Foto: Reprodução/Agência Brasil
Secas, queimadas e desmatamento fazem com que florestas absorvam mais água do solo como forma de sobreviver, tornando esses ambientes mais secos, suscetíveis ao fogo e diminuindo as chuvas nas regiões próximas. Os dados foram divulgados no artigo ‘Secas amplificam perdas de umidade do solo em florestas queimadas do Sudeste da Amazônia’, fruto do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD), projeto do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) realizado na Estação de Pesquisa Tanguro, que estuda as interações entre natureza e áreas agrícolas na fronteira entre Cerrado e Amazônia.
O artigo detalha como florestas enfraquecidas por queimadas e um clima adverso liberam menos água na atmosfera, o que pode deixar o regime de chuvas mais imprevisível, aumentando a temperatura e prejudicando a produção agrícola na região. As alterações ecossistêmicas afetam os serviços naturais desempenhados pelas florestas e impactam os modos de vida tradicionais dos povos e comunidades dessas áreas.
“Entendemos que conservar a dinâmica natural da umidade do solo é conservar as florestas e as chuvas no futuro. As comunidades amazônicas, por exemplo, podem sofrer com clima mais quente e insegurança alimentar devido ao aumento da probabilidade de incêndios em seus lares. Sem estabilidade de chuvas, a agricultura brasileira, que é 90% de sequeiro [que depende das chuvas] ficará ainda mais comprometida”, explica o pesquisador do IPAM Antonio Carlos Silveiro, um dos autores do estudo.
Pesquisa de longo prazo
O início da pesquisa se deu em 2010, a partir da implantação de sondas em poços de até nove metros de profundidade para monitorar a dinâmica da umidade do solo em duas florestas queimadas: uma anualmente e a outra a cada três anos, entre 2004 e 2010, e uma floresta intacta. A ideia foi analisar como a umidade do solo responderia a este crescimento da vegetação pós-incêndio.
“Como não havia muita vegetação nas duas parcelas queimadas, esperávamos que ocorresse um acúmulo de umidade no solo sob essas parcelas. Para nossa surpresa, não houve”, relata Silveiro.
Ainda, observou-se que a redução da umidade no solo durante a seca de 2015 foi mais severa nas partes queimadas com mais frequência. “Nas parcelas onde está ocorrendo a recuperação foi onde a redução da água foi intensificada. Uma das implicações desses resultados é que as florestas em fase de recuperação podem sofrer mais com a recorrência desses grandes eventos de estiagem”, completa.
Para Silveiro, o estudo reforça a necessidade de parar o desmatamento para que o fluxo de umidade atmosférica se mantenha e recarregue a água no solo. Tanto as florestas — em recuperação e as intactas — quanto às áreas agrícolas, que também dependem da estabilidade desse fluxo de água.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo IPAM, escrito por Mariana Abuchain