Foto: A C Moraes – Creative Commons
Os cursos d’água fazem parte da vida humana desde os primeiros assentamentos, desempenhando funções de abastecimento, transporte, alimentação e equilíbrio ecológico. No Brasil, é comum ouvir falar de rios como o Amazonas, o Negro ou o São Francisco, mas em diferentes regiões também aparecem denominações locais e únicas, como igarapé, córrego e arroio. Essas palavras despertam dúvidas sobre o que diferencia cada termo e em quais contextos são usados.
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Em específico, a distinção entre arroio e rio é um exemplo claro. Embora ambos sejam cursos naturais de água, apresentam diferenças relacionadas ao porte, à extensão e até ao uso cultural da nomenclatura em diferentes regiões do país.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, a palavra arroio é largamente utilizada, enquanto em outras regiões se fala em córrego ou riacho para designar cursos menores.
Mas afinal, o que é um arroio?
Comumente chamado de igarapé na Amazônia, alguns podem dizer que igarapé e arroio são as mesmas coisas em regiões diferentes do Brasil. O pesquisador doutor pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Rogério Marinho, em entrevista ao Portal Amazônia, destacou que os termos são usados em diferentes partes do país:
“Ambas expressões, arroio e igarapé, tratam de curso d’águas, só que com aplicações geográficas diferentes. Então, enquanto o igarapé é mais utilizado na região Norte, principalmente na Amazônia, arroio é muito utilizado mais no Sul do país. Assim como o córrego é mais usado para a região Centro-oeste do país. Então são expressões bem pontuais de cunho para caracterizar o curso d’águas, mas que têm suas peculiaridades linguísticas dependendo da região que se falam”.
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Arroios têm funções importantes, como escoar a água da chuva, recarregar lençóis freáticos, sustentar a fauna e a flora locais e alimentar rios maiores. Em áreas urbanas, no entanto, sofrem impactos do assoreamento e da poluição. O Arroio do Salso, em Porto Alegre, por exemplo, percorre quase 93 km² da capital gaúcha e enfrenta problemas de degradação da qualidade da água por causa do esgoto doméstico.
O que é um rio?
Já o rio é um curso de água de maior porte, que pode atravessar extensas áreas geográficas e receber a contribuição de diversos arroios, igarapés e córregos. Normalmente, possui maior profundidade, largura e volume de água, servindo como artéria principal de uma bacia hidrográfica.
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O Brasil possui alguns dos maiores rios do mundo, como o Rio Amazonas, que chega a ter mais de 1,5 km de largura em determinados trechos, e o Rio São Francisco, que percorre mais de 2.800 km pelo território nacional.
Os rios podem ser navegáveis, servir para geração de energia elétrica, irrigação, pesca, transporte e consumo humano em larga escala.
Diferenças entre arroio e rio
Assim, as principais diferenças entre arroio e rio estão no tamanho e na capacidade de drenagem. Enquanto o arroio é pequeno, muitas vezes sazonal e limitado a áreas específicas, o rio é extenso, contínuo e de maior importância na rede hidrográfica.
Outra distinção está, portanto, no vocabulário regional. O termo arroio é comum no Rio Grande do Sul, enquanto em estados do Sudeste e Centro-Oeste o mais frequente é córrego ou riacho. No Norte do Brasil, sobretudo na Amazônia, predomina o uso de igarapé para designar cursos menores, que cumprem função semelhante à de um arroio. Já para grandes cursos d’água, como o Negro, o Madeira ou o Tapajós, a designação é sempre rio.

Segundo a Dra. Yara Schaeffer-Novelli, pesquisadora do Instituto de Oceanografia da USP, há diferença entre rio, riacho, arroio e termos semelhantes:
“Córrego e arroio são sinônimos. O termo ‘arroio’ é frequentemente usado no Sul do Brasil. Refere-se a um curso de água maior que um ‘regato’ e menor do que uma ‘ribeira’”.
Do ponto de vista ambiental, os arroios cumprem papel complementar aos rios, funcionando como pequenos canais de alimentação e drenagem. Quando preservados, ajudam a evitar enchentes e a manter a biodiversidade. Quando degradados, podem comprometer a qualidade da água dos rios que alimentam.
Importância da gestão
Compreender a diferença entre arroios e rios é fundamental para a gestão dos recursos hídricos. Enquanto rios exigem políticas de escala regional ou nacional, arroios pedem cuidados locais, muitas vezes relacionados ao planejamento urbano, ao tratamento de esgoto e à preservação das matas ciliares.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, estudos de bacias hidrográficas têm mostrado como a impermeabilização do solo aumenta a pressão sobre os arroios, reduzindo a infiltração da água e elevando os riscos de enchentes. Já na Amazônia, rios e igarapés desempenham papel vital não só no equilíbrio ecológico, mas também no transporte de populações ribeirinhas e na economia local.
O pesquisador Philipp Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas sobre a Amazônia (INPA), também já abordou sobre a importância dos rios da Amazônia para a população que vive na região, principalmente em função dos fenômenos de seca e cheia.
“Os rios são o único meio de acesso em muitas partes da Amazônia. Com a queda dos níveis, algumas comunidades ficaram isoladas, levantando preocupações sobre um desastre humanitário”, destacou.
