Desmatamento e manejo florestal: entenda a diferença entre as duas formas de extração de madeira

A transformação de áreas verdes em pontos amarronzados em imagens de satélites produzidas por órgãos de monitoramento demonstra o crescimento do desmatamento no Brasil, um grave problema causado pela indústria ilegal de grãos, madeira e gado na Amazônia, bioma que além de ser um dos mais ricos do mundo em biodiversidade, abriga milhares de comunidades ribeirinhas e indígenas.

Existe, entretanto, um modo sustentável de extrair madeira da floresta amazônica e que também serve como importante fonte de renda a essas populações, que são historicamente desassistidas pelo poder público.

Foto: Divulgação/Instituto Mamirauá

Conheça as principais diferenças entre o desmatamento e o manejo florestal:

O desmatamento é a devastação da floresta para indústria madeireira ilegal, abertura de pastagens para criação de gado ou cultivos agrícolas de monocultura. Tecnicamente, é denominado de ‘corte raso’.

Os efeitos do corte raso são muitos e atuam como efeito cascata: põe sob risco a qualidade do solo e da água, além da fauna e flora. Os desequilíbrios causados nos ecossistemas implicam em intensificação do aquecimento global e, por consequência, seus efeitos.

“O desmatamento é a subtração total da floresta e quando isso acontece toda a diversidade biológica daquela área é extinta”, explica a engenheira florestal do Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Mamirauá, Emanuelle Pinto.

Por outro lado, o manejo florestal é, como explica a técnica, uma forma ordenada de utilizar a floresta. É regulamentado por legislações federal, estaduais e, em alguns casos, municipais.

“Tudo é feito por etapa”, diz. A primeira é o inventário florestal, que determina as espécies, as quantidades e a produtividade da floresta.  Após esse levantamento, estipula-se outros critérios para a seleção de corte das árvores.

Um deles, por exemplo, é a manutenção de 10% do número de árvores por espécie com diâmetro mínimo de corte, sendo respeitado o limite mínimo de 3 árvores por espécie por 100 hectares. O diâmetro de corte do assacu (Hura crepitans), por exemplo, é de 100 cm. Menor que isso não é permitido o corte. Se são encontradas 30 árvores da espécie com a especificação, três devem ser mantidas.

Outro parâmetro seguido é a diversidade de espécies na extração de madeira. “Fazer o manejo de uma única espécie exerce muita pressão sobre aquela população, então quanto mais diverso for o manejo, melhor a capacidade de recuperação da floresta após um distúrbio.”

Para o manejo acontecer, um plano de manejo florestal é elaborado com base em pesquisas realizadas com o objetivo entender as características biológicas e socioeconômicas da região onde deverá ser implementado.

O plano também prevê técnicas adequadas de corte, o que previne o excesso de danos à floresta, o desperdício de madeira. Também inclui a utilização de equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs.

Foto: Divulgação/Instituto Mamirauá

Fonte de renda e manutenção da biodiversidade

“O manejo florestal é uma fonte importante de renda e uma forma legalizada de utilizar o recurso da floresta.  Sem fazer esse plano, será que eles vão deixar de fazer essa extração? ”, questiona Emanuelle, que complementa e ressalta: “é importante que eles usem o recurso de forma legal. ”

Por ser uma prática de extração alternativa e também por envolver as populações tradicionais, principais zeladoras da Amazônia, o manejo também serve como ferramenta de combate ao desmatamento e assim colabora para a manutenção da biodiversidade de uma das principais florestas do mundo.

Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Mamirauá

O Programa de Manejo Florestal Comunitário do Instituto Mamirauá, organização social do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), realiza capacitação, assessoria, monitoramento e pesquisas em manejo florestal na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada na região do Médio Solimões, no estado do Amazonas.

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