Talvez apenas por ocasião da chamada “gripe espanhola”, em 1918, este patrimônio cultural tombado nas esferas estadual e federal tenha sido fechado ao público na ocasião de seu aniversário.
A celebração dos 125 anos de fundação do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) vai ocupar um cenário bem diferente do que se convencionou adotar ao longo do tempo: se dará no lugar em que o convidado puder estar conectado à internet durante a programação virtual organizada pela instituição e que tem início nesta sexta-feira (14), às 15h.
Os dois primeiros encontros da série de lives “O essencial do Museu Goeldi” serão dedicados a este acolhedor abrigo de riquezas da Amazônia enraizado em Belém e patrimônio tombado nas esferas estadual e federal, mas que se encontra fechado para visitação em decorrência da pandemia do novo coronavírus. A programação é gratuita, será atualizada pelas redes sociais da casa e os encontros serão transmitidos pelo seu canal oficial no Youtube.
As quatro avenidas que circundam o Parque Zoobotânico conferem a ele uma área de 5,4 hectares, demarcando um abrigo para mais de 1.700 animais de 100 espécies, mais de 2 mil plantas de 500 espécies e 14 monumentos e edificações históricas dos séculos XIX e XX. Os visitantes deste quarteirão privilegiado desfrutam ainda de uma temperatura 3 graus mais amena.
Para se manter saudável, este patrimônio precisa de serviços ininterruptos de manutenção e vigilância, nem sempre suficientemente conhecidos da sociedade. “Achamos que seria uma ótima oportunidade para apresentarmos tanto os trabalhos quanto as pessoas responsáveis por eles. Nosso público, ao visitar presencialmente o parque, não tem a dimensão dos bastidores ou daqueles profissionais essenciais para que toda a engrenagem funcione”, explica Maria Emília Sales, coordenadora de Comunicação e Extensão do MPEG. Este será o foco do primeiro encontro.
Ela destaca a oportunidade singular de interação entre os internautas e os profissionais do Museu Goeldi, como o engenheiro civil Pedro Oliva (chefe do Parque Zoobotânico), a bióloga Thatiana Figueiredo (responsável pela nutrição animal), o agrônomo Hedayson Rogério (da equipe responsável pela flora) e a museóloga Doriene Monteiro (que integra a equipe de conservadores). A mediação será feita por um usuário do espaço, o historiador e fotógrafo Michel Pinho, apresentador do podcast Histórias de Belém.
Quem acompanhar a live do dia 14/08 verá fotos e vídeos, feitos nos três últimos dias, com registros do Parque Zoobotânico e dos cuidados de rotina com os animais e as plantas.
Patrimônio
A segunda live, que acontecerá no dia 19/08, abordará com mais detalhes a dimensão do Parque Zoobotânico enquanto bem cultural tombado a nível federal e estadual, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural – SECULT/Governo do Pará, os desafios para sua conservação e preservação. O Museu Goeldi se une, desta forma, às comemorações alusivas ao 17 de agosto, Dia Nacional do Patrimônio Histórico.
Uma das suas edificações mais emblemáticas é a suntuosa Rocinha, formalmente denominada Pavilhão Expositivo Domingos Soares Ferreira Penna. Construída em 1879, a então residência foi desapropriada pelo então governador Lauro Sodré (1891-1896), para pôr em curso seu projeto político-museológico encampado por Emilio Goeldi (1894) e Jacques Huber (1914), como indica o artigo “Construção do espaço museal: ciência, educação e sociabilidade na gênese do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi (1895-1914)”.
Outros marcos importantes no rico acervo histórico do Parque Zoobotânico são o Aquário Jacques Huber, o Castelinho e os chalés. Alguns monumentos podem ser mais discretos, como o busto de Ferreira Penna, a efígie de Emílio Goeldi, a herma de Spix e Martius, o pedestal de Carlos Esteves e a escultura que homenageia Curt Nimuendajú. Distribuídos pelo trajeto ainda estão as silhuetas de personagens famosos e anônimos relacionados à ciência e ao Museu Goeldi. Em comum, todos têm muito a dizer a grupos de estudantes, famílias, turistas e pesquisadores. Um público que oscila entre 250 e 400 mil visitantes por ano. Eles, inclusive, ajudam a contar as transformações pelas quais passam esse espaço fundado em 15 de agosto de 1895, quando o estado do Pará aderiu à Independência do Brasil.
