Portal Amazônia responde: o que é a Amazônia Setentrional?

A expressãoAmazônia Setentrional‘, apesar de não ser uma divisão oficial adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é amplamente utilizada por pesquisadores, pelo setor de defesa e por especialistas em debates acadêmicos, ambientais e geopolíticos para se referir à porção mais ao norte da Amazônia Legal, uma região estratégica e diversa. 

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O termo deriva da ideia de posição geográfica associada aos pontos cardeais, já que assim como ‘meridional’ remete ao Sul, setentrional refere-se ao Norte, ou seja, algo setentrional está acima, geograficamente, de outra parte no topo do mapa.

“O termo setentrional está sendo associado aos pontos cardeais. Então, o norte, o sul, o leste, o oeste. O norte também é chamado de setentrional ou também chamado de boreal, onde acontecem as auroras boreais no extremo do hemisfério norte”, explicou o doutor em geografia, Deivison Molinari, ao Portal Amazônia

O que compõe a Amazônia Setentrional?

A Amazônia Setentrional corresponde ao limite extremo norte da região, abrangendo áreas que vão desde a costa atlântica amazônica até fronteiras internacionais como a Guiana Francesa, o Suriname, a Guiana, a Venezuela e a Colômbia.

No Brasil, essa porção envolve os estados:

  • do Amapá, localizado no extremo norte e com áreas de floresta bem preservada;
  • de Roraima, totalmente setentrional e fazendo fronteira com a Guiana e com a Venezuela;
  • o Norte do estado do Pará, especialmente a região entre o baixo Amazonas e a fronteira com a Guiana;
  • e o Norte do Amazonas, nos municípios próximos à fronteira com a Colômbia e a Venezuela.  

Leia também: Entenda a diferença entre Amazônia Legal, Internacional e Região Norte

De acordo com Molinari, a porção setentrional também engloba a parte da Amazônia litorânea, conhecida como Amazônia Azul. “Onde é a flor do Amazonas e a região de Roraima, na área onde existe o contato com o oceano e a faixa da Amazônia das águas”, afirmou. 

A área da Amazônia Setentrional se caracteriza por grandes extensões de florestas conservadas, numerosas terras indígenas e unidades de conservação, cidades pequenas com forte dependência dos rios e a presença de fronteira internacional em grande parte do território.

Região estratégica para o Brasil

Amazônia Setentrional- área do projeto Calha Norte
Amazônia Setentrional e área do projeto Calha Norte. Foto: Reprodução/Tiago Luedy

De acordo com o estudo ‘Interações Fronteiriças no Platô das Guianas: Novas construções, novas territorialidades, de Durbens Nascimento e Jadson Porto (2010), a Amazônia Setentrional ocupa um papel central no planejamento de Defesa Nacional, já que desde 1980, o Brasil passou a dar mais atenção as áreas de fronteiras do Norte por sua importância geopolítica.

O Projeto Calha Norte (PCN), criado em 1985, tem a missão de proteger a fronteira brasileira, fortalecer infraestrutura de estradas, energia e comunicações, apoiar comunidades indígenas, instalar órgãos federais em regiões remotas e garantir a presença militar em pontos sensíveis.

Atualmente, ele cobre 32% do território nacional, alcançando 194 municípios e boa parte da população indígena brasileira.

Leia também: Portal Amazônia responde: como funciona o Calha Norte?

A fronteira e a segurança

Além do carácter ambiental, a Amazônia Setentrional aparece como destaque em estudos de segurança devido ao fenômeno do ‘transbordamento de vulnerabilidades’ vindos de países vizinhos.

Os dados presentes na pesquisa ‘A ameaça do terrorismo internacional sobre a Amazônia Setentrional Brasileira’, de Tiago Luedy, mostram que a região sofre com a influência de grupos criminosos nas fronteiras internacionais, abriga áreas de baixa presença do estado, convive com tensões geopolíticas na chamada Amazônia Caribenha (Guiana, Suriname, Trinidad e Tobago) e é corredor para o tráfico. 

Uma Amazônia menos conhecida 

Embora seja uma parte crucial do território nacional, a Amazônia Setentrional é pouco conhecida devido a fatores como o difícil acesso terrestre, a longa faixa de fronteira internacional, a urbanização concentrada em poucas cidades e a presença de comunidades tradicionais e populações indígenas.

Essa porção abriga também uma das áreas de floresta mais bem preservadas do país, além de rios, manguezais e ecossistemas costeiros.

Além disso, a região está no centro de discussões que envolvem as pressões ambientais, a mineração legal e ilegal, o avanço de frentes de destruição, a segurança de fronteira, a soberania nacional, as políticas de integração com países vizinhos e a valorização de populações tradicionais.

*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

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