Floresta Amazônica. Foto: Reprodução/Polícia Federal
A Floresta Amazônica, maior floresta tropical do mundo, passa por um processo de transformação devido ao avanço do desmatamento, e dos efeitos das mudanças climáticas globais. Esse processo ameaça levar o bioma a um ponto onde o retorno se torna inviável, e a floresta pode colapsar, perdendo sua capacidade de regular o clima, armazenar carbono e manter a biodiversidade.
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Segundo o doutor em geografia Deivison Molinari, professor na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), é fundamental compreender que as mudanças climáticas não são um fenômeno recente, mas assumiram características distintas a partir da ação humana.
“Na Terra já acontecem mudanças climáticas antes do ser humano surgir, como as atividades vulcânicas, a separação dos continentes e as glaciações, vistas nos filmes da Era do Gelo. No entanto, as mudanças climáticas que estão sendo discutidas hoje referem-se ao que o ser humano tem interferência, sobretudo por duas variáveis: a demanda de recursos naturais e o processo de industrialização”, explicou o professor.
De acordo com Molinari, a demanda de recursos naturais como a água, energia e combustíveis fósseis para a mobilidade de carros, além do processo de industrialização com o uso de combustíveis fósseis, carvão e petróleo, vão determinar muitos impactos negativos ao clima.
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O papel da floresta
A Amazônia, apesar de ser uma floresta do Brasil, cumpre funções vitais para todo o planeta. Os chamados ‘rios voadores’, massas de vapor d’água transportadas pela atmosfera, garantem chuvas que irrigam desde o Centro-Sul do Brasil até outras partes da América do Sul, mantendo um equilíbrio climático.

Com o desmatamento esse ciclo é interrompido, já que menos árvores significam menos evapotranspiração, resultando na redução de chuvas e no aumento da temperatura.
“A Amazônia tem um papel muito importante, pois boa parte das chuvas que ocorrem no sul e no sudeste brasileiro vem da região. Se desmatar a Amazônia, menos umidade será levada para outras regiões do mundo, o que afeta o globo”, afirmou Molinari.
Os impactos locais e imediatos
Além das mudanças globais, o desmatamento também traz efeitos negativos para as pessoas, já que cidades como Manaus (AM) já enfrentam ondas de calor mais intensas, ilhas de calor urbano e a diminuição das áreas verdes.
Além disso, a redução da floresta modifica o regime de chuvas, prolonga o período seco e aumenta a ocorrência de queimadas.
“Há poucas áreas verdes, poucos fragmentos e o calor é muito grande. Há uma relação direta entre o clima e o desmatamento em grande e em pequena escala”, afirmou o professor.

Um estudo publicado na Nature Communications analisou dados de 35 anos (1985–2020) para medir os impactos combinados das mudanças globais e do desmatamento sobre a Amazônia.
Os resultados mostram que a cobertura florestal caiu de 89,1% para 78,7% no período, as pastagens aumentaram de 4,2% para 14,8%, a temperatura máxima do ar subiu em média 2 °C, sendo 83,5% desse aumento atribuídos ao aquecimento global e 16,5% ao desmatamento, a precipitação na estação seca caiu 21 mm e em regiões onde mais de 28% da floresta foi derrubada, a estação seca já dura cinco semanas a mais do que em 1979.
Se esse limite for ultrapassado, a floresta úmida pode se converter em um ecossistema mais seco, semelhante ao Cerrado ou à Caatinga, e atingir uma perda irreversível de biodiversidade.
Efeito dominó
O cientista Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em seu estudo sobre ‘As mudanças climáticas globais e a floresta Amazônica’ também alerta para os riscos das interações entre o clima e o desmatamento, destacando que a redução da densidade da madeira, a morte de árvores por estresse hídrico e a liberação de carbono do solo aumentam a vulnerabilidade da floresta.
Caso atinja uma situação extrema, existe um risco de um ‘efeito estufa fugitivo’, em que o processo de aquecimento global escaparia do controle humano.
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De acordo com o estudo, se a trajetória atual não mudar, até 2035 a Amazônia pode registrar:
- Aumento de 0,62 °C na temperatura máxima;
- Redução de 7,3 mm nas chuvas da estação seca;
- Liberação crescente de dióxido de carbono (CO₂) e metano (CH₄).
Isso compromete não só a floresta, mas também setores da economia, como a agricultura, que depende das chuvas mantidas pela floresta, e a produção de energia hidrelétrica, ameaçada pela redução da vazão dos rios.
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Meios de preservação
O climatologista e catedrático do Instituto de Estudos Avançados da USP, Carlos Nobre, durante sua apresentação na SciBiz Conference 2025, destacou no painel ‘Amazônia e a busca de soluções para evitar o ponto de não retorno’ as possíveis soluções para se evitar atingir o limite.
O primeiro passo é zerar o desmatamento, especialmente em áreas de floresta intacta, ao mesmo tempo que é preciso investir na restauração de áreas degradadas, para recuperar o ciclo hidrológico e aumentar a resiliência do bioma.
Além disso, também é necessário fortalecer o papel dos povos indígenas e comunidades tradicionais, reconhecidos como os principais guardiões da floresta.
