Jaçanã, a ave que ‘anda’ sobre as águas

A jaçanã também surpreende no comportamento. Ao contrário de muitas espécies, a fêmea é maior e domina o território.

Foto: Divulgação/Agência Ambiental Pick-upau

Se você é brasileiro, é bem possível que já tenha ouvido falar do bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo — eternizado na clássica canção ‘Trem das Onze’, de Adoniran Barbosa. Mas poucos sabem que, antes de dar nome a um bairro e à música, Jaçanã é, na verdade, o nome de uma ave de hábitos tão curiosos quanto seu próprio nome.

Conhecida também como aguapeaçoca, cafezinho, casaca-de-couro, marrequinha, menininho-do-banhado, piaçoca, entre outros apelidos regionais, essa ave é uma velha conhecida dos brejos, banhados e margens de rios do Brasil e de outros países da América do Sul.

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Nativa da América do Sul, a Jacana jacana (Linnaeus, 1766) tem um apelido internacional: em regiões da África e da Austrália, espécies semelhantes são conhecidas como ‘Jesus bird‘ — literalmente, “ave de Jesus”, pela incrível capacidade de caminhar sobre as águas, que ela também possui.

Na verdade, ela não realiza nenhum milagre, mas conta com uma adaptação surpreendente: seus pés enormes, com dedos longos e unhas desproporcionais, que permitem distribuir seu peso sobre plantas aquáticas, como a vitória-régia. E assim, desliza por cima das águas como se estivesse sobre o chão.

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O visual da jaçanã é facilmente reconhecível. Mede cerca de 23 centímetros, com corpo de plumagem negra e manto castanho, além de um vistoso bico amarelo com escudo frontal vermelho. As penas das asas se destacam por um tom verde-amarelado, e nos ombros surge um esporão vermelho, usado em disputas territoriais.

Filhote de jaçanã. Foto: Divulgação/Agência Ambiental Pick-upau

Os filhotes, no entanto, parecem pertencer a outra espécie. Nascem com o ventre branco, as costas marrom-acinzentadas e uma faixa branca que percorre desde os olhos até a nuca.

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Fêmea dominadora

A jaçanã também surpreende no comportamento. Ao contrário de muitas espécies, a fêmea é maior e domina o território. Em alguns casos, ela forma verdadeiros haréns de machos, cada um responsável por cuidar dos ovos e dos filhotes.

Sim, é isso mesmo: a mãe põe os ovos e sai em busca de novos parceiros, enquanto o pai assume sozinho a incubação por 28 dias e a criação dos filhotes.

O ninho é uma frágil estrutura flutuante, feita de talos de plantas, e a vida das crias começa com aventura: assim que nascem, já saem caminhando sobre a vegetação aquática, como seus pais.

Mas nem tudo é paz. Fêmeas rivais são implacáveis. Se encontram ovos de outra, não hesitam em destruí-los para abrir espaço para seus próprios descendentes. E o mais curioso: o macho, vítima dessa sabotagem, logo esquece a perda e, muitas vezes, aceita a nova parceira sem cerimônia.

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Logo, apesar de sociáveis em alguns períodos, as jaçanãs são bastante territoriais. Quando se sentem ameaçadas, principalmente as fêmeas, abrem as asas, revelando as penas amarelas e os esporões, enquanto soltam um chamado agudo que soa como uma risada fina e prolongada. Em situações mais tensas, chegam até às vias de fato, trocando bicadas e esporadas com as intrusas.

É uma espécie de ampla distribuição nas Américas e são reconhecidas seis subespécies:

  • Jacana jacana jacana (Linnaeus, 1766) – do Sudeste da Colômbia até as Guianas, Brasil, Uruguai e Norte da Argentina;
  • Jacana jacana hypomelaena (G. R. Gray, 1846) – do Centro e Oeste do Panamá até o Norte da Colômbia;
  • Jacana jacana melanopygia (P. L. Sclater, 1857) – do Oeste da Colômbia até o Oeste da Venezuela;
  • Jacana jacana intermedia (P. L. Sclater, 1857) – na Venezuela;
  • Jacana jacana scapularis (Chapman, 1922) – em terras baixas do Oeste do Equador e no Noroeste do Peru;
  • e Jacana jacana peruviana (Zimmer, 1930) – do Nordeste do Peru e na região adjacente no Noroeste do Brasil.
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