Novas espécies de roedores são identificadas no estado do Pará

A crescente identificação das novas espécies evidencia a importância de preservar os singulares ecossistemas amazônicos

Três novas espécies de roedores-de-espinho do gênero, existentes no estado do Pará, foram identificadas a partir de um estudo feito com base em dados de sequenciamento do DNA, dados citogenéticos e análise de exemplares provenientes de 15 museus nacionais e internacionais. Uma quarta espécie se encontra em processo de descrição, com outras duas já tendo sido reconhecidas pelo mesmo grupo de pesquisadores. Todas as seis estão distribuídas na Amazônia Brasileira.

Com base neste estudo, podemos afirmar categoricamente que a Amazônia é pouco conhecida em termos de diversidade de pequenos mamíferos e que muitas novas espécies serão extintas antes de serem catalogadas pela ciência, uma vez que atividades como o desmatamento, as queimadas e a mineração estão dizimando milhões de áreas de florestas onde potencialmente essas novas espécies ocorrem“, afirma o primeiro autor do trabalho no qual os novos roedores foram revelados, Thiago Semedo, que é vinculado ao Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP).

Novas espécies – Entre as três novas espécies descobertas pelo estudo está o Neacomysmarajoara, batizado desse modo por ser possivelmente endêmico, ou seja, encontrado exclusivamente na Ilha do Marajó, no Pará.


O segundo roedor identificado foi nomeado como Neacomys vossi, em referência ao pesquisador Robert S. Voss, do Museu de História Natural de Nova York, por sua significativa contribuição ao conhecimento sobre os mamíferos Neotropicais.

A terceira espécie foi identificada como Neacomys xingu, nome dado em função da área classificada como Centro de Endemismo Xingu, entre os rios Xingu e Tocantins, onde ela é aparentemente endêmica.

Do ponto de vista exterior, todas as três espécies são bem pequenas, com comprimento do corpo variando entre 6.2 e 7.7 centímetros. Elas também possuem pêlos em forma de espinhos, mas cada uma possui características morfológicas únicas, além de diferenças moleculares e da citogenética distinta, o que indica que são reprodutivamente isoladas das outras espécies do gênero.

Roedores

Por serem associados com a ideia de transmissão de doenças e às ratazanas domésticas, os roedores silvestres são bichos comumente negligenciados pela ciência, mas de extrema importância para dinâmica ecológica das florestas, explica Semedo.

“Muitas espécies atuam como dispersoras de sementes. Algumas devido à especificidade de habitat são consideradas bio-indicadoras de qualidade do ambiente, uma vez que habitam locais com alto nível de preservação enquanto outras, ao contrário, habitam e toleram locais com alto nível de antropização (área degradada)”, aponta o pesquisador.

“Por fim, por ocuparem a base da pirâmide trófica, esses animais acabam servindo de alimento para uma variedade de outros mamíferos carnívoros, como a jaguatirica, lobetes, aves de rapinas, a exemplo das corujas, e também serpentes”.

Foto: Thiago Semedo

Método

Um detalhe que chama a atenção no trabalho é que o material analisado estava depositado em cinco coleções cientificas brasileiras, incluindo a do Museu Goeldi, e de outras dez coleções estrangeiras, localizadas na Europa, Estados Unidos e Canadá.

Esse esforço de reconhecimento demonstra, entre outras questões, a importância das coleções científica que mantem acervos históricos. “Quando analisadas em nível molecular, morfológico e comparadas com exemplares do mesmo gênero de outras localidades ou regiões, muitas vezes as espécies depositadas nessas coleções se provam desconhecidas pela ciência”, argumenta Thiago Semedo.

Parte da área do estudo, o sudeste da Amazônia, foi escolhida por ser uma região nunca incluída nesse tipo de revisão sistemática, nos níveis molecular e morfológico, para o gênero Neacomys.

“Nós sabíamos que dados citogenéticos publicados por pesquisadores da Universidade Federal do Pará, em 2018 e 2019, sugeriam a existência de possíveis novas espécies para o gênero nessa região. Diante disso, e da grande quantidade de exemplares que tínhamos em mãos, resolvemos trabalhar nesta região da Amazônia, que sofre grande impacto uma vez que está inserida no Arco do Desmatamento”, justifica o pesquisador.

Ciência e preservação

Thiago Semedo lembra ainda a importância da ciência básica para o conhecimento mais aprofundado da biodiversidade e da história evolutiva das espécies que nela habitam. “Como vamos conservar o que não conhecemos?”, questiona.

“A partir desses dados básicos, políticas públicas podem ser traçadas para a conservação da biodiversidade incluindo esses táxons, pesquisas de saúde pública e até novos estudos ecológicos poderão ser feitos, a fim de conhecer a importância dessas novas espécies para o ambiente em que elas ocorrem”.

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