Lideranças Yanomami reforçam pedido para retirada de garimpeiros e melhorias na saúde

Indígenas ainda não enxergam efetividades nas ações do governo federal para a desintrusão de garimpeiros e assistência na saúde em Roraima.

“Eles [garimpeiros] estão vendo a fraqueza do estado brasileiro”, é como Júnior Hekurari, presidente da Associação Urihi Yanomami, avaliou as ações do governo federal para a retirada de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami durante uma audiência do Ministério Público Federal (MPF), no último dia 13, em Boa Vista (RR). A reunião teve a participação de associações indígenas e representantes do governo federal.

Os indígenas reforçaram o pedido de retirada dos invasores e melhorias na saúde no território, que ainda enfrenta casos de malária, desnutrição e, agora, o retorno dos garimpeiros. A audiência ocorreu a pedido da Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa do povo.

Território Yanomami volta a receber garimpeiros ilegais. Foto: Alexandro Pereira/Rede Amazônica

O território está em emergência sanitária na saúde desde janeiro deste ano. A medida foi decretada pelo governo federal para levar atendimento de saúde aos indígenas e também para retirar garimpeiros da região. Por outro lado, os indígenas ainda não enxergam efetividades nas ações.

“Isso é revoltante! Nas comunidades de Xitei, Parafuri, Parima, retornaram 100% os garimpeiros. A gente não está enxergando esse problema que está chegando de novo. Daqui a pouco eles vão tomar a Terra Indígena Yanomami de novo e impedir de fazer a Saúde nessas comunidades”, 

alertou Hekurari.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que investiu R$ 19 milhões na operação interministerial que atende os povos Yanomami. No período, mais de 13 mil atendimentos foram realizados, 30 Polos Base e 35 Unidades Básicas de Saúde foram reabertos.

“Também foram enviados 117 profissionais pelo programa Mais Médicos, sendo 14 para o território Yanomami. Além desses, mais de 700 profissionais de saúde foram mobilizados em todo o território […] O Ministério da Saúde, trabalha para reconstruir a assistência aos indígenas da região após o desmonte dos últimos anos”. 

No último fim de semana, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) identificou que garimpeiros voltaram a operar na região conhecida como “garimpo do Rangel”, uma das mais exploradas pelos invasores dentro do território. Lá, foram encontrados até internet via satélite.

Além de organizações de Roraima, a reunião com o MPF reuniu lideranças de associações do Amazonas, onde também há Terra Yanomami demarcada. Representantes do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yek’uana (Dsei-YY) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também participaram.

Encontro reuniu lideranças e representantes do governo federal. Foto: Samantha Rufino/g1 Roraima

Ao MPF e órgãos do governo federal, as lideranças mencionaram que problemas relacionados à crise sanitária e humanitária ainda permanecem no território. Entre eles, citaram: 

  • Falta de medicamentos e insumos;
  • Falta de profissionais da saúde;
  • Ausência de bases de proteção territorial;
  • Polos de saúde desativados;
  • Avanço de casos de malária;
  • Entrada de drogas e bebidas no território.
Alvo há décadas de garimpeiros ilegais, a Terra Yanomami, maior território indígena do Brasil, enfrentou nos últimos o avanço desenfreado da atividade ilegal no território. A atividade impacta diretamente na vida dos povos indígenas devido ao desmatamento, da contaminação dos rios pelo uso de mercúrio e dos danos à caça e pesca.

Em setembro deste ano, um relatório do Ministério da Defesa apontou que as áreas atingidas pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami tinha reduzido em 78,51% até então em comparação com o mesmo período no ano passado. Porém, com o retorno dos invasores a situação voltou a preocupar lideranças. 

“Os aviões estão pousando livremente sem controle, então, isso a gente está analisando também. Como podemos pensar soluções para resolver o problema do garimpo ilegal que voltou nos últimos quatro meses?”,

questionou Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara.

Lideranças em reunião com procurador Alisson Marugal. Foto: Samantha Rufino/g1 Roraima

Com o retorno da atividade ilegal, as lideranças relatam que há regiões em que o atendimento de saúde fica comprometido devido à insegurança dos profissionais de saúde com a presença dos invasores. Segundo Júnior Hekurari, uma delas é a região de Xitei.

“No Xitei, só 10% da população Yanomami é atendida e nos outros 90% os profissionais são impedidos por garimpeiros que estão no meio do caminho. Tem Força Nacional lá e não pode acompanhar para fazer missões nessas comunidades. Então, a situação Yanomami está voltando ao que era em 2021 e 2022”.

Além da falta de atendimento médico, os indígenas se preocupam com o aumento dos casos de malária no território, de acordo com Dário Kopenawa. A malária é uma das principais doenças registradas na Terra Yanomami, entre adultos e crianças. A doença agrava quadros de desnutrição entre todos.

O procurador da República em Roraima, Alisson Marugal explicou que as demandas dos líderes indígenas são primordiais para o trabalho do MPF e o órgão deve cobrar providências ao governo federal. Ele é autor de diversas ações que cobraram do governo federal a retirada de garimpeiros nos últimos anos.

“É importante que essas lideranças tragam essas informações, subsidiem o trabalho do MPF, que será feito tanto extrajudicialmente, com recomendações, orientações a esses órgãos, articulação ou diálogo com esses órgãos, que estão nessas matérias de saúde e de garimpo, mas também subsidiam o trabalho judicial do Ministério Público Federal”.

Estiveram na reunião a Associação Yanomami do rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA), Associação de Mulheres Yanomami Kumirayoma (AMYK), Associação Ye’kwana Wanasseduume (SEDUUME), Associação Kurikama Yanomami (AKY), Associação Xoromawë e Associação Parawamɨ.
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