Ibama deflagra Operação ‘Carne Fria’ e autua JBS na Amazônia

Por coincidência, e mais azar do governo de Michel Temer, em pleno turbilhão da operação ‘Carne Fraca‘, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deflagrou no dia 20 de março  outra operação que atinge gravemente a indústria da carne no país, inclusive a JBS, a maior empresa do ramo, dona das marcas Friboi, Seara e Swift. As informações são do O Eco. 

Ninguém combinou, mas o Ibama chamou a sua operação de ‘Carne Fria‘. Nessa ação, autuou 14 frigoríficos no Pará, Bahia e Tocantins que compraram 58 mil cabeças de gado, produzidas em 26 fazendas com áreas embargadas pelo Ibama por  desmatamento ilegal na Amazônia. Dentre os frigoríficos, estavam as unidades de Redenção e Santana do Araguaia, no Pará, pertencentes à JBS.

Foto: Reprodução/JBS
Feitas as autuações, o Ibama estava pronto para divulgar o sucesso da talvez mais técnica operação que já realizou, e uma das mais bem-sucedidas em flagrar grandes infratores. Isso não aconteceu, porque, em seguida, e de Brasília, o governo começou uma operação para tentar abafar a divulgação em nível nacional – vários sites de notícias regionais já publicaram notas a respeito. 

Segundo apurou ((o))eco, Suely Araújo, presidente do Ibama, ensaiou duas vezes convocar uma coletiva de imprensa, mas acabou não indo em frente. A mais formal delas aconteceria nesta sexta-feira (24), em Belém, e seria feita em conjunto com o Ministério Público Federal, que apoiou a operação.

A reviravolta ocorreu porque nem mesmo o Ministério do Meio Ambiente (MMA) estava bem informado sobre a ‘Carne Fria’. Quando o Planalto tomou conhecimento do que estava acontecendo foi cobrar satisfações do Ibama pelo novo desastre de comunicação e tentar adiar a sua publicidade. Tarde demais. A tentativa de conter danos não funcionou porque o Ibama havia avisado sobre a ação a repórteres da Rede Globo e Repórter Brasil.

No meio do inferno astral da ‘Carne Fraca’, da Polícia Federal, a ‘Carne Fria’, do Ibama, é um repique do desgaste que o governo e a indústria estão passando. E, dessa vez, por uma razão muito mais difícil de consertar: destruição de bioma. A operação torna público que pelo menos uma grande exportadora de carne brasileira está comprando animais criados em áreas de desmate ilegal. E áreas de pasto para gado representam cerca de 60% do desmatamento acumulado na Amazônia.

É mais fácil tirar um lote de carne estragada do supermercado do que regenerar partes destruídas da floresta mais famosa do planeta. As unidades da JBS de Redenção e Santana foram autuadas pelo crime ambiental de “adquirir produto de área embargada”, o que significa, no caso, área desmatada fora da lei.

Um ano de preparação

A Carne Fria começou a ser planejada há cerca de um ano, em 2016. Em vez de fiscalização em campo, a operação usou um esforço de inteligência para pegar os infratores. A sua primeira etapa ocorreu em janeiro de 2016, quando o Ibama notificou os frigoríficos a entregar ao instituto os documentos que mostram a procedência do gado que adquirem.

O documento mais importante para a investigação foi o chamado Guia de Trânsito Animal (GTA), usado para controle sanitário, em especial da febre aftosa. De posse do GTA é possível saber qual o percurso do gado, das fazendas que criam e as que engordam até chegar à porta do frigorífico. Os dados dos frigoríficos foram comparados com os fornecidos pela Adepará (Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Estado do Pará). Por sua vez, a Adepará só forneceu esses dados depois de pressionada pelo Ibama e pelo Ministério Público. Uma vez de posse dos dados da indústria e da agência fiscalizadora, o cruzamento apontou os infratores.

Uma consequência da operação do Ibama, segundo apurou ((o))eco, foi a queda do superintendente interino do instituto no Pará, Luiz Paulo Printes, um dos responsáveis por preparar a ‘Carne Fria’. Ele foi destituído do cargo na manhã da quarta-feira (22). Agora, além de fraca, a carne é fria e envolve crime ambiental: mais desmatamento na Amazônia.

Ibama

Procurado, o Ibama negou ter havido cancelamento de entrevistas a respeito da ‘Carne Fria’. Afirma que a operação ainda durará cerca de 15 dias e que divulgará nota com informações oficiais. Os resultados ainda seriam parciais.

JBS 

Procurada, a empresa negou ter comprado de fornecedores irregulares. Eis a íntegra da nota recebido pelo ((o))eco (*a nota foi atualizada pela empresa às 18h do dia 23):

“A JBS reitera que não comprou e não compra nenhum animal de fornecedores incluídos na lista de áreas embargadas do Ibama e vem cumprindo integralmente o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), assinado com o Ministério Público Federal do Pará em 2009.

A Companhia não é e não pode ser responsabilizada pelo controle e movimentação de gado de seus produtores. A empresa não tem acesso a Guia de Transito Animal (GTA) – documento de posse e de uso exclusivo do governo -, único responsável pelo controle de trânsito animal. Dessa maneira, é um absurdo que o Ibama queira imputar à indústria frigorifica a responsabilidade por garantir esse controle.

No que é de sua responsabilidade, a JBS trabalha com um sistema de monitoramento sofisticado com imagens de satélite e análise de documentos públicos. Fornecedores irregulares são imediatamente excluídos. Nas três últimas auditorias independentes, a JBS obteve mais de 99,9% de conformidade com critérios socioambientais aplicados à compra de gado”.

Ministério da Agricultura

O Ministério da Agricultura informou, por meio de sua assessoria de comunicação, não ter conhecimento da operação Carne Fria.

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