Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
O aumento da intensidade do calor nos grandes centros urbanos do Brasil, especialmente na região amazônica, tem se tornado cada vez mais evidente. Esse agravamento está diretamente relacionado ao fenômeno das ilhas de calor urbanas, caracterizado por temperaturas significativamente mais altas em áreas urbanizadas em comparação com regiões rurais próximas.
Esse efeito ocorre devido à substituição da vegetação por superfícies impermeáveis, como asfalto e concreto, que absorvem e retêm mais calor, além da influência das atividades humanas e da redução dos ventos.
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De acordo com o meteorologista e doutor em Clima e Ambiente pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Leonardo Vergasta, esse fenômeno é resultado direto da atividade humana.
“A acumulação de estruturas como edifícios, calçadas e asfaltos, que absorvem mais calor e energia, aliada à poluição veicular e industrial, à geometria urbana com ruas estreitas e edifícios altos que bloqueiam o fluxo natural do vento, contribuem para esse aquecimento anormal das cidades”, explica o especialista.
Vergasta atua no Laboratório de Modelagem do Sistema Climático Terrestre (LABCLIM), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Ele explica que em Manaus (AM), as ilhas de calor têm se intensificado desde a implementação da Zona Franca (ZFM), acompanhando o aumento populacional e o crescimento desordenado da cidade.
Segundo o meteorologista, a destruição de igarapés, a canalização de leitos, a construção de pistas e viadutos, o uso excessivo de asfalto e a escassez de áreas verdes agravam ainda mais esse cenário.

Aumento da temperatura em Manaus
Um estudo publicado pelos pesquisadores Diego Souza e Regina Célia Avalar, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) em São Paulo, já tinha revelado que entre 1961 e 2010 a temperatura média da capital amazonense aumentou em torno de 0,7ºC. Atualmente, Manaus está cerca de 0,9ºC mais quente em relação a três décadas atrás.
“O aumento do centro urbano, a expansão de edifícios, o crescimento da frota veicular e a falta de espaços verdes são fatores determinantes para esse aquecimento excessivo da cidade em comparação às áreas rurais e florestais vizinhas”, ressalta Vergasta.
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Existe uma solução?
Para amenizar os impactos desse fenômeno, especialistas apontam a necessidade de implementar políticas públicas voltadas ao planejamento urbano sustentável. Dentre as medidas recomendadas, destacam-se:
- Criação de mais parques urbanos e áreas verdes;
- Preservação de rios e canais, garantindo vegetação ao seu redor;
- Incentivo à mobilidade ativa, como transporte público eficiente e infraestrutura para bicicletas e pedestres;
- Adoção de soluções baseadas na natureza, como jardins de chuva e parques drenantes.
Com a adoção dessas iniciativas, segundo o especialista, é possível mitigar os impactos das ilhas de calor e garantir uma cidade “mais equilibrada e preparada” para enfrentar o avanço das mudanças climáticas.