As memórias do público relacionadas à experiência de visitação podem cumprir papeis divergentes neste momento em que o isolamento social é uma necessidade sanitária. Por um lado, podem ser aliadas, acredita o pesquisador do Museu Goeldi, Nelson Sanjad, “na medida em que essas memórias remetem a um oásis no centro de uma cidade que é vítima da especulação imobiliária e da ausência do poder público. Belém é uma cidade com pouquíssimas áreas de lazer e com baixo grau de arborização”. Ele assegura que “o baixo preço do ingresso, as exposições, as atividades educativas e a densa vegetação tornam esse espaço atraente e acessível para todas as classes sociais” e “a suspensão da visitação, portanto, pode gerar sentimentos ruins pela interrupção de hábitos familiares, pela impossibilidade de distrair as crianças, pela limitação dos espaços seguros disponíveis na cidade aos mais velhos”.
Vitalidade
O pesquisador integra a mesa de debates do segundo dia da programação de aniversário do Parque Zoobotânico e ressalta que “as ´lives´, que hoje abundam nas redes sociais, são apenas uma pequena parte do que é possível fazer em benefício do público e também das próprias instituições, pois as instituições precisam se manter ativas e em contato com a sociedade”.
Nelson Sanjad defende a expansão das atividades remotas e do uso das tecnologias. “É crucial que museus e jardins botânicos invistam em exposições virtuais, simulações em 3D, cursos on-line, jogos eletrônicos, digitalização de coleções, boas matérias jornalísticas, produção de vídeos e outras atividades de divulgação. O Museu Goeldi já deu início a ações dessa natureza”.
Dois exemplos recentes da instituição neste sentido são a versão virtual do Aquário Jacques Huber, realizado a partir do Trabalho de Conclusão de Curso da agora museóloga Débora Blois, e a exposição digital “A câmera é nossa arma“, uma parceria com o Museu Americano de História Natural e o Programa de Pós-graduação em Antropologia de Museus, da Universidade de Columbia.
A forte presença junto à sociedade é algo estratégico para a instituição enfrentar os desafios da preservação do seu patrimônio histórico, garante o pesquisador, que “continuam sendo a criação ou o fortalecimento de políticas públicas e a existência de fontes de financiamento”.
Mas… será esta a primeira vez que Parque Zoobotânico celebra seu aniversário de portas fechadas para visitação pública? Nelson Sanjad antecipa: “É possível que na epidemia de gripe espanhola, em 1918, o parque tenha sido fechado ao público, pois Belém foi violentamente atingida pela doença. Mas não temos levantamentos documentais nem estudos sobre o assunto. Aliás, esse seria um belo tema para pesquisadores interessados”.
Lançamento da série de lives “O Essencial do Museu Goeldi” e 125 anos do Parque Zoobotânico
Data – 14 de agosto, às 15h.
Tema – “O essencial do Museu: especial de aniversário do Parque Zoobotânico”
Participantes – Pedro Oliva (engenheiro civil), Thatiana Figueiredo (bióloga), Doriene Monteiro (museóloga) e Hedayson Rogerio (engenheiro florestal).
Mediador – Michel Pinho (historiador e fotógrafo)
Link: https://www.youtube.com/watch?v=vmzb38uiYC4
Próximas lives:
Data – 19 de Agosto, às 10h
Tema – “Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi: Patrimônio Cultural do Brasil”
Data – 21 de Agosto, às 10h
Tema – “Coleção Arqueológica e Etnográfica do Museu Paraense Emílio Goeldi: Patrimônio Cultural do Brasil”