Indígenas ainda não enxergam efetividades nas ações do governo federal para a desintrusão de garimpeiros e assistência na saúde em Roraima.
“Eles [garimpeiros] estão vendo a fraqueza do estado brasileiro”, é como Júnior Hekurari, presidente da Associação Urihi Yanomami, avaliou as ações do governo federal para a retirada de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami durante uma audiência do Ministério Público Federal (MPF), no último dia 13, em Boa Vista (RR). A reunião teve a participação de associações indígenas e representantes do governo federal.
Os indígenas reforçaram o pedido de retirada dos invasores e melhorias na saúde no território, que ainda enfrenta casos de malária, desnutrição e, agora, o retorno dos garimpeiros. A audiência ocorreu a pedido da Hutukara Associação Yanomami, a mais representativa do povo.
O território está em emergência sanitária na saúde desde janeiro deste ano. A medida foi decretada pelo governo federal para levar atendimento de saúde aos indígenas e também para retirar garimpeiros da região. Por outro lado, os indígenas ainda não enxergam efetividades nas ações.
“Isso é revoltante! Nas comunidades de Xitei, Parafuri, Parima, retornaram 100% os garimpeiros. A gente não está enxergando esse problema que está chegando de novo. Daqui a pouco eles vão tomar a Terra Indígena Yanomami de novo e impedir de fazer a Saúde nessas comunidades”,
alertou Hekurari.
“Também foram enviados 117 profissionais pelo programa Mais Médicos, sendo 14 para o território Yanomami. Além desses, mais de 700 profissionais de saúde foram mobilizados em todo o território […] O Ministério da Saúde, trabalha para reconstruir a assistência aos indígenas da região após o desmonte dos últimos anos”.
No último fim de semana, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) identificou que garimpeiros voltaram a operar na região conhecida como “garimpo do Rangel”, uma das mais exploradas pelos invasores dentro do território. Lá, foram encontrados até internet via satélite.
Além de organizações de Roraima, a reunião com o MPF reuniu lideranças de associações do Amazonas, onde também há Terra Yanomami demarcada. Representantes do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Yek’uana (Dsei-YY) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também participaram.
Ao MPF e órgãos do governo federal, as lideranças mencionaram que problemas relacionados à crise sanitária e humanitária ainda permanecem no território. Entre eles, citaram:
- Falta de medicamentos e insumos;
- Falta de profissionais da saúde;
- Ausência de bases de proteção territorial;
- Polos de saúde desativados;
- Avanço de casos de malária;
- Entrada de drogas e bebidas no território.
Em setembro deste ano, um relatório do Ministério da Defesa apontou que as áreas atingidas pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami tinha reduzido em 78,51% até então em comparação com o mesmo período no ano passado. Porém, com o retorno dos invasores a situação voltou a preocupar lideranças.
“Os aviões estão pousando livremente sem controle, então, isso a gente está analisando também. Como podemos pensar soluções para resolver o problema do garimpo ilegal que voltou nos últimos quatro meses?”,
questionou Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara.
“No Xitei, só 10% da população Yanomami é atendida e nos outros 90% os profissionais são impedidos por garimpeiros que estão no meio do caminho. Tem Força Nacional lá e não pode acompanhar para fazer missões nessas comunidades. Então, a situação Yanomami está voltando ao que era em 2021 e 2022”.
Além da falta de atendimento médico, os indígenas se preocupam com o aumento dos casos de malária no território, de acordo com Dário Kopenawa. A malária é uma das principais doenças registradas na Terra Yanomami, entre adultos e crianças. A doença agrava quadros de desnutrição entre todos.
O procurador da República em Roraima, Alisson Marugal explicou que as demandas dos líderes indígenas são primordiais para o trabalho do MPF e o órgão deve cobrar providências ao governo federal. Ele é autor de diversas ações que cobraram do governo federal a retirada de garimpeiros nos últimos anos.
“É importante que essas lideranças tragam essas informações, subsidiem o trabalho do MPF, que será feito tanto extrajudicialmente, com recomendações, orientações a esses órgãos, articulação ou diálogo com esses órgãos, que estão nessas matérias de saúde e de garimpo, mas também subsidiam o trabalho judicial do Ministério Público Federal”.