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Megafauna é um termo utilizado para descrever um grupo de animais de grande porte que viveram durante o Pleistoceno, período que ocorreu entre 2,5 milhões e 11 mil anos atrás. Essas espécies se desenvolveram principalmente na América do Norte e migraram para a América do Sul com a formação do Istmo do Panamá (uma estreita porção de terra que liga a América do Norte e a América do Sul).
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A megafauna se caracteriza por espécies com grande massa corporal, geralmente acima de 50-100 kg. Algumas dessas espécies extintas ultrapassavam facilmente a marca de 1 tonelada. Ainda hoje existem representantes da megafauna, como os elefantes e os rinocerontes, que mantêm essa característica de grande porte.
Para entender melhor o conceito, a equipe do Portal Amazônia conversou com a professora e pesquisadora Dra. Ana Cristina Mendes de Oliveira, do Laboratório de Ecologia e Zoologia de Vertebrados da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Segundo a especialista, a megafauna incluía espécies icônicas como os mamutes, os tigres-dentes-de-sabre e os gliptodontes (tatus gigantes).
“Na época do Pleistoceno, boa parte da América do Sul tinha um ambiente de savana, o que favorecia a movimentação desses animais de grande porte”, explica Ana Cristina.
Entre os animais mais conhecidos que compunham essa fauna estavam:
- Preguiça-gigante (Megatherium americanum) – um dos maiores mamíferos terrestres da época;
- Gliptodonte – um tatu gigante, pouco menor que um fusca, com uma carapaça óssea espessa;
- Tigre-dentes-de-sabre (Smilodon populator) – um predador de topo com presas afiadas;
- Aves do Terror (Phorusrhacidae) – aves carnívoras de grande porte.
Extinção da megafauna
Há aproximadamente 11 mil anos, a maior parte da megafauna foi extinta. Entre as principais causas apontadas estão mudanças climáticas e a caça intensiva pelos primeiros humanos que habitavam a região. No entanto, alguns descendentes desses gigantes ainda habitam a Amazônia e outras partes do Brasil.
“Hoje em dia, temos espécies que são descendentes diretas da megafauna. As preguiças atuais, por exemplo, são parentes das preguiças-gigantes do passado. O tatu-canastra também é um remanescente dessa linhagem, assim como a anta, que descende de um grande herbívoro do Pleistoceno”, detalha Ana Cristina.
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Impacto da extinção nos ecossistemas
Os animais da megafauna desempenhavam papéis ecológicos essenciais. Os herbívoros gigantes ajudavam na dispersão de sementes e no controle da vegetação, enquanto os predadores controlavam populações de presas. A extinção desses animais provocou mudanças significativas na estrutura dos ecossistemas, incluindo a reorganização da vegetação e a substituição de espécies.
Sem predadores de topo como o tigre-dentes-de-sabre, espécies como a onça-pintada puderam se tornar mais abundantes. Além disso, a ausência de grandes herbívoros impactou a dinâmica da floresta, influenciando sua expansão e composição.
Remanescentes da Megafauna
Embora muitos dos gigantes do passado tenham desaparecido, alguns de seus descendentes ainda vivem entre nós. Entre os exemplos mais notáveis estão:
- Elefantes e rinocerontes – remanescentes dos megaherbívoros;
- Antas e búfalos – descendentes de grandes herbívoros do Pleistoceno;
- Jacaré-açu – um dos maiores répteis da América do Sul;
- Avestruzes e emas – parentes distantes das aves do terror.
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Conservação
Mesmo sem os gigantes da megafauna, seus descendentes desempenham papéis ecológicos fundamentais. A anta, por exemplo, é chamada de “jardineira da floresta” por sua importância na dispersão de sementes, ajudando na manutenção da biodiversidade amazônica.
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De acordo com a pesquisadora, o estudo da megafauna é essencial para entender a história evolutiva da fauna sul-americana e os impactos de sua extinção nos ecossistemas atuais. A Amazônia, com sua riqueza de fósseis, continua sendo um “laboratório natural” para pesquisadores do mundo todo, fornecendo pistas sobre o passado da região.
Os fósseis encontrados na Amazônia indicam que, em tempos remotos, algumas áreas que hoje são cobertas por florestas densas eram savanas, moldadas por climas mais secos. Isso demonstra como a presença e o desaparecimento desses gigantes influenciaram a formação dos ecossistemas que conhecemos atualmente.