Active Passive (SMAP) é um observatório orbital que mede a quantidade de água na superfície do solo em todos os lugares da Terra. De acordo com a Nasa, a quantidade de água que evapora da superfície terrestre para a atmosfera depende da umidade do solo.

O satélite foi lançado em janeiro de 2015 e começou a operar em abril do mesmo ano. Na Amazônica, apenas sensores no Amazonas forneciam informações no Brasil. A partir do funcionamento dos equipamentos no Amapá, mais dados serão fornecidos para o observatório.

O SMAP foi projetado para medir a umidade do solo a cada 2-3 dias, o que permite que mudanças ao redor do mundo sejam observadas em escalas de tempo que variam de grandes tempestades a medições repetidas de mudanças ao longo das estações.

A partir dos dados, o observatório orbital produz mapas globais de umidade do solo, que cientistas usam para ajudar a melhorar a compreensão de como os fluxos de água, energia e carbono mantêm o clima e meio ambiente.

*Por Rafael Aleixo, da Rede Amazônica AP

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